O físico norte-americano Julius Oppenheimer dirigiu e teve participação relevante no Projeto Manhattan, em que foi desenvolvida a bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial. Ao assistir à primeira detonação de uma arma nuclear, o cientista só então pareceu se dar conta de seu enorme potencial destrutivo; falou então uma frase do texto hindu Bhagavad-Gita: “agora me tornei a Morte, a destruidora de mundos”. Não foi uma comemoração arrogante, e sim a expressão do horror que havia sido criado.
Numa demonstração de que a estupidez humana não tem limites, Oppenheimer foi destituído em 1952 da presidência da Comissão para a Energia Atômica dos Estados Unidos, para a qual havia sido eleito em 1947. A caça às bruxas do senador McCarthy o acusou de comunista, o que havia deixado de ser há mais de vinte anos.
Até há alguns anos o mundo parecia regido pela lógica newtoniana, em que tudo obedecia a leis rígidas e imutáveis, e o conhecimento científico parecia exato e determinado. Atualmente, e principalmente após os estudos de Einstein, que além de propiciar a bomba atômica também ajudou a destruir uma séria de conceitos, mostrando que tudo era relativo, ou seja, está em relação ao observador, mudamos a antiga visão de que poderíamos compreender o todo compreendendo cada uma de suas partes, pois hoje sabemos que a dinâmica de cada uma das partes apenas pode ser compreendida a partir da dinâmica do todo. Isso significa que cada parte representa um padrão na teia das relações, uma rede sem hierarquia nem alicerces.
Assim, nenhuma certeza pode ser absoluta ou definitiva, todas são aproximadas, e a ciência nunca fornecerá compreensão completa de todos os fenômenos, existe estranheza quântica demais por aí, um número grande demais de experimentos que mostram o mundo objetivo, que aparentemente corre para a frente no tempo como um relógio, no qual a ação à distância, especialmente ação instantânea à distância não seria possível, e que aparentemente uma coisa não poder estar em dois ou mais locais ao mesmo tempo, constituem somente ilusão de nosso pensamento.
Principalmente a cultura ocidental, que sempre aceitou como verdade científica que vivemos em um mundo puramente material, no qual tudo é concreto, e onde desejamos um carro maior, entretenimento e bens tecnológicos e no qual necessidades espirituais não passam de lendas.
Embora muitos se considerem religiosos, são adeptos de um egoísmo institucionalizado, onde apenas aqueles que pensam exatamente de forma igual são “cidadãos de bem”, e todos os outros merecem a censura, quando não agressão e morte.
A ciência tem demonstrado que o universo é “autoconsciente” e que é a própria consciência que cria o mundo físico, com pesquisadores afirmando que antes de ser constituído por átomos, ele é constituído por consciência, e por isso garantem que o ser humano é regido por uma hierarquia de necessidades: logo que atende as básicas de sobrevivência, adquire condições de lutar para satisfazer as de nível mais alto, entre elas a de natureza espiritual: o desejo de auto individuação, de conhecimento de si mesmo no nível mais profundo possível.
Até nossos dias é discutida a validade de criar e usar a energia nuclear para finalidades militares, os defensores da “bomba” dizem que se não tivesse sido feita pelos “aliados” o seria pelos nazistas ou japoneses, afirmam também que a detonação desses artefatos em Hiroshima e Nagazaki apesar de ter causado centenas de milhares de vítimas encurtou a guerra em pelo menos dois anos e poupou milhões de outras pessoas.
A irracionalidade das guerras traz este tipo de afirmação e nos coloca numa encruzilhada, saber o que teria sido “melhor” quando envolve vidas humanas: milhares ou milhões? A questão não tem resposta satisfatória, Stalin disse que o assassinato de uma pessoa é crime, de mil pessoas é estatística, o que parece definir de algum modo o dilema moral da Ciência: qual é o limite entre o crime e a estatística? Experiencias com animais, que podem levar ao desenvolvimento de medicamentos ou vacinas, podem ou devem ser feitas e de que maneira? A quem poderia caber a decisão sobre explorar ou preservar o meio ambiente quando está em jogo a produção de alimentos?
Ciência não prescinde consciência, e como isso tem sido difícil para nós seres humanos…
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.