Cinema e educação

Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

Estamos felizes com o reconhecimento de nosso cinema e a capacidade de contar boas histórias – principalmente quando verdadeiras – e contar com excelentes atores e atrizes. Este é um recurso poderoso de disseminação da cultura, e a alegria de que alguns prêmios de escala planetária tragam visibilidade a esta forma de arte brasileira é significativa inclusive para as instituições escolares.

“Fazer cinema” sempre foi considerado caro e exigente de muita tecnologia e complementos, por isso teve pouco desenvolvimento na seara educativa, principalmente no Brasil, onde a verba das escolas costuma ser muito pequena.

O ensino regular nas escolas públicas, e salvo exceções mesmo nas particulares, costuma ser carente de bons laboratórios, inclusive nas disciplinas obrigatórias como Física, Biologia ou Química entre outras, apesar das solicitações de docentes preocupados com a ausência de aulas práticas e cientes da diferença que fazem num bom processo educativo.

Como arte visual, é preciso lembrar que um filme faz representações da humanidade, com personagens que teoricamente mostram um realidade, mesmo que esta seja imaginaria, mas ao assistir estamos sempre tentando entender o que as imagens “querem dizer”, o que aquele que o fez pretendia nos transmitir com o seu trabalho.

Filmes em cinemas ou vídeos nos fazem pensar, e este recurso é precioso para despertar consciências, pois desde o cinema mudo, pura poesia, não exclusivamente intelectual, nos toca a emoção e outros sentimentos.

E foi desde esse período do aparecimento do cinema, ainda sem que os personagens tivessem “voz”, manifestando-se por meio de músicas ou pequenos trechos escritos que permeavam a situação retratada, se fez claro o interesse pela dimensão educativa de seus vários gêneros.

Afinal o cinema incorpora a dimensão formadora de todas as formas de arte, e esta cumpre, tanto na educação formal quanto informal, a função de propagadora da cultura, decisiva principalmente entre a juventude; e o uso sistemático em sala de aula, mediados por professor atento e interessado,  constitui-se em ato comunicativo dentro de  uma  metodologia  de  ensino,  aplicado ao domínio específico de um conhecimento.

Conforme o pensador da área de educacional Edgar Morin declarou:

“O filme é detentor de algo equivalente a um condensador ou a um agente de participação que lhe mine com antecedência os efeitos. Na medida, pois, em que ele executa, por conta do expectador, toda a parte de um trabalho psíquico, dá-lhe satisfação com o mínimo de despesa. Faz uma máquina de sentir auxiliar. Motoriza a participação. É uma máquina de projeção-identificação.”

Provocar reflexão, distinguir o que é ficção do que é realidade, verdadeiro do falso, fatos de suas intepretações,  afeta também outras formas artísticas, que sempre trabalharam  as formas pelas quais um se transforma no outro, e a quase impossível ideia de equivalências entre real e virtual.

Nem sempre é simples propor projetos de arte cinematográfica ou de produção de vídeo dentro de uma escola, até por que nem sempre apenas o professor de Artes poderia fazê-lo mas isso seria possível em qualquer disciplina.

Quando o cinema passa a compor as práticas educativas ele se torna uma mídia indispensável e um suporte pedagógico para trabalhar conteúdos de forma mais atrativa. Aumenta o repertório de professores, crianças e adolescentes, educando-os para o pensamento crítico.

Educar o olhar é também uma forma de auxiliar os alunos a alcançar uma visão melhor, mais crítica, emancipada ou liberada; permite abrir os olhos, estar mais consciente daquilo que acontece no mundo, esclarecer como perspectivas e posições específicas alteram a consciência e a perceber  a  perspectiva  dos  demais.  Educar  o  olhar permite consciência e melhor compreensão não apenas da vida de nossa comunidade, mas de todas as demais.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.