Convivendo com crianças, percebe-se que são indicadores legítimos de microcosmos científicos e tecnológicos, e ainda que pareçam refletir opiniões de mais velhos com quem convivam, é notável como as enriquecem com elementos, por vezes surpreendentes, de sua própria personalidade e visão particular de mundo.
Professores realmente interessados em sua profissão e nos seus alunos não tardam a compreender que para passar às crianças e adolescentes conceitos e bases da ciência, é importante entendê-los e ao universo de conhecimento em que já habitem, para então construir diálogos sobre novos conhecimentos.
Um tema de interesse praticamente comum a todas as crianças são os dinossauros, animais imensos e poderosos. Um exemplo vem das tiras do americano Bill Watterson, “Calvin e Haroldo”; Calvin é um menino de seis anos, inteligente e com a imaginação desatada, tem alguns problemas de relacionamento e só se comunica de verdade com Haroldo, seu tigre de pelúcia em quem projeta parte importante da própria personalidade. No ambiente escolar Calvin tem problemas de déficit de atenção, por não se interessar realmente pelos temas de estudo e habitar mundos interiores praticamente o tempo todo; um de seus maiores interesses são dinossauros, chega a surpreender seus pais pelo nível de conhecimento que tem sobre o assunto, mas na sua escola não se fala de dinossauros, o que talvez pudesse ser porta de entrada para outros tópicos.
Até mesmo antes de entrarem em escolas, crianças tem naturalmente curiosidade e até um certo deslumbramento sobre o mundo, e a teoria da evolução transformou a maneira como toda a humanidade o percebe. Questões como a conservação da biodiversidade, a extinção de animais, a preservação das florestas, as consequências do uso indiscriminado de remédios, faz com que a teoria evolutiva seja um dos principais sustentáculos de nossa compreensão do planeta.
Em que pese os conceitos científicos serem ensinados atualmente na maioria das escolas, as concepções e as percepções das pessoas têm sido no mínimo surpreendentes, embora o desenvolvimento de atividades de divulgação tecnológica para o público infantil seja estratégico para o desenvolvimento do país. A curiosidade, característica inerente, faz com que o ensino e a divulgação da ciência para esse público sejam facilitados, levando a uma geração mais apta para futuras profissões inovadoras e um entendimento melhor do mundo do trabalho.
No entanto, incorporar os preceitos da teoria da evolução muitas vezes não é simples até mesmo para adultos, pois a interpretação de muitas das evidências evolucionárias, como fósseis, animais com estruturas adaptativas diferentes em locais distintos, não costumam ser exatamente intuitivas e muitas vezes desafiam o senso comum, o que faz com que famílias costumem deixar este assunto apenas para o sistema escolar.
Por volta dos dez anos os jovens já possuem capacidade cognitiva para discutir temas relacionados, entendem e opinam sobre algumas questões como diversidade, classificação das espécies e tempo geológico da Terra. Tempo geológico inclusive é tema que sofre muitas influências das múltiplas religiosidades, principalmente no Brasil onde um levantamento mostrou que 31% dos brasileiros acreditam que o homem foi criado por Deus nos últimos 10 mil anos e já na sua forma atual, e uma esmagadora maioria de brasileiros entrevistados pensam que o criacionismo deveria ser ensinado nas escolas e substituir a teoria da evolução no currículo escolar. Isso, em números similares, é o que também acontece nos Estados Unidos, principalmente em algumas regiões fora dos grandes centros.
Embora fascinados, poucos jovens sabem como dinossauros surgiram, como viveram e se alimentaram, quando ou porque foram extintos; a maioria dos estudantes acredita que os dinossauros e os seres humanos pré-históricos viveram no mesmo período.
Evidentemente mensurar o tempo geológico é complexo, docentes necessitam material explicativo que facilitem a “visualização” da escala, e poucos museus brasileiros contam com a possibilidade de que o estudante veja claramente, através de esqueletos remontados e material gráfico o tamanho, que por si só facilita a percepção da impossibilidade de convivência com os humanos.
De todo modo, é saudável a preocupação e o interesse acerca de quem veio antes de nós, Arqueologia e História, e do que veio antes de nós, Geologia e Paleontologia. Ciência sempre.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.