Nossos tempos são de mudança como talvez a humanidade nunca tenha enfrentado. Há pouco mais de cem anos o mundo vivia uma realidade praticamente agrícola e rural, com poucas exceções em alguns países mais desenvolvidos industrialmente, mas mesmo nesses a indústria e ferrovias eram “movidas a vapor”, a comunicação se fazia por linhas de telégrafo e o telefone era mais uma curiosidade, o veículo com motor de explosão servia como símbolo de riqueza antes de ser um meio de transporte. A expectativa média de vida da população não atingia quarenta anos.

Durante o século vinte o avião passou da quase pandorga de Santos Dumont aos jatos que levam milhões de pessoas ao redor do mundo em horas, e também matam outros milhões em guerras estúpidas. As condições sanitárias melhoraram a um ponto inimaginável a nossos avós, embora ainda não beneficiem integralmente a todos. Avanços na medicina, nas vacinas, nos antibióticos, na produção de alimentos tornaram viável que a vida média da população esteja beirando os setenta anos.  

Os meios de produção e o trabalho também mudaram radicalmente, as novas tecnologias informatizadas parecem ter dispensado o labor humano restringindo-o a poucos especialistas. Vivemos as dores do nascimento deste nem tão admirável mundo novo, e o sentimento geral é de inutilidade e desesperança.   

Pesquisadores tem como consenso que a juventude brasileira passa, nos dias atuais, por certa combinação de fatores, envolvendo desde uma crise de empregos e trabalhos, que muda a previsão tradicional de aposentadorias futuras e tranquilidade financeira, até o crescendo de violências em todas as instâncias sociais, visível nas declarações estapafúrdias e agressivas de nossos dirigentes federais e estaduais, e tudo isso representa uma transição extremamente complexa que altera muitas perspectivas da atual geração que ingressa no mundo do trabalho.

Nos grandes centros urbanos em especial a violência parece assumir características epidêmicas, e a desigualdade social ao lado do crescimento desordenado das cidades, as moradias em condições sub-humanas, o transporte coletivo insuficiente, a produção desenfreada do lixo sem adequado tratamento, os diversos tipos de poluição, a educação de baixa qualidade e muitas vezes não inclusiva afetam diretamente aqueles ainda em fase de formação.

O conceito de Bem Estar e Felicidade, que manteve-se quase inalterado nas décadas anteriores sofre hoje profunda alteração, e quanto tentamos realizar uma análise da sociedade contemporânea, bem como dos desafios de continuar o grande progresso que a ciência e tecnologia recentes proporcionaram, de uma maneira que atenda as exigências e necessidades não somente do meio ambiente mas também de um comportamento mais ético, torna-se evidente que compreender a real responsabilidade que o desenvolvimento científico e tecnológico moderno e contemporâneo precisa assumir está em grande parte contido nas questões da sustentabilidade.

É a sustentabilidade o grande foco que precisaria estar norteando os procedimentos empresariais, industriais, comerciais e de inter-relacionamentos, de forma a não prejudicar a natureza, e por extensão as condições de vida dos descendentes de humanos e animais.

Permitir que a ciência e a racionalidade possam solucionar grande parte dos problemas de nosso estágio civilizacional, separando conhecimento científico de crença religiosa, com a redução, gradual e firme, das disparidades entre as várias comunidades, a concretização do potencial brasileiro e a consolidação de uma democracia efetiva, em um cenário mundial instável, violento, e imprevisível tornou-se urgente.

Embora sejamos um grande produtor de alimentos somos um dos países assolados pela fome, e o combate a esta mazela deveria ser obrigação do Estado e de todos, afinal é norma constitucional. No entanto, para isso deveríamos diminuir a concentração de renda e terras, e principalmente melhorar nosso sistema educacional, garantindo a redução da pobreza, da insegurança alimentar, da mortalidade materno-infantil.

A criação de empregos e a melhoria dos serviços de saúde deveriam constituir prioridades, porém a polarização de posicionamentos políticos e ideológicos na qual ainda estamos imersos contamina qualquer projeto de sociedade para um funcionamento minimamente eficiente, pelas divergências dos interesses econômicos, culturais e políticos.

Assistimos ao colapso dos recursos naturais, com uma devastação sem precedente de nossas florestas, o avanço do garimpo ilegal que mata peixes e prejudica a vida e a saúde das populações ribeirinhas, e tudo isso foi agravado pela recente pandemia.

Um dos grandes problemas vindos em função da COVID-19 foi a deterioração da já frágil situação fiscal do país, temos estimativas de que o país experimentará o maior déficit fiscal de sua história, e que profissionais de saúde, que trabalham em ambientes estressantes tiveram aumentados os riscos de segurança no local de trabalho, incluindo o de ser infectado, o acesso limitado a equipamentos de proteção individual e outras medidas de prevenção e controle de infecção, serão insuficientes caso tenhamos nova onda infectante.

O maior desafio do pós-pandemia no Brasil será fechar a equação para o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS), cujas deficiências estruturantes estão no plano da organização macro e microeconômicas, e no risco constante de cortes de recursos.

Apesar disso, presente e futuro mostram-se promissores para a empregabilidade e o empreendedorismo no setor industrial de ponta, mudanças sempre podem parecer ameaçadoras, mas nesse caso do processo podem trazer otimismo. A chamada Quarta Revolução Industrial, também conhecida como Indústria 4.0, abrange um amplo conjunto de tecnologias avançadas como a inteligência artificial, a internet das coisas, computação em nuvem, robótica, e a tão aguardada entre nós tecnologia G5. As formas de produção e modelos de negócio mudarão de forma rápida, já estão mudando. Customização, inovação, eficiência, criatividade, serão cada vez mais importantes para a indústria, para os empregos, para o bem-estar de todos nós. A tecnologia de informação e as áreas de produção se integram e se integrarão cada vez mais, um grande desafio é preparar adequadamente as atuais e futuras gerações para este mundo do trabalho.

Robert Steven Kaplan, professor de Harvard, diz que o sucesso profissional ou pessoal depende bastante de autoconhecimento: uma boa noção de nossas habilidades, potencialidades, limitações, inseguranças ou desagrados. Embora todos tenhamos aspectos limitantes, a percepção real de nós mesmos, que envolve certa coragem na análise das características adequadas ou inadequadas de nossos comportamentos, desejos de autonomia ou até de incapacidade de tomada de decisões, processo de raciocínio, percepção, sensação e emoções, com certeza auxiliam nosso percurso profissional ou mesmo nos relacionamentos pessoais. Cada ser tem o que se pode chamar de uma visão de mundo, apoiada nas diferentes áreas de seu desenvolvimento educativo, noções de ética, núcleo social básico, influência cultural. Algumas auxiliam no mundo do trabalho ou das relações interpessoais, outras interferem negativamente na percepção dos demais sobre nossas características. Aprender sempre é fundamental.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.