Dirigentes e dirigidos

Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

O historiador britânico John Acton notabilizou-se pela frase: “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus”.

Pode-se acrescentar que além de corromper o poder enlouquece e os chamados grandes homens são quase sempre loucos, de acordo com a Associação Psiquiátrica dos Estados Unidos que tem alertado seu público sobre o fato de que uma boa parte dos atuais governantes em escala global não tem sido apenas fracos (Biden), mas decididamente insanos (Trump).

Luís Vaz de Camões, considerado uma das maiores figuras da literárias de Portugal, nos alertava, no seu poema épico Os Lusíadas, que “o fraco rei faz fraca a forte gente”. Havendo certa controvérsia sobre se a “forte gente” seria responsável pelo “fraco rei” por elegê-lo nas democracias, ou por tolerá-lo nas ditaduras. Devendo ser levado em consideração que em muitos processos eleitorais há manipulações, compras de votos ou escolhas pelo “mal menor” na ausência de candidatos melhores; e as ditaduras são geralmente impostas pela força das armas ou alterações maliciosas das Constituições.

O mundo aguarda em sobressalto o segundo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos, a maior economia e potência militar do planeta será governada por um indivíduo que já indicou uma equipe absurda, um negacionista das vacinas para a Saúde, um inimigo do Meio Ambiente para o Ambientalismo, um bilionário alucinado para assessoria de Negócios, e muitos outros cidadãos que parecem totalmente inadequados para fazer parte de um Governo sério e minimamente bem intencionado. Entre as intenções de ação já declaradas, além da expulsão sumária de milhões de pessoas do país, contam-se disparates como retomar o Canal do Panamá, uma declaração de guerra comercial à China e por extensão ao resto do mundo. E até mesmo anexar a Groenlândia e o Canadá, o que o próprio Trump já declarou ser uma “brincadeira” como se tivesse sido eleito para brincar.

Os cuidados médicos do doutor Simão Bacamarte deveriam se estender ao mundo todo se Machado de Assis fosse nosso contemporâneo e escrevesse “O Alienista” em nossos dias. Embora impossível, é tentador e até necessário contemplar a internação de políticos e administradores em “casas de loucos” como a de Itaguaí, e aí corre-se o risco de que os “sãos de espírito” é que ocupem os lugares, afinal permitem os descalabros.   

De certa forma é como se estivéssemos já indiferentes ao nosso futuro, os insanos já nos calejaram tanto que adquiriram até fãs entre nós, esses aliás fanáticos dispostos a matar (presidentes, juízes, e qualquer outro que se interponha no caminho de seus ídolos) e a morrer (detonando uma bomba sob a própria cabeça, por exemplo) pela vida e liberdade de malucos que não moveriam uma palha por eles. Ou então esses líderes com desvios cognitivos tem o estranho dom de agregar aqueles que também sofrem de alguma espécie de demência, como se fossem gravetos que não resistem à proximidade do incêndio.

Muitas vezes nos perguntamos sobre o prazer tresloucado de ver “o circo pegar fogo”, afinal este local serve de diversão a praticamente todos, une e torna solidário, além de deslumbrar com palhaços e trapezistas. Como querer destruir aquilo que faz bem, proporciona alegria e torna a alma mais leve? É preciso estar muito distante do humano.

Estamos ensinando nossos jovens que aqueles que dirigem ou coordenam podem ser desprezíveis e não necessariamente obedecidos, pais, mães, professores incluídos neste rol. Se autoridade é algo a ser desprezado, ninguém precisa ouvir um professor, pois a  legitimidade de suas palavras, de sua autoridade  para  o  estabelecimento  de  disciplina fica em questão.  Difícil distinguir um autoritário de alguém que simplesmente tem autoridade quando as relações estão se  enfraquecendo  diariamente  numa batalha  desigual,  entre aqueles que comandam sem ter habilidade e aqueles comandados sem discernimento.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.