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Dor e aprendizagem

Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

Os seres vivos experimentam muitos estados básicos: fome, medo, raiva, prazer, frio, calor, dor; são, com todas as enormes diferenças entre espécies e indivíduos, as causas e consequências da própria vida e da manutenção da vida, a ausência de algumas dessas sensações pode ser catastrófica em situações limite. Em um mundo ameaçador a fome leva à caça e ao trabalho, não ter medo quando seria necessário pode significar não fugir em tempo de algum perigo real. Evidentemente, sua exacerbação pode ser patológica, principalmente entre nós, os racionais que temos poucos limites impostos pela natureza. O medo descontrolado pode assumir características paranoides, raiva em excesso define várias doenças sociais.

A dor ocupa lugar destacado nessas condições, temida, mortífera, e também necessária. Dor pode ser dita a sentinela do corpo para algo que está errado, ferimento ou doença, a pedir providências.

Há uma síndrome chamada Analgesia congênita, onde a pessoa nunca sente nenhum tipo de dor, vindo a ter lesões graves por falta de reação ao que as causa.

Toda dor traz uma experiência sensorial e emocional desagradável, que normalmente incapacita ou pelo menos decresce bastante a plena operação cognitiva. A dor crônica desempenha um papel significativo nas várias modalidades de inabilidade, tornando muitas vezes impossível executar atividades físicas e pode implicar em transtornos psiquiátricos, especialmente depressão.

Em escolas, a redução da saúde e qualidade de vida causadas por dores físicas e também emocionais implica normalmente em insuficiência de aprendizagem, em doenças psíquicas, que podem ser intensificadas por fatores culturais, que aceleram os mecanismos fisiológicos da dor, podendo provocar prostração, inflamações e hipersensibilidade.

No entanto, a avaliação da dor não é simples, seja para a família ou professores, a inexistência de exames laboratoriais ou testes objetivos provoca a dependência do relato do jovem ou da criança, que é sempre subjetivo, e portanto dependente de uma escala visual da intensidade ou o mal-estar gerado e seu impacto na qualidade de vida.

O ambiente escolar não é propício para que os estudantes demonstrem alguma fraqueza, frequentemente comentar sobre dores parecerá uma desvantagem diante de seus colegas; e se familiares não estiverem atentos, procurando ajuda profissional qualificada em tempo hábil, o prejuízo cognitivo pode vir a ser muito grande.

Infelizmente nem todas as instituições escolares podem contar com médicos ou psicólogos para uma atenção mais focada sobre a saúde física e mental dos estudantes, e as próprias famílias podem ter dificuldade de acesso a estes profissionais. Embora nem toda dor seja provocada por doenças sérias, algumas podem vir a ser solucionadas por exercícios, massagens, fisioterapia, relaxamento, meditação, e toda uma gama de tratamentos complementares, as vezes até por atividades físicas adequadas, ou remédios adequadamente prescritos, e por isso consultas periódicas são aconselháveis.

Cresce assim no país excessiva automedicação, com adultos e crianças recorrendo aos analgésicos – as vezes muito mais fortes que o desejável, como os opiódes -, antidepressivos, antitérmicos ou antiinflamatórios. A medicalização excessiva de nossas vidas com certeza prejudica adultos, e acentuadamente aqueles em fase de formação.

Tomando remédios por conta própria, não é incomum que estes terminem sendo utilizados em casos totalmente desaconselháveis, ou com posologias errôneas, prejudicando mais ainda o mal que tentamos combater.

Tudo isso se reflete na escola, local em que jovens e crianças deveriam estar sempre bem.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.