Assim como em muitos setores do trabalho em Saúde, Comunicação, Segurança, também na Educação muitos anos de prática não significam, necessariamente, inovação e transformação. Ao contrário, a experiência longeva, desprovida de elementos teóricos acerca dos vários intervenientes e avanços tecnológicos e científicos que envolvem o fazer laboral e o ensino-aprendizagem, podem se traduzir em repetição que vai perdendo o significado e o poder de transformação ao longo do tempo.

Bons professores sabem que formação pedagógica básica e anos e anos de magistério nem sempre geram conhecimentos sobre a prática; muitas vezes, podem gerar, apenas, a experiência de reproduzir atividades e afazeres que vão se tornando desatualizados e desprovidos de sentido.

Em qualquer área da atividade humana, apenas reflexão e investigação podem renovar e reconstruir saberes. Além do aprofundamento teórico e dos métodos atualizados, a capacidade crítica e a construção de identidade profissional própria é fundamental no mundo do trabalho.

Por isso grandes pensadores, como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) defendiam uma educação vinculada à política, e tentando acolher este preceito o sistema de ensino brasileiro preconiza um espaço escolar para a educação do cidadão – boa parte das vezes como mero argumento retórico ou, então, confundida com civismo. Mas o compromisso explícito dos diversos governantes com a prática democrática é bastante falho, e a educação para a democracia, a partir da necessária universalização do acesso e garantia de qualidade deveria ser eficiente tanto para a formação de governados quanto de governantes; pois de certa forma, ainda persiste no sistema educacional uma característica antiga, que fez com que Anísio Teixeira, grande educador brasileiro, em 1936 efetuasse sua crítica à “escola paternalista, destinada a educar os governados, os que iriam obedecer e fazer, em oposição aos que iriam mandar e pensar, falhando logo, deste modo, ao conceito democrático que a deveria orientar, de escola de formação do povo, isto é, do soberano, numa democracia”.

A apatia política da população normalmente compromete o futuro da democracia, seja no primeiro ou no terceiro mundo. Pessoas ativas, participantes, capazes de julgar e escolher são indispensáveis numa democracia, e essenciais para aumentar a qualidade do ensino.

No entanto, é visível que uma parcela de cidadãos, em vários países, sistematicamente rejeita ou é indiferente aos valores democráticos, o que leva à indagação sobre a existência de correlação entre apatia política e não-valorização da democracia. O número de países que se governam democraticamente tem aumentado no mundo todo, e aqueles que até pouco tempo atrás eram governados autoritariamente tem caminhado para alguma forma de democracia, embora ainda não seja consenso a maioria dos requisitos dela.

A percepção de que que deve existir tolerância para com os que pensam diferentemente de nós, que partidos políticos são necessários para expressar as várias correntes de pensamento e que o Congresso é indispensável para existência de igualdade de direitos.

Da mesma forma, governantes eleitos por escolha popular direta e o direito de voto atribuído a quase todos os cidadãos, independentemente de sexo ou grau de instrução, com algumas poucas exceções, todos estes critérios ainda são discutidos com maior ou menor grau de agressividade.

Apenas o desenvolvimento de identidade coletiva permite definir interesses e formular exigências aos dirigentes de um determinado momento; limitar a atuação cívica a acusar e a lamentar, sem exigir prestação de contas aos eleitos, faz com a política siga sendo exclusividade das elites, leva ao cinismo e desilusão e à crescente personalização da política eleitoral, pois vota-se na pessoa e não em um projeto de sociedade.

O aumento da complexidade da economia torna quase impossível ao cidadão comum identificar claramente seus interesses e formular suas demandas, e a pauta de costumes passa a imperar, com candidatos promovendo imagens de integridade e retidão, mesmo que contraditórias – apoia armas mas é profundamente religioso, ama a todos exceto gays, lésbicas, pessoas de outras cores, imigrantes, etc…–  ou seja, a pessoa ter caráter e integridade passaria a ser, em si, garantia de bom governo. Apenas um processo educativo forte pode desarmar esta armadilha.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.