Diversos super ricos, das mais variadas áreas, como Jeff Bezos e Elon Musk, estão investindo pesado em criogenia, regeneração celular e criação de um possível chip cerebral com o objetivo expresso de curar doenças e elevar muito a expectativa da duração de vida do ser humano
Notícias recentes revelavam que um bilionário americano, aos 45 anos, estaria se injetando o sangue do seu próprio filho, no intento de rejuvenescer e, claro, permanecer jovem por muitos anos. Em outros tempos isso era atribuído a vampiros e aristocratas vários, claro que sem sucesso.
Evidentemente, parecer jovem não é exatamente igual a ser jovem, porém cientistas, pagos regiamente por grandes empresários das indústrias de tecnologia, dispõem de bilhões para pesquisas em biotecnologia para a busca da imortalidade.
Saúde tem sido elevada à condição de divindade, e perseguição patológica pela saúde, no que esta representa de boa aparência, ausência de rugas, disposição para o lazer e principalmente para o trabalho, numa sociedade em que o sujeito depressivo tem sido considerado como o único responsável por seu fracasso, o aperfeiçoamento das habilidades ilimitadas indispensáveis para o sucesso pessoal e profissional é incensado por todos, ser “empresário de si mesmo”, para adquirir uma face lisa, sem memorias das alegrias, tristezas, ansiedades, tormentos e muitos outros sentimentos que compõem aquilo que chamamos existência, ao lado de um tremendo sucesso, com o que isso implica em dinheiro e ostentação.
Para atingir este feito, o sujeito atual não tem mais como objetivo o cumprimento de sua carga de trabalho com alegria e dedicação necessária à sua liberdade e autonomia, criatividade e boa vontade, mas sim com o desespero de uma verdadeira auto exploração que é evidente na característica supervalorizada pelo mercado – e mesmo pelas próprias pessoas – em suas condutas, pois as relações sociais de produção contemporânea devem ser realizadas por pessoas à procura do máximo desempenho e que podem explorar-se a si próprios de modo ainda mais efetivo. Assim, além da lei e do dever, em jornadas exaustivas, atendimento online sem interrupções, com desempenho compatível com a inovação, repletas de iniciativas individuais, flexibilidade e procura do maior lucro para sua organização, mesmo que dela não seja o proprietário, e sim um simples trabalhador, a pessoa se desdobra. É preciso produzir cada vez mais, sem se sentir gratificado, com sentimento de carência e culpa, concorrendo consigo mesmo, superando-se muitas vezes, até o colapso psíquico ou esgotamento físico.
Por isso tem sido comum encontrar grávidas que renunciam ao seu direito de licença, tão duramente atingido, mulheres morreram queimadas para obter isso, de ter um tempo para cuidar de seus filhos – o que será benéfico para toda a comunidade futura, já que provavelmente essas crianças terão menos doenças e impactarão menos o sistema de saúde, serão pessoas mais equilibradas e melhores na convivência -, homens e mulheres renunciam a férias, pois este tempo afastado pode ser benéfico para os concorrentes, já que sentem que seus cargos estão sempre em perigo.
A impressão generalizada é que estes seres voltados ao desempenho se autodestroem, apesar dos discursos empresariais de management da própria carreira, da indústria cultural, e os institucionais de promoção da saúde e do bem-estar.
Existe uma sobrestimada noção de auto investimento, já que empresas estão tendo por hábito pagar, àqueles em cargos mais altos, salários absurdamente maiores que os dos demais, provocando uma corrida desenfreada a tais funções, o que tem a característica de provocar simultaneamente a insegurança daqueles que as exercem, com a dialética senhor-escravo desaparecendo como dois polos contraditórios, ao serem exercidos na unidade indissociável do próprio indivíduo, uma espécie de servidão voluntária.
A psicóloga Maria Rita Kehl, em sua obra “O tempo e o cão: a atualidade das depressões”, comenta que a epidemia atual de depressão se deve ao fato de vivermos numa sociedade simultaneamente antidepressiva e maníaca, já que impõe uma certa hiperatividade a quem deseja o sucesso, que apenas pode ser sustentada por drogas psiquiátricas.
Um mundo do trabalho com foco apenas na performance profissional, em aumento da produtividade, promove uso de medicamentos na busca pela alta performance, ao mesmo tempo em que torna necessário negar demandas pessoais de lazer e vida familiar.
Enquanto escolas se preocupam em promover a colaboração e não a competição, as virtudes do trabalho em equipe e o compartilhamento dos conhecimentos como forma de ampliar o desenvolvimento social, a concorrência selvagem parece ser a norma em alguns ambientes organizacionais.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.