Fala-se muito atualmente na necessidade de mudarmos a educação de nossas crianças e jovens, transformando os espaços escolares urbanos em locais com maior presença de natureza, adaptando-os para enfrentar consequências das crises climáticas, tornando-os sustentáveis e mais resistentes às ameaças, para que elas possam ver a natureza como aliada e não como um perigo para sua vida e a de seus familiares.

Garantir espaços para muitas brincadeiras em ambiente natural, com atividades ao ar livre, adquirir mais estabilidade emocional, é o que constitui a denominada resiliência climática. Pesquisas mostram que “37,4% escolas de educação infantil e ensino fundamental do país não têm áreas verdes, 11,3% ficam em favelas e 6,7% estão em áreas de risco de desastres naturais”.

Cuidar da restauração da biodiversidade, da atenuação de possíveis riscos, redução de poluição, estão previstos num programa de implantação das Escolas Baseadas na Natureza, para oferecer gratuitamente formação continuada para professores e material didático destinado a escolas municipais de todo o país. Professores estão sendo preparados em cursos online para fortalecer seus próprios conhecimentos e desta forma poderem desenvolver habilidades interdisciplinares para a tomada de consciência crítica e desenvolvimento de práticas educativas que fortaleçam o senso de pertencimento e a capacidade de atuação em crises socioambientais.

Isso é indispensável, pois a urbanização dos espaços em que vivemos é uma realidade planetária, sendo a perspectiva de que até 2050, duas em cada três pessoas viverão em cidades. No Brasil, entretanto, nos dias de hoje 80% dos habitantes já estão em áreas urbanas, ou seja, com a natureza cada vez mais distante de seu dia a dia.

Em meio à acelerada pavimentação do espaço público e privado, crianças passam os dias envolvidas com jogos eletrônicos ou utilizando as redes sociais, normalmente falando – pouco – apenas com seus grupinhos de pensamento único, sem que possamos avaliar o impacto dessa absorção de telas e interações virtuais nos seus psiquismos. A perda radical do contato com a natureza na vida cotidiana, o consumismo desenfreado e o ínfimo contato realmente humano certamente cobrará seu preço. Na vida cotidiana, desde a mais tenra idade passam longos períodos em espaços fechados, em rotinas que não respeitam ritmos pessoais, não levando em conta que as relações com a natureza, vitais e constitutivas da real humanidade estão cada vez mais desligadas das origens sensitivas, corpóreas, animais, pelo afastamento provocado pela hiper valorização dos processos racionais em detrimento dos emocionais.

Devastamos florestas para produzir alimentos desde priscas eras, no entanto podemos agora deslocar montanhas, desertificar regiões férteis sempre que elas nos interessem para edificar fábricas ou asfaltar estradas, modificar cursos de rios, ou seja, provocar transformações extremamente rápidas, que reduzem o poder de assimilar impactos e regenerar-se da natureza.

Com o adensamento veloz das populações humanas, a raça humana mostra um poder crescente à medida que os recursos tecnológicos se multiplicam.

Com esta maior pressão no meio ambiente, a exploração dos recursos naturais e lixo produzido em escala nunca vista anteriormente, as paisagens originais estão em contínua degradação, revelando que a civilização pode ser encarada como a luta da nossa espécie contra o meio em que vive, como se o objetivo final fosse livrar o mundo da natureza e suas leis.

Dominamos o meio ambiente: ar, solo, plantas, animais terrestres e aquáticos. Não nos adaptamos, confrontamos.

Nesse momento, seria indispensável recuperar os ambientes degradados e preservar aqueles que ainda restam, sob pena de inviabilizarmos a própria vida. São cada vez mais frequentes os eventos que concentram grande energia: inundações, secas prolongadas, ventos arrasadores e terremotos, afligidos uma parte cada vez maior da população, e ninguém pode se considerar imune a ser vitimado por alguma calamidade ao longo da vida, todas as regiões podem ser passíveis ao registro de fenômeno promotor de desastre, as áreas e mesmo os tipos de risco têm aumentado independente do grau de desenvolvimento econômico.

Entretanto, a preocupação com as consequências dramáticas das práticas ambientais de depredação não tem se transmutado em ações preparatórias para seu enfrentamento, assistimos inertes o aparecimento de novas catástrofes.

Caso contrário, argumentos como aleatoriedade dos acontecimentos – muito comuns em nossas autoridades, que justificam suas ausências de medidas eficazes e a continuidade de práticas que conduzem aos desastres como meros acidentes – não procederão mais, e teremos que voltar a recorrer apenas à vingança divina para justificar o crescimento das calamidades não podem mais ser ignoradas.

A iniciativa em larga escala de providenciar escolas baseadas na natureza, promovendo uma ampla conscientização de alunos e professores para a convivência mais pacífica e sustentável com o meio ambiente é bem-vinda.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.