Esperança

Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

Pandora, a primeira mulher na mitologia grega, recebeu como encargo um baú que não deveria ser aberto. Numa narrativa algo misógina, Pandora não resistiu à curiosidade e abriu o baú e dele se libertaram todos os males sobre os homens. No fundo do baú restou uma pequena entidade, a esperança.

Na “porta do Inferno” segundo relatado na “Divina Comédia” de Dante Alighieri havia uma inscrição que finalizava com: Deixai aqui toda esperança, vós que entrais!

O Purgatório como lugar intermediário entre Céu e Inferno foi naturalizado pela igreja católica em torno do século XII, até então os fiéis poderiam ter apenas dois destinos após a morte: a salvação eterna ou o suplício eterno, na dependência de pecados, caridades, orações, atos cometidos em vida. Na Idade Média a vida espiritual era mais simples, camponeses não tinham sequer tempo ou energia para cometer grandes pecados após a dura luta pela sobrevivência, nobres e membros do clero se valiam do privilégio de fazer doações, construir igrejas, mandar rezar missas e obter indulgências que lhes garantiam o paraíso. Com uma incipiente burguesia vieram pecadores mais complexos, e isso somado aos surtos de peste que tornavam a vida precária motivou o afastamento de muitos da igreja, pessoas que haviam cometido pecados para os quais não haveria perdão e que, já condenadas ao inferno, passavam a viver desabridamente.

A igreja em sua sabedoria, não querendo abrir mão dessas ovelhas desgarradas, oficializou a ideia de Purgatório, lugar de onde os pecadores poderiam ter a esperança de ir ao Céu ao invés do Inferno desde que se rezassem missas em quantidade suficiente por eles e decorresse um certo tempo de “purgação” dos pecados. Sem esperança, os pecados iriam acumular-se cada vez mais.

O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica afirmou recentemente que a política “não é mais capaz de dar esperanças para as novas gerações”, o que é lamentável, pois esperança parece promover a saúde, a força e a virtude das pessoas, o que evita o adoecimento psicológico.

Saúde e qualidade de vida, segundo muitos estudos mostram-se interdependentes das possibilidades de planejar caminhos que viabilizem o alcance de objetivos, portanto, fazer uma pessoa sentir-se motivada a trilhar este percurso, o que aumenta o bem-estar e a positividade.

Infância e adolescência representam períodos importantes para se trabalhar o desenvolvimento de novas habilidades, que impactam a formação de identidade, pois nesta de transformações e transições psicossociais desenvolve-se o potencial para ações e valores positivos.

Estar atento ao fortalecimento da esperança nestas faixas etárias pode gerar muitos benefícios em suas vidas futuras, como nas influências no desempenho escolar, busca por atividades que previnam doenças físicas, percepção de ambientes saudáveis, reforço nos relacionamentos interpessoais, seja familiar ou de círculo de amizades.

Principalmente nas doenças ou travessias de momentos difíceis, no início ou mesmo é impossível desprezar fatores como espiritualidade, felicidade, otimismo e esperança, potencialmente relevantes para a reabilitação da saúde física ou mental. São todas essas atitudes socioculturais que impedem o reducionismo centrado no adoecimento, gerando motivação para as ações com otimismo e felicidade, estados positivos que atuam diretamente sobre o bem-estar

Esperança é sempre detectável em adolescentes que mantém um posicionamento positivo diante de problemas, principalmente os de difícil resolução ou aqueles que demandam uma série de enfrentamentos e tomada de decisões, o que é complexo nesta fase da vida e que terão impacto importante sobre seu futuro.

Quanto mais perspectivas de futuro, mais o jovem torna-se capaz de fazer escolhas melhores e perceber claramente os resultados destas escolhas, e ao longo da vida a motivação é uma condição básica para alcançar objetivos pessoais, de trabalho, das organizações, da comunidade e até dos países.

No entanto, o mundo vive um período em que o grande desafio é conseguir entender as mudanças, a maior parte delas desafiadoras, adversas, caóticas, que deixam a todos atônitos e constrangidos

A política em particular, tão importante na vida social, parece hoje levar à desesperança, o exato oposto do que deveria ser seu propósito.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.