Experiência

Por Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

O pragmatismo, em voga no mundo desde o início do século XIX, tornou-se uma escola de pensamento basicamente divulgada por pensadores norte-americanos em meados do século XX, e foi expandido como teoria de que o valor da verdade, de todo pensamento, de qualquer proposição, reside no seu caráter instrumental, isto é, no seu rendimento manifesto em ação.

Tal pensamento evoluiu para uma doutrina que preconiza que todo o aprendizado, todo o conhecimento deve ter um fim prático, e, centrado nas grandes necessidades da sociedade americana nesta época, especialmente pela industrialização massiva, em função da necessidade de instrução popular que fizesse frente às demandas do mundo do trabalho destas épocas, e iniciou uma grande discussão de dois tipos de ensino, o Tradicional, centrado no professor, e o da Escola Nova, centrado no aluno, com propostas de que cada aluno aprenda fazendo, learn by doing, e se enriqueça com as experiências dos outros alunos, com igualdade de oportunidades.

Tomando o conceito de experiência como fator central de seus pressupostos, a escola não poderia ser uma simples preparação para a vida, mas sim a própria vida; e o ensino e a aprendizagem estarem baseados na compreensão de que o saber é constituído por conhecimentos e vivências que se entrelaçam dinamicamente, distante da previsibilidade das ideias antecedentes. Conhecimento tem sido sinônimo de ciência e tecnologia, mas não pode a elas reduzir-se: embora o que consideramos capital humano basicamente apenas receba atenção pelo seu valor no mundo do trabalho, ou seja, instrumentalmente útil, no sentido pragmático do conceito, os valores pessoais, atitudes, solidariedade, empatia, são também importantes, e igualmente resultante da experiência de vida.

Embora hoje tenhamos forte tendência de considerar a simples informação como experiência, dado o acumulo de dados a que temos acesso diariamente, estes não necessariamente nos produzem reflexão e maturidade, e muitas vezes nos afastam da verdadeira experimentação, a busca por estar informado muitas vezes se transforma em um fim em si mesma.

Num mundo cada vez mais acelerado, em que tudo passa muito depressa, a obsessão pelo novo, pelo original, muitas vezes nos impede de estabelecer conexão entre os eventos que se sucedem, tudo se torna fugidio e instantâneo, sem significado duradouro.

O conhecimento é um processo que passa pela investigação da possibilidade humana de adequação e adaptação ao ambiente, e isto só é possível pela junção do conteúdo escolar e da experiência da vida: dúvidas, incertezas, perturbação, que fazem parte do conhecimento humano sempre em evolução.

Portanto, alunos e professores, detentores de experiências próprias, poderiam ser aproveitados no processo; o professor com sua visão sintética, mais abrangente e clara acerca dos conteúdos, e os alunos trazendo sua visão sincrética, confusa e não muito clara daquilo que aprende, tornando a experiência um ponto central na formação de conhecimentos, mais do que os conteúdos propriamente ditos a serem trabalhados. Deste modo, a aprendizagem seria essencialmente coletiva, e a interação escolar efetivaria o poder aprender ao lado do poder ensinar.

A escola deveria refletir, o mais cedo possível, uma comunidade real, um ambiente social que permitisse aos alunos desenvolver as suas capacidades e adquirir cultura, ou seja, ter acesso ao repositório dos conhecimentos que a experiência humana pode acumular ao longo de seu processo civilizacional.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.