Leitura de férias

Por Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

Nas férias o tempo nos pertence e, como ocorre com a felicidade, se for dividido com quem amamos fica melhor, e contraria as leis da Física, ficando também maior. Tempo para estar de verdade com familiares e amigos queridos, tempo de ver a grama crescer e como as crianças cresceram. Tempo de ler, buscar aqueles livros pelos quais se passou rapidamente na correria do dia a dia, e os que se leu com prazer em férias distantes. Achar novos livros, novos desafios, novas aventuras. Tempo de ouvir, novos sons, velhos sons, os sons a que não prestamos atenção, mas que não conseguimos esquecer. Tempo de dançar, de cantar recentes e antigas canções.

Olhar com calma para filhos, sobrinhos, netos; ler com eles e para eles é sempre um grande prazer, e nos rejuvenesce. Contar para eles os segredos que só nós sabemos de Pedrinho, Narizinho e Emília; Peter Pan, Harry Potter e Cinderela. Revelar onde descobrimos essas histórias, contá-las como se ninguém mais as conhecesse, cada criança descobre o mundo e as emoções nele contidas ao ouvir um conto…

E viajar, com amigos, familiares, jovens, idosos; pois esta é uma das melhores coisas da vida. Dólar caro, praias cheias, temporada curta, estradas perigosas, aeroportos lotados. Tudo é parte, tudo faz parte de certa maneira, e nada na verdade deveria nos impedir de ir em busca da próxima curva da estrada, do pássaro azul, das pessoas que não vemos há um tempão.

Viajar em nossa própria cidade, quando dela conhecemos histórias, lendas, casos, nós a vemos de outra forma, com mais intensidade e colorido. Mesmo que não tenham acontecido, afinal, poderiam ter acontecido, talvez merecessem ter acontecido. Buscar o palacete assobradado, a casa assombrada, o túnel do pirata, o tesouro dos Jesuítas. Que tal convidar as crianças?

Viajar em nós mesmos. Prestar atenção em mente, corpo e alma; lembrar quem somos e conhecer quem nos tornamos.

Uma boa viagem pode começar pela biblioteca ou livraria, para saber o que pensaram do lugar para onde vamos aqueles que o viveram, que amaram ou detestaram cidades, campos, mares, e que os expressaram a seu modo. A maioria sequer trata de locais existentes, e certamente falam de outros tempos, mas qualquer viagem, mesmo para onde já estivemos ganhará, com eles, em brilho e consistência.

O Pelourinho em Salvador grita por nós com a voz de Jorge Amado, as baianas de acarajé, os santeiros, a magnífica Igreja de Nossa Senhora dos Rosário dos Pretos, o dengo e a formosura.

As Gerais, contadas e cantadas pelos mineiros Drummond, Guimarães Rosa, Otto Lara Resende e Milton Nascimento, tiveram também a carioca Cecília Meireles para contar sua saga maior, a Inconfidência: os ciclos do ouro e dos diamantes, as grandes mulheres mineiras, Maria Dorotéia (Marília de Dirceu), Chica da Silva, Bárbara Heliodora; os heróis, os mártires e os sonhadores. Conhecer mais profundamente o Paraná, o Contestado, o fandango, a ilha do Mel, Vila Velha, lindos e cheios de história.

Fora ou dentro do país natal, a viagem educa, diverte e nos faz melhores…

Para quem fica aqui, Dalton Trevisan: Curitiba, que não tem pinheiros, esta Curitiba eu viajo. Curitiba, onde o céu azul não é azul, Curitiba que viajo. Não a Curitiba para inglês ver, Curitiba me viaja. […] Curitiba sem pinheiro ou céu azul pelo que vosmecê é – província, cárcere, lar – esta Curitiba, e não a outra para inglês ver, com amor eu viajo, viajo, viajo.

Boas férias!

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.