O ábaco, ancestral do computador, foi criado na China há mais de 2500 anos, e ainda é usado por muitos comerciantes, estudantes e matemáticos daquele e de outros países. A evolução e o barateamento dos recursos eletrônicos tendem a aposenta-lo, mas, segundo dizem, um operador competente de ábaco faz cálculos com maior velocidade do que se utilizasse uma calculadora.
O computador foi aperfeiçoado para o Projeto Manhattan, que criaria a primeira bomba atômica norte-americana. E mais desenvolvido nos anos posteriores à Segunda Guerra mundial, para uso civil, a princípio em atividades contábeis.
Nos anos 1970, um projeto denominado ARPANET previa o uso das máquinas em rede, baseado na ideia de prestação de serviço entre elas, com todas recebendo e transmitindo informações, em igualdade de funções e características, e que se constituiu na semente da World Wide Web (Web), cujo objetivo era o de promover o acesso irrestrito à rede, dentro de um espírito de máxima liberdade.
Evidentemente, muito desta liberdade foi se perdendo, por questões de segurança, disponibilidade ou limitação de recursos, e o modelo que predomina hoje é o de poucos servidores de alta capacidade prestando serviços a clientes.
Ainda assim, uma boa parcela de autonomia e transparência está consolidada, e a internet, pensada desde os tempos da guerra fria, ampliou-se nas instituições de ensino superior americanas, desenvolveu-se na Europa como um todo, e ao final dos anos 1980 chegou ao Brasil.
Desde então cresce no mundo a importância e o uso intenso, constituindo-se em um fenômeno extremamente singular, como mídia e como um novo tipo de linguagem, que permite a multiculturalidade de uma forma impensável até poucos anos atrás.
Por reunir imagem, som, vídeo, texto, movimento, de uma forma complexa e completa como nenhum outro veículo de massa antes, e estar presente em todo o planeta de forma inédita, a internet tem possibilitado a convergência tecnológica, ao associar massivo e interativo num único meio.
Tais características eram excludentes nos meios comunicacionais: jornais, rádios, TVs, são veículos de massa desde suas concepções, mas só permitiram interações após a Web; enquanto o telefone, por exemplo, de essência interativa, não se constituía em veículo massivo, por apenas permitir a comunicação entre duas pessoas, ou algumas poucas a cada vez.
Assim, embora a cultura digital começasse com a computação, é com a colaboração e coexistência de múltiplos usuários que acontece sua plena expansão, produzindo novos conhecimentos, o que permite o aparecimento de uma verdadeira produção colaborativa.
A proposta do Iluminismo europeu, melhorar o mundo através da razão, do livre exercício da mente humana e da ação política e social, encontrou sua síntese nos enciclopedistas, filósofos e pensadores que procuravam catalogar o conhecimento humano segundo os princípios da razão. Talvez este sonho possa ser realizado pelo uso em cooperação, e um novo letramento, que inclua desde as habilidades de codificação até a capacidade de uso social delas, vem se tornando necessário ao processo educacional atual, para que as perspectivas de trabalho coletivo possam ser efetivamente utilizadas em benefício da maior qualidade das instituições de ensino, e metodologias inovadoras possam ser difundidas ou aperfeiçoadas de forma compartilhada, resultando em maior aprendizagem com menor dispêndio de energia tanto do docente quanto do discente, pois grande parte dos problemas educativos são os mesmos, em diferentes escolas de diferentes países.
Softwares livres poderão ser desenvolvidos voluntariamente e compartilhados por professores e alunos em todo o mundo; abrindo um inesperado espaço para a criatividade, o trabalho em equipe, o amadurecimento.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.