Em certa camada populacional — infelizmente não em todas, somos um país de grande disparidade econômica e educacional — crianças e jovens adaptados à cultura digital, usuários privilegiados da internet em seus computadores, celulares, videogames e outros equipamentos de alta tecnologia desde o início de suas vidas, parecem preferir contatos virtuais aos concretos: melhor a conversa pelo Facebook que pessoalmente, melhor a leitura de um e-book que um livro em papel.

Estas características não implicam necessariamente empecilhos ao processo de ensino-aprendizagem, mas certamente implicam em mudança da metodologia tradicional utilizada por várias gerações de professores.

O professor de um curso de Inglês surpreendeu-se ao avaliar um garoto quanto à proficiência no idioma para determinar em que nível poderia ser matriculado. Embora tivesse dito que nunca estudara o idioma, o jovem possuía articulação verbal, vocabulário e compreensão da língua similares aos que estudantes geralmente apresentam no terceiro ano do curso. Indagado de onde vinham seus conhecimentos, o estudante respondeu que os adquirira jogando videogames, o que fazia diariamente por mais de duas horas, sozinho ou com parceiros online.

E não se trata de caso isolado, ou prova de genialidade. A chamada geração Z, ou geração nativa digital, usa computadores, celulares e outros equipamentos eletrônicos desde a infância; são comuns no youtube filmes mostrando até bebês de colo brincando com tablets. O uso de dispositivos eficientes e que oferecem resultados quase instantâneos torna-se tão natural quanto é para os mais velhos ler um jornal. E isso melhora as habilidades de adaptação, estimula o raciocínio lógico e desenvolve a capacidade de interagir com grupos, tanto presenciais quanto aqueles que se encontram no outro lado do planeta. Informações sobre qualquer assunto estão disponíveis na rede, ainda que em graus variados de confiabilidade, e podem ser obtidas com um toque.

A curva da evolução tecnológica aponta para cima quase verticalmente. Há pouco mais de cem anos não havia luz elétrica, motores a explosão, telefones, aviões, penicilina, bombas atômicas. Há pouco mais de trinta anos não havia telefonia celular, computadores pessoais, televisores de led, e os games chamavam-se Pacman e Tetris. Gostemos ou não, a tecnologia e a cultura dela decorrente são parte de nossa vida e de nossa sociedade.

Os celulares cada vez mais rápidos tornam-se onipresentes em salas de aula, mesmo em regiões mais pobres. Tornam-se competidores dos professores pela atenção dos alunos, e são usados frequentemente para obter informações sobre os temas desenvolvidos em classe, até para contestar o mestre como adolescentes gostam de fazer. A forma dos jovens da geração Z se comunicarem entre eles e com o mundo é totalmente nova, não somente nos aparelhos e sistemas usados, mas principalmente nos conteúdos, interesses e códigos. A maneira de aprender também é nova, e implica em novas maneiras de educar.

Muitos professores, principalmente os mais jovens e aficionados de tecnologias de informação, já perceberam o enorme potencial desse fato para a educação, e o usam. Buscam adaptar-se e adaptar seus métodos de ensino à realidade de seus alunos, usam as vantagens da nova geração a favor dela, e obtém resultados surpreendentes.

Mas é importante lembrar sempre que o aprendizado, em qualquer contexto, exige também persistência, dedicação e esforço; requer tempo, renúncia a várias formas mais imediatas de prazer e, principalmente, quebrar a casca da zona de conforto oferecida pelas habilidades já dominadas. E nisso, a orientação segura daquele que aprende novas formas de ensinar porque ama a sua função de professor é insubstituível.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.