O imaginário faz parte da civilização, e podemos dizer que graças a ele houve desenvolvimento de uma sociedade futura, sempre melhor que a atual, pautando a existência humana em todos planos e coisas, enraizada na vida e em todo ato criativo que parte de um sujeito, carregado de subjetividade, e especialmente no processo de construção teatral.
O teatro: liberdade absoluta, dando voz às pulsões, seguidas de reflexão sobre o produzido no primeiro momento, suporte racional para a obra; e finalmente a harmonização da emoção, seguida da grande explosão configurada na apresentação, no expor ao julgamento público. Assim como diretor e atores nas apresentações profissionais, professor e estudantes em peças no âmbito escolar mostram criação e cultura comunitária em suas microrrelações sociais.
Nestes processos colaborativos escolares, falamos mais em de orientação e supervisão, que são mais elucidativos da atividade de um professor que não seja propriamente da área artística mas que dela se utilize para suas finalidades didáticas, que propriamente direção, pois são múltiplas as formas de organizar e fazer funcionar os grupos de estudantes; dependem das disciplinas, temas escolhidos e experiências anteriores do docente ou mesmo alguns discentes.
Uma apresentação teatral inicia-se com a escolha do tópico a ser desenvolvido, verdadeira espinha dorsal que sustentará a proposta e precisará adesão de uma coletividade, de artistas ou de interessados em vir a sê-lo, ou de alunos de certa disciplina. Em seguida, vem aquilo que especialistas chamam de “o não lugar do teatro”, o interesse emocional em realizar este trabalho, de mostrar compreensão do texto e sua importância num dado momento histórico, exibindo isso a muitas outras pessoas… transformar seres sociais em atores e críticos dessa mesma sociedade.
Não por coincidência, quase todos os grupos teatrais se tornam lugar e símbolo de utopia e liberdade, de resistência e protesto. Isso necessita um professor especial, capaz de compreender e interpretar positivamente esta força natural.
A sistematização do ensino por meio do teatro, que tenta suprir uma lacuna sensível da vivência e compreensão profunda de nossas ocorrências históricas, sociológicas ou filosóficas, nesses tempos de dúvidas e contradições, normalmente tem sido chamado de teatro aplicação à educação ou mesmo teatro-educação. Abordando alguns fundamentos educativos de forma teatralizada, importantes subsídios podem ser adquiridos para a memorização e atingimento dos princípios educacionais ali operacionalizados.
Nos grupos teatrais formados em escolas nota-se a descoberta por parte dos estudantes de um universo novo, é um lugar em que a disciplina é diferente da praticada em sala de aula e mesmo na família, a livre expressão e a criatividade são estimuladas e o que se pede é apenas compromisso e o indispensável bom senso limitador de exageros que poderiam destruir o propósito do grupo. A busca pelo teatro tem algumas vertentes, desde a de quem vê ali uma oportunidade de desenvolver seu talento como ator, diretor, iluminador e até dramaturgo; a de quem acredita que o desafio do palco poderá “curar” a timidez natural em adolescentes; e finalmente, mas não menos importante, a dos jovens que buscam interação com outros. De todo modo, todos são surpreendidos não apenas pela realização de suas expectativas mas por algo tão importante quanto: a participação em algo mágico com raízes no princípio da História e ligado diretamente à mente humana. Todos crescemos quando nos ligamos a realidades maiores que a nossa.
As Escolas que abrem esta oportunidade a seus alunos e professores cumprem, também desse modo, o ideal da educação humanizada, abrindo-lhes mais uma porta essencial à formação. Mais políticas voltadas à esta área seriam importantes, pois algum dispêndio com figurinos, cenários e divulgação são sempre aconselháveis.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.