Não estamos, graças aos conhecimentos científicos que adquirimos ao longo dos anos, em tempos de denominar o uso de drogas de “alcançar o paraíso artificial”; hoje as drogas são o inferno, ou o “encantamento do mal”, como apontado por alguns estudiosos. A percepção do consumo continuado e não medicamentoso da maior parte delas é nocivo ao funcionamento social e à própria saúde das pessoas, que perdem vontade própria, autonomia e capacidade de convivência.
No entanto, de forma geral o uso de drogas ilícitas, inclusive em ambientes escolares, parece se alastrar pelo mundo, mesmo que uma certa uniformidade marque as políticas oficiais sobre drogas que vigoram contemporaneamente em quase todos os países.
Tais políticas são consideradas “antidrogas” e implicam na criminalização da produção, distribuição e consumo de drogas com propósitos não terapêuticos, salvo inexplicáveis exceções como álcool, tabaco e dos produtos na verdade considerados “alimentos-droga”, como café, açúcar, chá e chocolate.
Baseados em critérios biomédicos, distinguimos entre “drogas” e “fármacos”, pois drogas causam dependência, fazem mal, quando não matam pura e simplesmente; fármacos são prescritos, mas algumas vezes essas fronteiras ficam diluídas, como é caso recente dos opiáceos amplamente recomendados nos Estados Unidos o que causou uma epidemia de adição.
E a adolescência constitui um período extremamente perigoso para o início do uso de drogas, tanto na experimentação incitado por colegas, como consumo ocasional, indevido ou abusivo. Evidentemente a família, pelo papel fundamental da transmissão de valores e comportamentos, mas também a escola, pois ambas inserem seus membros na cultura e são instituidoras das relações primárias, influenciam a forma como o adolescente reage à ampla oferta de drogas. Relações familiares saudáveis desde o nascimento da criança servem como fator de proteção para toda a vida e, de forma muito particular, para o adolescente.
No entanto, problemas enfrentados na adolescência, muitas vezes iniciados na infância, têm grande probabilidade de ampliar a procura pelas drogas como forma de resolver as questões difíceis com os quais o jovem se depara.
É evidente que um jovem, em princípio, busca prazer e não sofrimento ou dor, esta faixa etária quer novas sensações, compartilhar experiências com um grupo, mas também quer distinguir-se e ter autonomia, independência em relação à família, sentir-se importante numa comunidade.
O aspecto negativo disso é o risco que corre de se tornar dependente e comprometer a realização de tarefas normais do seu dia-a-dia, tanto em casa quanto na escola; o correto desempenho de papéis sociais que podem impactar seu conceito diante dos demais. Drogas costumam interferir na aquisição de habilidades essenciais para o futuro, e também na saúde, muitas vezes de forma irreversível, comprometendo o adulto jovem que ele virá a se tornar, e este comportamento de risco deve ser tema da preocupação básica da sua educação, mas tendo o cuidado de não desconhecer o lado prazeroso ao lado do perigo a que se expõe.
Pais e professores que desejam atuar na prevenção precisam compreender os dois lados da questão, sob pena de não desenvolverem uma atuação capaz de debelar, de forma ampla e profunda o fenômeno do uso de drogas.
É de ressaltar que as duas maiores cidades do país enfrentam há décadas problemas seríssimos decorrentes de uso e comercialização de drogas. O Rio de Janeiro está em verdadeira guerra civil entre traficantes e milicianos que disputam pontos de comércio, o poder público não quer ou não consegue minimizar os efeitos desses combates, principalmente as “balas perdidas” que atingem frequentemente inocentes. Em São Paulo este problema é disfarçado para a classe média pela divisão social da cidade que bane para as periferias parte da criminalidade, no entanto nenhuma autoridade conseguiu uma solução eficaz para as “cracolândias”, pontos de venda e consumo de “crack” que ocupam espaços cada vez maiores; a hospitalização e “tratamento” de usuários contra sua vontade não funciona para resolver este tipo de problema, transformá-lo em questão meramente policial muito menos.
Um bom processo educativo, pais e professores atentos podem minorar o problema.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.