Conhecer e apropriar-se do patrimônio do país é fator indispensável no processo de preservação de seus bens culturais, bem como do sentimento de identidade e cidadania; educar-se, alfabetizando-se culturalmente em relação à importância dos monumentos, paisagens naturais, sítios arqueológicos, parques, produções artísticas, áreas de proteção ambiental, centros históricos, folclores ou festas típicas, artesanatos, que permitem realizar a leitura do mundo e reforçam a autoestima e valorizam nossa cultura, que é múltipla e plural.

Um bom processo educacional estimula e facilita a interação entre comunidades, pesquisadores, professores e todos os agentes que preservam e estudam os bens culturais, pois favorece a troca de conhecimentos e a formação de parcerias capazes de proteger as riquezas brasileiras.

Objetos históricos e artísticos, monumentos da memória nacional, centros históricos de grandes ou pequenas cidades, embora protegidos por agentes governamentais, necessitam também da profunda compreensão de toda a população para sua importância e necessidade de preservação, sem os quais seria praticamente impossível mantê-los íntegros para as próximas gerações.

Existem muitas formas de expressão cultural que constituem o patrimônio vivo das comunidades, como formas de cultivo, maneiras de pescar, plantar e colher, de utilizar plantas na produção de remédios, culinárias típicas, construir moradias, danças e músicas, modos de vestir e falar, os rituais religiosos, que são distintos e mostram a cultura viva de cada uma delas.

O patrimônio pode ser considerado como o resultado das ações humanas que serão transferidos para as gerações seguintes, não apenas reveladas por estátuas, edifícios ou conjunto urbano específico, mas também na forma imaterial, pelas tradições, formas de fazer, de construir instrumentos musicais, de fazer pinturas corporais, ou seja, os vários tipos de heranças comunitárias que promovem os indivíduos a uma condição cultural mais elevada, o que é exatamente o objetivo da educação em qualquer país.

Cultura, tanto em suas manifestações imateriais, como as tradições, as músicas regionais ou nacionais, os modos de fazer, quanto nas manifestações materiais, como estatuária, artefatos, dependem exatamente do sentido que a elas é atribuído pelas pessoas, são resíduos do passado que subsistem no presente e pretendem atingir o futuro, e para isso contam com professores, produtores, curadores, pesquisadores, embora muitas vezes mudando de significado no tempo e em alguns lugares, entretanto preservando seu valor.

Evidentemente que em alguns momentos da civilização, certos monumentos devotados a determinadas personalidades diziam mais respeito à ideologia daqueles que os edificaram, e são ultrapassados pela história de uma sociedade que evolui e rejeita conceitos que não refletem uma concepção mais global do acontecido em uma certa época; é o caso, por exemplo, da rejeição de estátuas de pessoas escravocratas ou heróis do passado que se revelaram mais tarde apenas pessoas sanguinárias.

As mudanças de poder, principalmente em consequências de grandes revoluções sangrentas também podem modificar bastante a estatuária e documentos comemorativos preservados à vista do público, e embora compreensíveis em alguns casos, em outros já destruíram muito de obras de arte valiosas que foram retiradas às futuras gerações.

A falta de compreensão para com a importância da preservação já destituiu a humanidade de acervos valorosos de bibliotecas, de igrejas, de templos, de coletividades. Algumas vezes com intenções razoáveis, como foi o caso da destruição dos documentos sobre a escravidão no Brasil, sob justificativa de “não deixar a nódoa desta ignomínia”, e que hoje impede que famílias saibam suas reais procedências, o nome de seus familiares e, inclusive, de obter reparações.

O passado é estático, porém pode ser atropelado pelo dinamismo dos processos sociais, e sempre é proveitoso suscitar debate amplo e público sobre possíveis omissões da versão oficial de certos eventos, para determinar se memórias importantes foram excluídas.

Escolas preocupam-se com a transmissão do saber acumulado ao longo das muitas gerações, mas também com os vários signos que compõem esta determinada comunidade, que a caracterizam em detrimento de muitas outras, que a distingue das demais.

Complementam o trabalho familiar na produção do bom cidadão que orgulha seu país.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.