Políticos e educação

Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

O Brasil é um país grande e complexo, com enormes demandas em todas as áreas, e o atendimento a parte delas cabe ao Poder Executivo. Na organização deste poder começa a disfunção que o torna pouco operante e ineficaz em muitos aspectos; o mais elementar senso comum diria, em um mundo ideal, que os ministérios deveriam encarregar-se da melhor forma possível de suas competências específicas, cabendo aos ministros a orientação política alinhada com o governo eleito, e ao corpo técnico a execução das medidas determinadas, dentro evidentemente da busca do melhor para o país.

Infelizmente, em nosso triste presidencialismo de coalizão, o governo costuma ser loteado entre os diversos partidos da “base”, o que seria razoável se os partidos buscassem ocupar espaços em que pudessem realizar aquilo que dizem ser seu propósito, mas na verdade a busca, por algum motivo inconfessável, é pelos ministérios com maior orçamento e parte dos ministros indicados não têm a menor ideia ou empatia em relação às atribuições que terão, mas certamente saberão promover licitações. O segundo escalão, que deveria ser eminentemente técnico, é muitas vezes “aparelhado” e ocupado por aliados e cabos eleitorais de luxo.

O chamado núcleo duro do governo, Casa Civil, Planejamento, Economia e alguns outros, salva-se por pouco dessa maldição pela necessidade mínima de competência, mas não se livra do bombardeio incessante dos próprios membros do governo, por razões ideológicas ou apetites não satisfeitos. Lemos muito sobre o “fogo amigo”, e entendemos que jogos de poder, disputas internas e egos inflados muitas vezes prescindem de inimigos externos.

Os ministérios da Saúde e da Educação, pela própria característica de suas atividades, têm grandes orçamentos e são objeto da cobiça de todos. E é onde começa uma tragédia, são áreas sérias demais para ficarem à disposição de pessoas que têm como único objetivo lustrar biografias, capacitar-se a voos maiores, empregar apaniguados e, o que seria pior, enriquecer no cargo.

Desmandos e achincalhes com o dinheiro público são tão comuns que já se tornaram normais, todo aquele flagrado com a mão dentro do cofre, mesmo com todas as evidencias e testemunhos possíveis, declara-se inocente, vítima, objeto de vingança política. E com o dinheiro subtraído financiará um escritório inteiro de advocacia para protelar ao máximo qualquer punição, se não conseguir evita-la.

Vamos assim desacreditando também na classe jurídica, que algumas vezes está disposta a defender o absolutamente indefensável por trinta moedas, dispostos ao inominável para garantir as quantias astronômicas que recebem pela venda de suas almas.

Política, uma ideia e instituição nobres entre os gregos que denominavam “idiota” o cidadão que se recusava a participar da administração pública. Em nossos tempos quase um palavrão, tem sido raras as pessoas decentes que ingressam na política e permanecem decentes; mesmo os idealistas que pretendem realizar grandes coisas em benefício do povo e do país aprendem muito rapidamente que precisarão participar de alguma “panelinha” se desejarem ser ouvidos. Apenas ouvidos, pois a etapa da realização é quase impossível, a menos que abram mão de princípios e ideais, associem-se aos grupos de pressão e até de chantagem com o dinheiro público.

Mark Twain declarou no século dezenove que “os Estados Unidos têm o melhor Congresso que o dinheiro pode comprar”, isso não é nada comparado às verbas de gabinete, às emendas orçamentárias, aos recursos de campanha e outras barbaridades que abertamente povoam o nosso Congresso, que nem de longe é o melhor que pode ser comprado.

Enquanto isso trabalhadores de várias áreas lutam para sustentar seus filhos, alguns inclusive tentando o máximo de bem possível para o país, educando crianças e jovens, salvando vidas, prevenindo mazelas da população.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.