As origens etimológicas da palavra trabalho trazem uma certa aura de negatividade, trabalho viria de tripalium, instrumento utilizado pelos romanos para atividades agrícolas e também para tortura dos escravos desobedientes, e é vinculado também à palavra latina labor, significando fadiga, esforço, sofrimento, dor. A compreensão do trabalho como sofrimento e punição esteve presente em muitas civilizações antigas; a expulsão de Adão do Eden foi somada à condenação de “ganhar o pão com o suor do próprio rosto”.

“Trabalho é virtude, ócio é pecado”. Este conceito, enunciado de várias maneiras em acordo com diversos povos e culturas, esteve no fulcro das sociedades mais bem sucedidas materialmente. Como toda ideia generalizante, tem alguns problemas, o não menor deles é a distribuição injusta de trabalho, atribuído a servos, escravizados ou proletários, em benefício de aristocratas e detentores de capital que usufruíam de ócio e lucros; havia ainda muitos povos em que a conquista material não era o mais importante, como alguns polinésios e indígenas. Desde o início da colonização de nosso país os “brancos” que cá vieram almejavam enriquecer rapidamente com o mínimo de esforço e retornar às metrópoles para viver uma vida de luxo e ociosidade, como se idealizava que viviam os “nobres”; trabalho era algo degradante, e o trabalho manual mais degradante ainda, donde a chaga da escravidão resultou numa sociedade totalmente dependente de escravizados.

No entanto, na Europa Medieval, com o surgimento dos burgos, criaram-se as Corporações de Ofício, organizações que reuniam pessoas que compartilhavam mesmas profissões ou interesses econômicos, e isso representou um impulso aos trabalhos manuais feitos em equipe. O surgimento dessas instituições está associado ao agrupamento de artesãos e comerciantes que compartilhavam conhecimentos entre Mestres, Oficiais e Aprendizes, que cooperavam e estabeleciam monopólio sobre a produção de determinados artefatos.

Em função disso o trabalho executado em equipe passou a ser valorizado como uma das melhores formas de reunir diferentes visões de como realizar atividades, congregando variados pensamentos sobre a tarefa, múltiplas maneiras de atingir um objetivo, aprendizagem mútua e às vezes diversão, pois pessoas reunidas tendem a adquirir laços afetivos e tornar o ambiente mais alegre.

Fala-se, inclusive, que o Iluminismo apenas aconteceu no século XVIII por terem sido inaugurados um pouco antes na Europa os cafés, lugar onde intelectuais reuniam-se para conversar e trocar ideias, ou seja, contrariamente à impressão generalizada de que estes viriam a ser locais de perda de tempo, possivelmente foram exatamente estes espaços de convivência e compartilhamento que permitiram o movimento intelectualque valorizou a razão eque acontecesse o que hoje chamamos de “século das luzes”. 

Toda reunião de pessoas, com tempo disponível e suas necessidades materiais razoavelmente atendidas, tende a tornar-se um ambiente multidisciplinar e favorável à divulgação de novas maneiras de pensar e ver o mundo, de propor novas maneiras de realizar trabalhos rotineiros.

Assim é uma escola, onde o trabalho desenvolvido em ensino-aprendizagem é feito normalmente com a junção de diferentes crianças e jovens, em processo de formação de personalidade e de compreensão da vida. Em grupo estudantes trocam experiências entre si, além de absorver aquela vinda de seus professores; estudam disciplinas que traduzem o conhecimento humano ao longo de gerações, conhecendo o passado, mas também podendo inovar ao projetar o futuro.

Conversando, jogando, ouvindo músicas, fazendo chistes, rindo, realizam o trabalho de aprender de forma mais leve e proveitosa que sozinhos, o que só tem sentido para crianças em hospitais ou em casas muito distantes de centros possuidores de instalações escolares.

Uma equipe ensina também o que hoje chamamos de soft skills, o conjunto de habilidades e competências relacionadas ao comportamento humano, entre elas a inteligência emocional, que é a capacidade de lidar bem com as próprias emoções; outros exemplos são: empatia, liderança, resolução de conflitos, flexibilidade, ética e capacidade de conviver em grupos.

Por ser essencialmente um trabalho comunitário,  escolas tem desenvolvido talentos e inovação.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.