“O primeiro espelho da criatura humana é o olhar de sua mãe, o sorriso dela, suas expressões faciais”, frase do importante autor da área acadêmica D. Winnicott, mostra que a qualidade dos vínculos estabelecidos desde tenra idade é essencial para a qualidade de vida, quando analisamos a questão amorosa e a capacidade de aprendizagem.

Amor e o ódio são relevantes também na constituição de um profissional de ensino, para que este possa estabelecer vínculo com o aluno, com o conhecimento, com o ato de ensinar e aprender.

Quando um o professor, por insatisfação salarial ou outros motivos, passa a hostilizar seu ambiente de trabalho e seus alunos, comparando o ensino do passado com o do presente, declarando que os estudantes hoje não se interessam por nada que não sejam seus celulares, um importante elo se perde, e a sala de aula deixa de ser o espaço privilegiado para o acontecimento pedagógico em seu sentido mais amplo do ponto de vista intelectual e de valores.

Para aprender é indispensável outorgar a outros confiança e direito de nos corrigir, de fazer com que vejamos a necessidade de recomeçar, de melhorar. Para isso é fundamental o vínculo afetivo na sala de aula, tarefa contínua que a cada dia se renova, com atenção às emoções, às tristezas e alegrias, com confiança para expressar pensamentos, opiniões e inseguranças.

Embora os vínculos constituídos entre pais e filhos tenham um papel mais preponderante na saúde mental e até mesmo no desenvolvimento de psicopatologias durante o período da infância e adolescência, professores também exercem influência decisiva, pois relações emocionalmente saudáveis constituem fatores essenciais na determinação de vulnerabilidades, resiliências e comportamentos ajustados do ponto de vista psicossocial.

Por outro lado, vínculos inseguros, agressivos, desorganizados, mostram-se relacionados ao sofrimento psíquico de adolescentes, expondo-os a situações de vulnerabilidade emocional e afetiva.

Assim, todas as organizações, escolares ou não, estão continuamente buscando estratégias que contribuam para manter as pessoas em determinados cursos de ação que colaborem para melhores resultados no mundo do trabalho. Estratégias mais eficazes, importantes quando a competitividade se torna acirrada, tem hoje despertado a atenção acadêmica e empresarial, na compreensão de que isso é reflexo direto da vinculação do trabalhador às tarefas necessárias. Comprometimento faz toda a diferença para ligar um indivíduo à execução de certas ações, e hoje professores e gestores tentam desenvolver teorias sobre como se dão esses vínculos e as formas adequadas de gerenciá-los, procurando aumentar suas formações acadêmicas, as teorias científicas existentes, melhorando as interações com colegas e observando outros gestores.

Na verdade, o afeto desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da inteligência, sem ele não é possível motivação, interesse, e necessidade de melhoria; sua falta traz ausência de questionamentos, apatia e decréscimo cada vez mais acentuado da cognição.

Sem afeto, o sistema cognitivo se torna cada vez menos operante, decresce a pulsão de vida e a busca pela excelência, pois ele é a propulsão dos movimentos mentais conscientes e inconscientes, racionais e irracionais. Na família, no trabalho, no ambiente escolar, é preciso existir afetividade; aproximar-se do outro, saber ouvi-lo, valorizá-lo e acreditar nele, dando abertura para a sua expressão. Cada ser humano deve voltar seu olhar afetivo aos demais de modo a passar certa credibilidade quanto às suas opiniões.

Um ambiente de desconfiança contamina a todos, traz doenças físicas e transtornos mentais. Necessitamos entender o papel da afeto ao longo da vida, em especial na infância e juventude, somos seres sociais que estão construindo o que pode vir a ser um mundo melhor para todos.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.