Somos a única espécie que tem consciência da finitude da vida, e a certeza da morte permeia nossa cultura, filosofia e religiões. O Estoicismo propõe aceitar o inevitável; o romano Horácio sugere “carpe diem”, colher o dia, como forma de aproveitar o momento e a vida; praticamente todas as crenças religiosas têm a transcendência da matéria como princípio; obras de ficção falam de personagens que teria alcançado a vida eterna.

De algum modo, todos gostaríamos de viver ao máximo possível, senão eternamente pelo menos um período longo, para vermos crescer filhos, netos e de preferência bisnetos, visitarmos muitos lugares, conhecermos muitas pessoas maravilhosas e ter felicidade.

A questão é que sempre imaginamos esta vida cheia de saúde, pois esta é a condição principal do bem-estar, o que nem sempre acontece pelo desgaste natural ou provocado – bebidas, cigarros, ausência de exercícios físicos – que terminam por nos impedir ampla mobilidade e ausência de dores.

O sonho é sermos Matusalém, patriarca bíblico nos registros do judaísmo, cristianismo e islamismo, o homem mais longevo da Bíblia, morto apenas aos 969 anos segundo o Livro de Gênesis. Embora  

muitos creditem isso a uma tradução incorreta, ou ao fato proposital de aparentar que a história teria ocorrido num passado muito distante, alguns historiadores atribuem isso a “vestígios das lendas da Mesopotâmia” presentes na Epopeia de Gilgamesh; contos de reis que viveram por milhares de anos podem ser encontrados tanto na mitologia indiana quanto na chinesa.

Se olharmos estas histórias, veremos que são relatos de pessoas que tinham um propósito definido em suas vidas, fossem eles quais fossem. Uma vida longe de drogas, lícitas ou ilícitas, em contato frequente com a natureza, boa alimentação e sono, na medida do possível longe do estresse e das violências parece ser fundamental, mas um objetivo claro, um trabalho que dá satisfação, parecem predominar para manter-se saudável e ativo até idade avançada.

Do ponto de vista biológico, desconsiderando acidentes e outras fatalidades que levam a morte prematura, seres vivos cumprem um mesmo ciclo: concepção, desenvolvimento, nascimento, crescimento, maturidade, envelhecimento e morte, mas o tempo transcorrido entre um e outro evento é variável entre as várias espécies animais, determinado pelas condições genéticas, pelo seu meio ambiente, sujeito ou não a grandes catástrofes ou muita poluição, e também ao estilo de vida.

Prevê-se que nos países em desenvolvimento o número de idosos aumentará de 200% para cerca de 300% em poucos anos, o que terá impacto imenso na saúde e assistência médica, no crescimento econômico, nos hábitos de consumo e no mundo do trabalho.

Esta é uma realidade mundial, porém a previsão é de que aumentar a proporção de idosos nos países pobres é maior que aquela esperada nos países em desenvolvimento.

O impacto na saúde pública é imenso, pois com a idade acontece uma mudança gradativa no metabolismo, visão, estatura, audição e locomoção, que comprometem conforto e qualidade de vida, e com o afastamento do trabalho, para aqueles que tem sorte de uma aposentadoria, passam a maior parte de tempo em sua moradia.

No entanto, é fácil observar as especificidades de mobilidade, acuidade dos sentidos e grau de dependência em decorrência do estilo de vida de muitos, na realização de suas tarefas, e prevenção seria fundamental para não ocorrer a sobrecarga que uma velhice doentia representa para o país.

O adiamento da idade de início das doenças e suas complicações, poderia impactar na progressão positivamente as consequências do processo de senescência humana que, com os devidos cuidados, pode ser uma experiência de liberdade e felicidade.

Pesquisas revelam que determinadas características psicológicas e de resiliência, assim como alguns aspectos culturais, relacionados com a forma de encarar situações adversas também influenciam em resultados, eventos e desfechos, tanto individuais quanto coletivos

O envelhecimento da população e, portanto, a longevidade, estão dentre as maiores conquistas e desafios do século XXI e demandam revisão do conceito de velhice. As condições de vida: educação, saneamento, moradia, trabalho, vida cultural na comunidade, participação social e política, parecem ser os fatores que determinam do a qualidade e o prolongamento da vida das pessoas.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.