Vários estudos epidemiológicos e, recentemente em 2012, a Reunião das Nações Unidas sobre Prevenção e Controle das Doenças Não Transmissíveis (DNT) trouxe números alarmantes sobre as doenças do coração. Tomo a liberdade de, neste artigo, descrever alguns destes dados e reverberar as reflexões que eles ocasionam.
As doenças cardiovasculares continuarão sendo a principal causa de morte no mundo, cerca de 7,3 milhões/ano, número que deverá superar 23,6 milhões até 2030, especialmente na América Latina, onde cerca de 40% das mortes ocorrem durante os anos mais produtivos de vida.

No Brasil, as doenças cardiovasculares causam 31,3% das mortes entre as DNT, contra 16,3% do câncer, 5,8% de doenças respiratórias crônicas e 5,2% de diabetes. Afetam indivíduos de todos os níveis socioeconômicos e, mais especificamente, aqueles que pertencem a grupos vulneráveis, como os idosos e as pessoas com baixo nível educacional e econômico.

Ainda no Brasil, 300 mil morrem anualmente devido a doenças cardiovasculares, como infarto, acidente vascular encefálico, insuficiências cardíaca e renal ou morte súbita, o que significa 820 mortes por dia, 30 mortes por hora ou uma morte a cada 2 minutos.

Estima-se que a redução de 10% da taxa de mortalidade causada por doença isquêmica do coração e acidente vascular encefálico geraria uma economia estimada em US$ 25 bilhões por ano para os países de baixa e média renda.

Temos, todos nós, um papel importante como agentes críticos de mudança na abordagem da carga de doenças cardiovasculares no mundo. Temos que implantar medidas efetivas de prevenção e de controle, principalmente disseminando as informações sobre os principais fatores de risco. Quais são eles? O sedentarismo, a hipertensão, a ingestão excessiva de sódio e de gordura saturada, o tabagismo, a obesidade, o consumo excessivo de álcool e a hipercolesterolemia. Medidas simples, mas que podem prevenir infarto agudo do miocárdio e acidentes vasculares encefálicos.

As Nações Unidas estabeleceram, para 2025, metas globais que considero relativamente ousadas, entretanto extremamente válidas, para a prevenção e o controle das DNT. As que elenco abaixo considero as mais importantes:

  • Redução relativa de 25% na mortalidade por DNT
  • Redução relativa de 10% da prevalência de inatividade física em adultos
  • Redução relativa de 25% na prevalência de hipertensão arterial
  • Redução da ingestão média de sal da população adulta
  • Redução relativa de 30% da prevalência de tabagismo
  • Redução relativa de 15% da ingestão de ácidos graxos saturados, com o objetivo de atingir o nível recomendado inferior a 10% das necessidades diárias de gordura
  • Redução relativa da prevalência de obesidade
  • Redução relativa de 10% do consumo excessivo de álcool
  • Redução relativa de 20% de hipercolesterolemia
  • Metade das pessoas (50%) elegíveis deverá receber aconselhamento e terapia medicamentosa para prevenir ataques cardíacos e acidentes vasculares encefálicos
  • Disponibilidade de tecnologias e medicamentos essenciais, incluindo genéricos, para 80% da população portadora de DNT tanto no setor público como no privado.
  • Particularmente, gosto das metas de número 7, 8 e 10.

7. Atuar com os governos para o desenvolvimento e aplicação de um programa de prevenção cardiovascular nos países, estabelecendo formas de avaliação dos resultados junto à população.

8. Treinar e qualificar os profissionais de saúde para o tratamento das emergências cardiovasculares e encorajar os leigos a obterem técnicas e competências em ressuscitação cardiopulmonar utilizando protocolos estabelecidos pelas sociedades científicas.

10. Mobilizar os meios de comunicação para levar informações contínuas sobre a importância das doenças cardiovasculares, seus principais fatores de risco e formas de prevenção, ampliando a divulgação para a população com o intuito de evitar sua ocorrência e ressaltar a importância do diagnóstico precoce para reduzir a mortalidade.

Neste 25 de setembro, Dia Mundial do Coração, que nossos pensamentos se voltem à prática, e que nossa prática traga resultados efetivos em prol da prevenção e do controle das doenças cardíacas.

 

Alexandre Cury é Cardiologista do Laboratório Frischmann Aisengart