Segundo dados do Censo de 2010 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de brasileiros acima de 65 anos deve praticamente quadruplicar até 2060, chegando a 58,4 milhões de pessoas ou 26,7% do total da população. No período, a expectativa média de vida do brasileiro deve aumentar dos atuais 75 anos para 81 anos. As mulheres continuarão vivendo mais do que os homens. Em 2060, a expectativa de vida delas será de 84,4 anos, contra 78,03 dos homens.
Com a mudança da estrutura etária brasileira, resultado da redução do número de jovens e do aumento da população idosa, o Brasil deve passar por profundas transformações socioeconômicas. Em 2060, a previsão é que a proporção entre o número de pessoas consideradas economicamente produtivas (as que o IBGE considera em idade de trabalhar, entre 15 a 64 anos) e a parcela da população dependente (menores e idosos que não trabalham) seja de 65,9. Ou seja, cada grupo de cem indivíduos em idade ativa sustentará 65,9 indivíduos. Só para se ter uma comparação, neste ano de 2013 calcula-se que cada grupo de cem indivíduos em idade ativa sustenta 46 indivíduos.
E os integrantes da chamada terceira idade têm que, obrigatoriamente, fazer parte desta camada colocada à margem da sociedade? Não!
O termo envelhecimento ativo foi adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no final dos anos 90. Ele é definido como o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas. A palavra ativo refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho.
A abordagem do envelhecimento ativo se baseia no reconhecimento dos Direitos Humanos das pessoas mais velhas e nos princípios de independência, participação, dignidade, assistência e auto-realização estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Existem boas razões econômicas para se implementar programas que promovam o envelhecimento ativo, em termos de aumento de participação e redução de custos com cuidados. As pessoas que se mantêm saudáveis conforme envelhecem enfrentam, por exemplo, menos problemas para continuar a trabalhar. Em 2002, havia cerca de 400 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Destas, em torno de 70% viviam em países em desenvolvimento. Em 2025, existirá um total de aproximadamente dois bilhões de pessoas na terceira idade, sendo 80% nos países em desenvolvimento.
Segundo um relatório da OMS, o rápido envelhecimento nos países em desenvolvimento é acompanhado por mudanças nas estruturas e nos papéis da família, assim como nos padrões de trabalho e na migração. A urbanização, a migração de jovens para cidades à procura de trabalho, famílias menores e mais mulheres tornando-se força de trabalho formal estão provocando uma diminuição objetiva na capacidade das famílias em cuidar de pessoas mais velhas. Enquanto os países desenvolvidos tornaram-se ricos antes de envelhecerem, os países em desenvolvimento estão envelhecendo antes de obterem um aumento em sua riqueza.
Com isso, a proposta visa à abordagem dos três pilares do envelhecimento ativo: saúde, participação e segurança. Na área da saúde, a tônica é prevenir e reduzir a carga de deficiências em excesso, doenças crônicas e mortalidade prematura. A meta é alcançar melhorias na saúde de idosos e redução de doenças crônicas, deficiências e mortalidade prematura durante o processo de envelhecimento.
Hoje as principais doenças crônicas que afetam os idosos em todo o mundo são: doenças cardiovasculares (tais como doença coronariana), hipertensão, derrame, diabetes, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica, doenças músculo-esqueléticas (como artrite e osteoporose), doenças mentais (principalmente demência e depressão), cegueira e diminuição da visão.
Um dos itens importantes é a medicina preventiva. A prevenção de doenças abrange a prevenção e o tratamento de enfermidades especialmente comuns aos indivíduos à medida que envelhecem. A prevenção pode ser primária (abstenção do uso do tabaco); secundária (triagem para detecção precoce de doenças crônicas); ou ainda, terciária (tratamento clínico adequado). Todas as formas contribuem para reduzir o risco de incapacidades.
As estratégias de prevenção de doenças, que podem também incluir as doenças infecciosas, poupam gastos em qualquer idade. Por exemplo, a vacinação de idosos contra gripe proporciona uma economia de 30 a 60 dólares em tratamento por cada dólar gasto em vacinas.
Questões mais do que relevantes para nossa reflexão neste mês de outubro, quando celebramos o Dia Internacional da Terceira Idade e o Dia Nacional do Idoso.
Clovis Cechinel é Geriatra do Laboratório Frischmann Aisengart