Vamos imaginar que você faça um check-up de rotina e que descubra que está com o colesterol um pouco alto. Não se assuste, pelo menos por enquanto. Pode ser que os parâmetros usados mudem, assim como o índice hoje considerado de risco. É o que explica Emilio Salvador Granato, responsável técnico do Laboratório Frischmann Aisengart, acadêmico honorário da Academia Paranaense de Medicina, além de professor de Histologia (curso de Medicina) e de Citologia Clínica (curso de Farmácia e Bioquímica) da Universidade Federal do Paraná, de 1963 a 1994.

Os Estados Unidos estão para lançar um conjunto de diretrizes, chamado de ATP IV, que pretende revisar as diretrizes a respeito das taxas do mau colesterol (LDL) consideradas seguras. O principal objetivo é evitar a medicação exagerada e o uso desnecessário de remédios para quem tem uma taxa um pouco acima do limite. A mudança pode influenciar outros países, inclusive o Brasil.

O especialista conta que os números vêm baixando a cada revisão. Em 1988, quando foi lançado o ATP I, o limite do colesterol considerado seguro era de até 130 mg/dl. Em 2002, a taxa passou para 100 mg/dl e, na última revisão, para 70 mg/dl.

Para chegar ao índice considerado ideal, uma quantidade enorme de pacientes passou a tomar estatinas, o medicamento mais vendido no mundo atualmente. Este remédio, segundo pesquisas, ajuda a diminuir o LDL-colesterol no caso de quem tem fatores de risco, como histórico de infarto na família, fumar ou ser sedentário, mas faz pouca diferença quando a taxa está um pouco acima do ideal e os fatores estão controlados.

O fato de haver um afrouxamento desses índices não significa que eles serão desprezados. Mas outros critérios devem ter maior atenção do que hoje. A questão é que estes números são o único fator mensurável, ao contrário dos exercícios físicos e da alimentação. Então, eles adquirem grande importância, explica Granato.

Se o paciente toma remédios e, mesmo assim, não consegue baixar o LDL, a recomendação é, mesmo assim, não aumentar a dose. Isso porque as estatinas podem ter efeitos colaterais como a destruição de células do músculo, dentre outros. E não há estudos que comprovem que o aumento da dose faz aumentar proporcionalmente o benefício à saúde.

Para o patologista clínico do Laboratório Frischmann Aisengart o ideal é o LDL abaixo de 100 mg/dl, com uma investigação aprofundada em casos limítrofes. A pergunta que deve ser feita é: até que ponto vale insistir nesses índices e comprometer a qualidade de vida do paciente com remédios que podem causar dores?, questiona.

O que é o colesterol alto
Segundo Granato, cerca de 30% do colesterol é a gordura da alimentação absorvida no intestino que entra na corrente sanguínea, sendo transportada por proteínas, formando o complexo lipoproteína (lipo = gordura). As principais lipoproteínas são: HDL (conhecido como o bom colesterol), o LDL (denominado como o mau colesterol) e o VLDL. O colesterol é necessário para importantes funções do organismo, como a produção de hormônios, ácidos biliares e das membranas de todas as células. Mas, em excesso, pode causar problemas, comenta.

Quando o colesterol atinge níveis altos, oriundos de distúrbio genético somado à alimentação incorreta, as artérias são obstruídas por placas de gorduras, que podem comprometer e até interromper a irrigação normal dos tecidos do sangue, levando às lesões e até à morte da região atingida. Como exemplos podemos citar a obstrução das artérias do coração, que causa um infarto e compromete a função do órgão de bombear o sangue para todo o corpo e para as artérias que irrigam o cérebro, o que acarreta um acidente vascular cerebral isquêmico, conhecido pela sigla AVC, acrescenta.

Como é uma doença silenciosa, que não apresenta sintomas, o diagnóstico é feito por meio de análises do sangue do paciente. Por isso, é muito importante a realização de exames periódicos. “Eventualmente, o excesso de triglicérides (outra fração de gordura do sangue) pode levar ao surgimento de manchas ou erupções amareladas na pele”, afirma.

O ideal é que o paciente procure um médico e se submeta às medidas necessárias. O tratamento deve ter medicamentos à base de estatinas  e alimentação adequada. Além disso, o paciente deve praticar exercícios físicos regulares e eliminar outros fatores de risco”, conclui.

Alimentos ricos em colesterol
Os principais são: vísceras de animal (fígado, miolo, miúdos), leite integral e seus derivados (queijo, manteiga, creme de leite), biscoitos amanteigados, croissants, folheados, sorvetes cremosos, frios (presunto, salame, mortadela), pele de aves, frutos do mar (lagosta, camarão, ostra, marisco, polvo), gema de ovo, dentre outros.

Como aumentar o HDL-colesterol (colesterol bom) e diminuir o LDL-colesterol (colesterol ruim).

Mudança do estilo de vida, incluindo dieta equilibrada, exercício físico aeróbico (caminhada, corrida ou ciclismo de 3 a 6 vezes por semana, por 40 minutos), abstenção do fumo (o fumo leva à queda de HDL-colesterol) e perda de peso, nos casos indicados de combate à obesidade. O uso de gorduras insaturadas encontrado nos óleos de oliva, óleo de canola, azeitonas, abacate, castanha, nozes e amêndoas reduzem o colesterol total, sem diminuir o HDL-colesterol. Diminuir a ingestão de gordura saturada existente nas carnes gordurosas, leites e derivados, polpa de coco e óleo de dendê, por exemplo.