A dor é uma resposta do organismo, um sintoma que serve como um mecanismo de defesa. A sensação de dor é semelhante à quando estamos com febre, indica que algo está errado. Entretanto, sentir dor por um tempo prolongado não é normal. Dores que persistem por mais de três meses são consideradas dores crônicas. Dores na coluna e dor de cabeça estão entre as causas mais comuns de dor crônica. No longo prazo, elas tendem a afetar a qualidade de vida do paciente e a dificultar a realização de atividades do cotidiano. Nesses casos, como devemos proceder?
Antes de tudo é preciso entender que a dor envolve a sensibilidade de determinada região do corpo, mas também carrega um componente afetivo: como o paciente interpreta a dor. Além disso, outros problemas secundários como dificuldade de se locomover, alterações do humor e distúrbios do sono também estão presentes. Por isso, o tratamento precisa ser multidisciplinar. Além do médico, grande parte dos casos demanda uma atuação em conjunto que pode envolver fisioterapeuta, enfermeiro, psicólogo, psiquiatra ou assistente social.
Apesar dos avanços no tratamento farmacológico e terapias não invasivas para dor crônica, um número significativo de pacientes não responde aos tratamentos convencionais. Para esses casos, existem outras abordagens possíveis. Por exemplo, em dores crônicas da coluna (seja antes ou após cirurgia de coluna), podemos fazer bloqueios anestésicos localizados para o alívio da dor. O próximo passo pode ser a realização de ablações por radiofrequência, que são pequenas lesões por temperatura alta no nervo afetado, que podem cessar ou reduzir a intensidade da dor por um tempo prolongado. Esses procedimentos são realizados com anestesia local ou sob sedação.
A estimulação medular também é uma alternativa cada vez mais utilizada no nosso meio. Existem técnicas que possibilitam, com o auxílio de uma agulha, a instalação de um eletrodo próximo à medula espinhal ou nervos do paciente. Esse dispositivo é ligado a um gerador, semelhante a um marca-passo, que é regulado para estimular a área afetada e aliviar a sensação de dor.
Com a escalada da dor, ainda é possível considerar a estimulação cerebral profunda – do inglês Deep Brain Stimulation (DBS) – para casos cuidadosamente selecionados. A técnica já foi aplicada em mais de 100 mil casos em todo o mundo, sendo aproximadamente 90-95% das vezes para minimizar os tremores causados pela Doença de Parkinson. Os estudos envolvendo o uso da técnica para dor crônica ainda não são tão claros em relação a quais são os pacientes que mais se beneficiam, mas existem experiências bem-sucedidas em diversos países, como Inglaterra e Estados Unidos.
Na estimulação cerebral profunda, através de um pequeno orifício no crânio, implantamos um eletrodo em locais específicos do cérebro, com uma precisão milimétrica. Esse dispositivo é conectado a um gerador de pulsos elétricos colocado sob a pele, também semelhante a um marca-passo. O envio desses estímulos elétricos ao cérebro pode resultar na redução da dor ou, em alguns casos, na interrupção por completo. A estimulação cerebral profunda requer um procedimento mais invasivo, e por isso demanda uma análise individual minuciosa. É considerado um último recurso no tratamento para dor crônica, mas um passo viável e que tem merecido cada vez mais atenção dos neurocirurgiões especialistas nesta área.
Dr. Leonardo Frizon é neurocirurgião do Hospital Santa Cruz, de Curitiba (PR), possui certificado de área de atuação em dor pela Associação Médica Brasileira e, entre 2016 e 2018, realizou pesquisas envolvendo estimulação medular e estimulação cerebral profunda para dor e transtornos do movimento na Cleveland Clinic, nos Estados Unidos.