No início, é uma dorzinha de cabeça chata que insiste em aparecer de vez em quando. Com o tempo, ela se torna recorrente, surge quase todos os dias e parece que nenhum remédio consegue aliviar a dor. De repente, seus familiares e amigos começam a perguntar: “mas de novo com dor de cabeça?”. Se você se identificou com esse cenário, não se desespere. Estamos falando de um mal que acomete 50% da população e é uma das principais causas das consultas do ambulatório geral de neurologia.
A enxaqueca pode acontecer em diferentes faixas etárias e ter variados fatores desencadeantes. Alguns pacientes podem ter dor de cabeça associada à ingesta de alguns alimentos como, por exemplo, queijos e vinhos. Outros podem também ter dor relacionada ao sono (variação do número de horas em repouso para mais ou para menos, sono irregular ou insônia). No caso das mulheres, também pode haver correlação com o período menstrual. Finalmente, podemos dizer ainda que há quem apresente dor de cabeça sem que seja possível identificar o fator desencadeante.
Por isso, é muito importante entender que existem inúmeros tipos de dores de cabeça – também chamadas de cefaleias – classificadas até o momento. E antes de sair tomando analgésicos, é preciso entender que a abordagem terapêutica varia de acordo com o tipo de dor e que a eficácia depende também da identificação e do tratamento do fator desencadeante como, por exemplo, transtornos de humor (depressão, ansiedade) e do sono.
Além disso, como os tratamentos são variados, o que funciona para um paciente, pode não fazer diferença para outro. Em geral, a terapia se baseia em dois princípios. O primeiro é focado no tratamento adequado da crise, com o uso de analgésicos específicos para cada tipo de dor de cabeça – sempre de acordo com a orientação médica. O segundo está relacionado à periodicidade das crises. É preciso investir na prevenção da ocorrência e na redução da frequência.
Em busca desse resultado, é bastante comum optarmos por um tratamento profilático a base de medicamentos de uso contínuo. Com essa abordagem, no entanto, o paciente tem de assumir dois compromissos importantes: tomar o remédio com regularidade e nunca interromper o uso de maneira precoce ou abrupta. Isso não significa que as substâncias utilizadas são do tipo que tipicamente causam alguma dependência. Muitas vezes, não são remédios unicamente desenvolvidos para o combate à enxaqueca, mas que apresentam efeitos colaterais benéficos para o controle da dor.
Também é importante compreender a doença, assim como muitos outros tipos de dores de cabeça, como um transtorno crônico, que pode apresentar períodos de melhora e até remissão, alternados com períodos de recaída. Às vezes, pode ser necessário retomar o tratamento mais de uma vez ao longo da vida do paciente, enquanto em alguns casos pode ocorrer uma excelente resposta já na primeira tentativa. O principal objetivo é melhorar qualidade de vida daqueles que convivem com a enxaqueca. Pense em como seria viver sem dor. Muito bom, não é?
Dra. Ana Carolina Dalmônico é médica neurologista e integra o corpo clínico do Hospital Santa Cruz, de Curitiba (PR).