
Curitiba será palco, em agosto de 2025, de um projeto que transcende o concerto musical para se tornar manifesto artístico, social e sensível: CuritiDivas. Idealizado e dirigido pelo contratenor Paul Colmenares, com colaboração musical da pianista Priscila Malanski e produção de Valquiria Rumor, o projeto reúne intérpretes mulheres – cis e trans – em uma celebração da música clássica feita por mulheres, para todos os públicos. A iniciativa nasce como resposta a um cenário ainda desigual: embora as mulheres representem mais da metade dos estudantes de música no Brasil e no mundo, elas continuam sub-representadas nos palcos, nas programações das grandes orquestras e nos cargos de liderança musical. Em 2022, um estudo da Fundação Gulbenkian revelou que menos de 5% das obras executadas por orquestras europeias eram compostas por mulheres. No Brasil, a presença de mulheres regentes e solistas em grandes temporadas ainda é exceção. Com trajetória marcada pela democratização do acesso à música de concerto, Paul Colmenares realizou, por meio de edital da FUNARTE, o projeto “Concerto Interativo – Contratenor Barroco aos Estilos Atuais”, que levou apresentações de música erudita a crianças de escolas públicas, mesclando repertório clássico com linguagens acessíveis. Agora, com o Curitidivas, Paul amplia esse compromisso ao criar um espaço onde a música clássica se encontra com a diversidade, a representatividade e o direito à escuta.
O nome do projeto une a cidade que o abriga e inspira – Curitiba – ao brilho das grandes intérpretes: as DIVAS. Mas CuritiDivas não se limita a exaltar o talento feminino. Ele cria espaços onde esse talento pode ser visto, ouvido e reconhecido. Espaços de pertencimento, escuta, e sobretudo, de potência.
“Sempre me emocionou a força das mulheres na música, especialmente daquelas que, por muito tempo, ficaram à margem dos grandes palcos. CuritiDivas nasce do desejo de devolver a elas o centro da cena – com liberdade artística, beleza e dignidade”, afirma Paul Colmenares, proponente do projeto.
Uma jornada de vozes femininas
A programação começa com seis recitais líricos para voz e piano, nos dias 13 e 14 de agosto, no Instituto de Educação do Paraná. As apresentações são voltadas exclusivamente para crianças e adolescentes da própria escola, com o objetivo de aproximar esse público da música erudita de forma sensível e acessível. Mais do que ouvir música, os jovens são convidados a vivenciá-la, por meio de uma escuta ativa e interativa. O repertório, escolhido pelas próprias solistas, transita de Vivaldi a Villa-Lobos, em interpretações onde a voz não é apenas técnica: é corpo, identidade e expressão.
“Cada mulher que sobe ao palco deste projeto carrega mais que partituras. Carrega histórias, vivências, conquistas. O CuritiDivas não impõe repertório – ele convida as artistas a escolherem aquilo que dialoga com sua alma. Isso é raro e precioso”, explica Valquiria Rumor, produtora com mais de duas décadas de atuação na cena cultural.
O grande encontro
O ápice da experiência será no domingo, 28 de setembro, com um concerto especial no Auditório Mario Schoemberger, espaço de acústica impecável e acessibilidade garantida. Aberto ao público e com entrada gratuita, o espetáculo conta com a presença da solista trans Júni Bochne e será acompanhado pelo núcleo feminino da Orquestra Negra de Curitiba, coordenada pela Associação Beneficente Eduardo Filho (ABEF) e suas convidadas. O programa será inteiramente lírico, misturando a beleza da ópera e das canções de câmara, com curadoria coletiva das próprias intérpretes.
Mais do que um recital, o concerto é a celebração de um caminho construído por muitas mãos, onde cada mulher é protagonista de sua arte. O concerto será integralmente traduzido em Libras, garantindo a participação plena do público surdo, e incluirá ainda uma canção especialmente interpretada nessa linguagem, em cena, como gesto poético de acessibilidade estética e sensorial.
O projeto também conta com a presença de uma agente cultural PCD na equipe, reforçando seu compromisso com inclusão, diversidade e a construção de experiências culturais verdadeiramente acessíveis.
Música que inclui, acolhe e transforma
Um dos destaques do projeto é a contrapartida social: uma Oficina Liniker de música clássica voltada para mulheres e trans, ministrada por uma das solistas trans do projeto Júni Bochne, no auditório Tiradentes EMBAP. É mais que formação musical: é um gesto de inclusão, escuta e afirmação de vidas.
“A arte é um território que deve acolher. Quando uma mulher trans entra em contato com a música clássica em um ambiente respeitoso, ela não só aprende — ela se vê como parte de algo maior. Isso é uma revolução silenciosa”, destaca Paul.
“O CuritiDivas foi pensado com cuidado em cada detalhe: da escolha das obras ao perfil das artistas, do espaço físico à linguagem acessível. Não é só sobre fazer música — é sobre criar pontes”, reforça Valquiria.
CuritiDivas: um gesto, uma semente
Em um tempo em que a arte precisa falar com mais pessoas e sobre mais realidades, CuritiDivas surge como um gesto poético e necessário. Um projeto que veio para inspirar jovens estudantes, forma plateias conscientes, valoriza a mulher artista e reescreve o lugar da música clássica na vida pública.
SERVIÇO
CuritiDivas
📍 Recitais: 13 e 14 de agosto de 2025 – Instituto de Educação do Paraná – Horários: 09h10, 15h e 19h30 – Evento fechado para os alunos do Instituto
📍 Concerto: 28 de setembro de 2025 – Auditório Mario Schoemberger – Horário: 19h
💬 Entrada gratuita aberto ao público geral | Acessibilidade em Libras
📍 Oficina: 17 e 20 de outubro de 2025 – Auditório Tiradentes EMBAP – Horários: 11h às 13h – Voltada às mulheres e trans da comunidade e ao público em geral