Por Emerson Urizzi Cervi 

Eu resumiria dizendo que estamos tendo a nossa “primavera árabe” tardia. Claro que podemos olhar para o Egito de hoje e entender quais as consequências que a primavera árabe teve lá (basicamente, ditadura, perseguições e retrocessos de gerações). Bem, mas a aposta do Brasil é que mesmo usando todos os mesmos ingredientes, o resultado será diferente. Por que seria distinto o final? Ninguém sabe responder. Outro detalhe importante: muitas vezes nas democracias de massa os fatos mais aparentes não são os mais importantes. O que mais aparece no Brasil de hoje? Uma massa nas ruas das grandes cidades pedindo a substituição do governo de maneira emocional, errática e pouco consistente. Parece que isso é o que importa, assim como parecia que o twitter era o grande motor da primavera Árabe. Hoje sabemos que não foi e amanhã descobriremos que enquanto as massas gritam nas ruas, as peças políticas se movem em silêncio. A questão é que temos todas as condições para uma verdadeira instabilidade continuada na política. Quais são elas: 1) um governo Dilma medíocre seja do ponto de vista dos resultados de política pública, seja do ponto de vista das relações com as forças políticas no congresso e econômicas na sociedade; 2) uma oposição também medíocre, seja do ponto de vista da qualidade das lideranças individuais, seja do ponto de vista da qualidade da política que faz nos ambientes institucionais, como o congresso; 3) uma burocracia judicial (promotores e juízes federais) autoritária e partidarizada, que age não em busca da justiça, mas para prender uma única pessoa; 4) uma imprensa que por ter que dividir seu poder com novos meios de difusão de conteúdos (redes sociais) se torna um ativista político antes de um meio de comunicação. Junte tudo isso (deve ter outras) e vc verá o ambiente explosivo que estamos. A questão que pega para mim é: qual será o dia de amanhã. Se tirarmos as 4 coisas que citei e deixarmos as instituições democráticas, o amanhã está garantido. Mas, se torcermos as leis e regras apenas porque não gosto ou não quero que tal governo continue ou tal pessoa não seja presa, não teremos amanhã, nem praça da liberdade, nem primavera, nem pirâmides. Nos sobrará o retorno ao século passado e perderemos mais algumas gerações de brasileiros para tentar consertar as coisas.

*Emerson Urizzi Cervi é professor adjunto do Departamento de Ciência Política e Sociologia, do programa de pós-graduação em Ciência Política e do programa de pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro- IUPERJ (2006), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (2002) e graduação em Comunicação Social Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (1996). Coordena o grupo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (Cpop), com pesquisas e publicações nas áreas de debate e opinião pública, eleições, partidos, comunicação eleitoral, financiamento de campanhas e metodologia de pesquisa. Coordenador do programa de pós-graduação em Ciência Política da UFPR (2012-2014). Coordenador do Grupo de Trabalho em Financiamento Política da Associação Nacional de Programas de Pós-graduação em Ciências Sociais – Anpocs (2013-2014)