Fabricar bons produtos não era o suficiente para ele. Era preciso ter impacto. Refinar a tecnologia e o design eram suas obsessões. Por isso, recrutava jovens universitários capazes de criar e pensar fora dos padrões Talentoso para falar em público, sabia que para conquistar corações e bolsos era necessário surpreender e encantar. Ficou famoso porque era a personificação de sua empresa. Foi chamado de visionário e ganhou fãs pelo mundo.
Apesar da descrição acima funcionar para Steve Jobs, ela, na verdade, é de é Edwin Land, um dos ídolos e inspirações do fundador da Apple. Como o pupilo, Land comandou em sua época uma empresa que estava na vanguarda da inovação tecnológica: a Polaroid.
Essa analogia é o ponto de partida do livro Instant – The Story of Polaroid (Princeton Architectural Press, sem edição brasileira), escrito pelo jornalista americano Christopher Bonanos. O livro mostra que o roteiro de Land à frente da Polaroid, empresa que criou em 1937 e comandou até 1980, em muito lembra o caminho da atual empresa mais valiosa do mundo sob Jobs. Ele foi capa das revistas ‘Time’ e ‘Life’, ele era retratado pela imprensa da mesma maneira que Steve Jobs era, disse Bonanos em entrevista por telefone.
No começo, a Polaroid desenvolveu uma tecnologia para escurecer vidros com o comando de um botão – a chamada polarização que deu nome à companhia. Formado em química pela Universidade Harvard, Land desejava que seus funcionários fossem além de simplesmente entregar o que era pedido: Criamos um ambiente em que se esperava de um homem que se sentasse e pensasse por dois anos, afirmou Land numa entrevista.
Valorizava-se tanto a pesquisa que um Departamento de Pesquisas Miscelâneas testava e maturava ideias de vários tipos. Algumas nunca vingaram, mas outras ganharam vida, como foi o caso do filme de revelação instantânea, o produto que colocou a Polaroid na história.
Por trás do grande sucesso, Bonanos relata haver uma história com contornos de um mito bem amarrado demais para ser verdade. A ideia teria surgido durante as férias de Land com a família. Depois de fazer retratos da filha, ela teria lhe perguntado: Por que não posso ver as fotos agora?. Essa teria sido a fagulha para a invenção da revelação instantânea. Depois de alguns anos de pesquisa, a novidade foi apresentada em 1947, num evento grandioso em Nova York. Frente a uma plateia de cientistas e jornalistas, Land se deixou fotografar e ele mesmo revelou, instantaneamente, um retrato seu.
As expectativas iniciais da Polaroid foram superadas e por muito Previa-se a venda de 50 mil unidades do chamado modelo 95. Até 1953, ano de aposentadoria da primeira câmera do tipo, foram mais de 900 mil. Os números são ainda mais surpreendentes levando-se em consideração que os primeiros filmes instantâneos, ainda em preto e branco, tinham problemas. Fotos sumiam depois de um certo tempo. A solução foi incluir um lenço embebido em um produto químico para fixar a imagem. Nada que diminuísse o entusiasmo dos consumidores.