Se existe uma mulher capaz de regenerar Marconi Ferraço (Dalton Vigh), o vilão de “Duas Caras”, da Globo, é Alinne Moraes. Ou melhor, Maria Sílvia Pessoa de Moraes Barreto, personagem da atriz na novela das nove de Aguinaldo Silva. A museóloga tem a missão de humanizar o vigarista, tarefa que nem a mocinha Maria Paula (Marjorie Estiano) conseguiu cumprir.
Após uma temporada de estudos na Europa, Maria Sílvia desembarca no Rio de Janeiro por conta de uma tragédia, a morte do pai, João Pedro (Herson Capri), vítima de uma bala perdida durante um passeio no circo com a amante, Célia Mara (Renata Sorrah) “Sílvia é uma garota sofisticada, morou dez anos em Paris. Quando volta para casa, entende que tem de fazer um curso intensivo sobre o Brasil para se acostumar com a cultura e as pessoas do País novamente”, diz Alinne.
Em meio à perda e uma crise familiar – a mãe, Branca (Suzana Vieira), não digere a traição que foi parar na primeira página dos jornais e quer obrigar a herdeira a assumir os negócios da família -, a jovem cruza com o vilão.
Marconi tenta tirar proveito da fragilidade da personagem, como fez com Maria Paula no passado, mas o plano não sai como imagina “No começo ela resiste, mas acaba gostando dele. Os dois se envolvem e a relação vai pegá-lo de surpresa. Pela primeira vez, ele vai se apaixonar perdidamente por uma mulher”, conta a atriz
A força do amor – recurso mais que batido na teledramaturgia, mas ainda eficiente – inspira a regeneração de Marconi. A rotina do futuro casal, contudo, não será das mais fáceis. Primeiro, o executivo tem de dobrar a resistência de Branca e convencer que é um partidão. E assim que conquista a sogra, vê o passado bater à porta. Maria Paula invade a festa de noivado do ex e grita que foi roubada e abandonada dez anos atrás, quando ele apareceu em sua vida dizendo que era Adalberto Rangel.
O romance fica estremecido. “Não sei se ela é vilã ou mocinha, mas já sei que tem duas caras, como todos os personagens da novela. Sílvia é determinada, e não vai desistir do noivo.”
A composição do tipo bem nascido e chique fez Alinne “suar”. Adepta do estilo básico fora de cena, a intérprete conta que Maria Sílvia a obrigou a tirar o livro de etiqueta e o salto do armário. “É uma personagem muito distante de mim. É rica, sofisticada, cheia de etiqueta. Sou mais rasteirinha. E estudou museologia, quem a gente conhece que estuda isso (risos)?”, diz. “Vou usar batom e salto em uma novela pela primeira vez, estou até treinando em casa para não fazer feio em cena.”
Alinne não sabe se o telespectador vai torcer por Maria Sílvia ou por Maria Paula quando Marconi ficar dividido entre as duas, mas aposta que a sua personagem vai ser copiada nas ruas. “Ela é Vogue, vem para ditar moda, está sempre de luva, boné, roupa de grife.”
Rosto bastante conhecido na televisão, surpreende ao dizer que ficou insegura com o convite do autor Aguinaldo Silva e do diretor Wolf Maya para voltar ao vídeo – sua última aparição em telenovelas foi como Penny Lane, do fiasco das sete “Bang Bang” (2006). “Fiquei um ano e meio longe da TV. Quando me chamaram para fazer a Sílvia em ‘Duas Caras’, pensei: será que consigo? Fiz cinema e teatro nesse período, são linguagens diferentes.”
Já readaptada ao Projac, a atriz e modelo comemora um feito. A trama das nove a deixou longe das polêmicas, que pontuam sua trajetória no veículo. “Falei de homossexualismo (como a Clara, de ‘Mulheres Apaixonadas’) e fui mãe solteira na primeira novela (como a Rosane, de ‘Coração de Estudante’). Fazer uma personagem simples é mais fácil.”