Jô Soares voltou ao ar ontem, em versão mais leve. O sexteto voltou a ser quarteto, como era no princípio, ainda pelo SBT, e o programa perdeu um de seus três blocos, fechando agora em 40 minutos de duração. A decisão de reduzir a atração veio da direção da Globo, que estuda a possibilidade de abrir espaço para um segundo programa de fim de noite na grade diária. Em entrevista ao jornal O Estado de S Paulo, Jô falou que aposentadoria não faz parte de seus planos, mesmo aos 77 anos.
Agência Estado — Por que o Sexteto do Jô virou Quarteto?
Jô Soares — O Sexteto foi um acréscimo que foi surgindo com o tempo. Nessa volta, eu disse: “já que diminuiu o cenário, volta o quarteto original”. Eventualmente, eles (Tomati e Chiquinho, que saíram) podem voltar como convidados, mas o essencial é que não se mexesse no quarteto original. Quem começou o programa, no SBT, que já fazia parte da orquestra do Silvio (Santos), do maestro Zezinho, eram o Rubinho, o Miltinho e o Bira. Quando começou o programa, veio o Derico.
AE — O programa foi reduzido?
Jô — Foi reduzido em um bloco, o que eu acho que agilizou mais. Como vai ao ar muito tarde, o último bloco acabava ficando meio prejudicado. Agora o programa tem 40 minutos. Excepcionalmente pode chegar a 45. A gente fazia a maioria em 60 minutos, não cortou muito. Na essência, no espírito do programa, não mudou nada.
AE — Foi pedido seu ou da Globo?
Jô — É que existe a possibilidade de entrar mais um programa de fim de noite depois do Programa do Jô. É uma possibilidade, não tem confirmação nenhuma. É um programa que criou um horário nobre, desde o SBT. Era um horário que praticamente não existia e foi se transformando num horário nobre. Isso é uma das coisas que me envaidecem muito, ter aberto mais um espaço.
AE — Muita gente fala em fazer talk-show, mas poucas iniciativas funcionam. Por quê?
Jô — Johnny Carson dizia que o talk-show diz respeito de quem está atrás da mesa e de quem está sentado ao lado. Não adianta grandes produções. Numa festa, um produtor de televisão disse a ele que estava preparando um talk-show diferente, em que o convidado ia chegar de helicóptero, e ele falou: “olha, pode ter tudo, o que interessa mesmo no talk-show é quem está atrás da mesa, quem está do lado e a interação dos dois”. Acho que nisso eu levei uma grande vantagem porque, quando comecei a fazer o talk-show, eu já tinha alguns anos de carreira e já conhecia gente de todas as áreas. Isso cria uma intimidade com o convidado.
AE — Você disse que quer trabalhar até morrer. Não tem planos de reduzir o ritmo ou se aposentar?
Jô — Não tenho mesmo. Inclusive o artista não tem. Veja a Inezita Barroso. Depende também: enquanto quiserem eu quero. E também eu tenho outras áreas. Tenho três convites de teatro para dirigir, ainda não escolhi o que sai primeiro. E estou escrevendo um livro novo, mas que não posso te adiantar o que é. Tem um contingente político muito forte. É ficção. O Harry Belafonte tem uma fixação enorme pelo meu primeiro romance (O Xangô de Baker Street) e me ligou semana passada pedindo para eu lhe enviar novamente o livro e o filme porque já passou bastante tempo, os direitos já venceram e ele quer ver se faz o filme. Ele está com 80 e poucos anos, mas em plena atividade.
SOBRE O POLITICAMENTE CORRETO
AE — O humor está finalmente se livrando da ditadura do politicamente correto?
Jô — O humor não está levando a sério o politicamente correto. Qual é o limite do humor? É ser engraçado para você. Tendo o objetivo de ser engraçado e alcançando um público que ache engraçado, tudo bem. Agora, se você se impõe um limite – “nesse assunto eu não toco” -, começa a ser uma coisa retrógrada.
AE — Para você, que começou na TV ao vivo e vê o vídeo sob demanda ganhar cada vez mais espaço, qual o futuro da TV aberta?
Jô — Acho que a televisão aberta cada vez mais vai ter o lado do instantâneo, é um caminho imenso para o jornalismo e para show. No fundo, a televisão é um eletrodoméstico. A função é pegar o espetáculo e levar para tua casa. E os programas de humor, que precisam muito de plateia, têm que ser realmente uma coisa quente.
AE — O Canal Viva chegou a reprisar o Viva o Gordo. Algum daqueles personagens enfrentou rejeição?
Jô — Teve personagem que a Censura mandou tirar, acho que foi o único: o Gandola. O Gandola ficou dois anos no ar. Ele pedia emprego e dizia: “quem me mandou aqui foi o (gira os olhos) Gandola”, até arrumarem um bom cargo para ele. Quando (os censores) descobriram que Gandola era outro nome pra túnica militar, mandaram tirar do ar.
“ESTOU MENOS GORDO, DIZ O HUMORISTA”
AE — Você continua naquele processo de emagrecimento?
Jô — Estou menos gordo. O cuidado principal é com a roupa. Se a roupa aperta, a gente já fica atento. Gordo é para sempre, é como alcoólatra. Se sai um dia da dieta ou do controle…
AE — No ano passado você ficou três semanas internado, com problemas no pulmão. Sua rotina mudou após aquele episódio?
Jô — Sim, faço fisioterapia. Já nem é mais fisioterapia, é personal trainer: faço cinco vezes por semana. É ótimo. Eu montei, em casa, bicicleta, esteira, remo, que aliás eu adoro…
AE — E o sucesso no tall show?
Jô — Tem que ter alguns anos de profissão e experiência para poder fazer um talk-show e ser irreverente sem ser grosseiro. E uma das coisas que eu realmente criei é de fazer um programa em que eu chamo todo mundo de ‘você’. ‘Você’, no Brasil, estabelece uma diferença, não de respeito, mas de classe social.
“AÍ, ME MATARAM VÁRIAS VEZES”
AE — Você foi vítima da viralidade da internet, durante sua internação. Como lida com isso?
Jô — Cheguei a ter uma parada cardíaca depois de morto. O próprio Roberto Irineu me ligou e perguntou: “você está bem?”. Ele é meu amigo de décadas. Disse que ligaria para o (Carlos Henrique, diretor-geral da Globo) Schroder e pedir pra colocar minha alta no Jornal Nacional. O Schroder encerrou o Jornal Nacional dando essa notícia. Ele ligou para mim e eu disse: “o engraçado, Schroder, é que eu trabalho no maior veículo de comunicação da América do Sul e as pessoas, em vez de ligar para saber da fonte, vão saber do blog de não sei quem”. Aí me mataram várias vezes. Mas a viralidade pode ser usada de uma maneira tão positiva! Foi graças à rede que teve essa manifestação de milhares de pessoas nas ruas.
AE — Agora houve a lista de contas secretas do HSBC da Suíça, onde constava o seu nome, e isso também se multiplicou na web…
Jô — Ihhh… É engraçado porque falei: tenho uma conta legal no HSBC de Nova York, não sei qual foi a misturada que fizeram aí, e com nomes que eu nunca vi. Estão associando o nome à conta legal que eu tenho em Nova York. Em Genebra, nunca tive. Não tem nenhum fundo de verdade. O (cineasta Hector) Babenco me ligou p… da vida: (imita o sotaque argentino de Babenco) “Eu nunca peguei coisa nenhuma, vamos entrar com processo!”. Respondi: “Processo contra quem? Isso é uma notícia vazia”. Não tem nem o que botar fogo nisso, mas adoram, né?