LUCAS VETTORAZZO RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Depois de o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, proibir a mostra “Queermuseu” de ser exibida no MAR (Museu de Arte do Rio), a Escola de Artes Visuais do Parque Lage busca formas de trazer a exposição ao Rio. A tradicional escola, por onde passaram grandes nomes da arte brasileira contemporânea, como Beatriz Milhazes, Adriana Varejão e Ernesto Neto, é um equipamento estadual, ainda que os cursos sejam pagos.
Segundo o diretor da escola, Fábio Szwarcwald, no momento em que a mostra foi vetada pelo prefeito de ser exposta no museu municipal, ele entrou em contato com o secretário estadual de Cultura, André Lazaroni, que teria dado aval para a exibição. Em razão da grave crise fiscal em que se encontra o governo do Estado do Rio, contudo, não há recursos para bancar a mostra diante dos custos logísticos, de instalação e seguro do projeto.
A ideia é que um parceiro tope arcar com os custos da mostra, que teria que ser reduzida devido ao pouco espaço disponível na escola. “Esse parceiro pode ser uma instituição privada, um grupo de pessoas físicas e até um financiamento coletivo na internet. Estamos vendo uma forma de viabilizar”, disse Szwarcwald. A mostra tem 270 obras de cerca de 80 artistas brasileiros e aborda o tema da sexualidade.
O diretor estima que os custos de levar a exposição à escola seria de em torno de R$ 300 mil. “Nosso interesse é fomentar também o debate, seja o da sexualidade, seja o dessa reação que está havendo à mostra”. Setores conservadores da sociedade se mostraram contrários à exposição por conta de telas em que julgam haver mensagens que incentivam pedofilia e sexualização de menores de idade. A mostra, exibida pela primeira vez em uma galeria do Santander em Porto Alegre, teve que ser encerrada por conta de protestos.
O prefeito do Rio vetou a mostra no MAR, já que o museu é ligado à Prefeitura do Rio. O conselho curador do museu declarou discordar da decisão de Crivella, mas acatou a proibição. Na prática, Crivella não teria ingerência na mostra na escola do Parque Lage. A escola é estadual e funciona em parque federal. O prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB) também condenou a mostra, assim como performance com um homem nu no MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo. O principal veículo de oposição às manifestações artísticas é o MBL (Movimento Brasil Livre), um dos grupos que protestou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
A comunidade artística critica o que chama de tentativa de cercear o direito à liberdade de expressão. Além disso destaca que a nudez é há séculos algo comum nas artes. Museus europeus exibem diversas obras com nudez sem que haja reação na sociedade. “É surpreendente que esse debate esteja posto no Brasil em pleno 2017. Todos os grandes artistas mortos têm trabalhos com nus. A mostra está lá e vai quem quer. Eu gostaria que esses setores se preocupassem com as crianças abusadas que moram nas ruas do centro do Rio. Não vejo um comentårio sobre a programação sexualizante da TV aberta ou da violência explícita dos vídeo games, por exemplo. Vejo com tristeza que esses movimentos tenham elegido a arte como vilã do momento”, disse Szwarcwald.