Uma família que apoia todas as atitudes erradas de um filho só pode ter algum tipo de distúrbio – pelo menos este é o senso comum. Em “Caminho das Índias”, o casal César (Antônio Calloni) e Ilana (Ana Beatriz Nogueira) defende com unhas e dentes o filho Zeca (Duda Nagle) e assina, com louvor, o atestado de loucura. Até os atores Ana Beatriz e Antônio Calloni acham que seus personagens têm grandes chances de entrar para a lista de clientes do psiquiatra Dr. Castanho (Stênio Garcia).
Até que eles percebam o quão anormal é o tratamento que dão ao filho, os pais continuam afinados ao estilo de Zeca. Tanto é assim que Calloni resolveu emagrecer mais de 20 quilos antes de começar a novela de Glória Perez. Tudo para fazer o estilo “boa pinta” e ficar mais fiel à imagem do filho protegido. “O filho é todo ‘saradão’, todo preocupado com o corpo, então não tinha como eu ser um homem descuidado, desvinculado da cafajestagem como é o Zeca. Eu me preocupei muito com esses detalhes”, diz Calloni.
Além disso, o ator confessa que queria voltar à TV com uma imagem diferente da que o público conhecia até então. “Eu queria ver um outro personagem meu na telinha, o Calloni com uma outra cara e não aquela de sempre, acompanhada de uma antiga barriguinha chata”, brinca.
De cara nova, Calloni dá vida a um pai permissivo, mas capaz de usar os filhos para se dar bem. “O César é um homem ambicioso, que não mede esforços para conquistar o que ele quer. A amizade dos Cadore é um bom exemplo, ele chegou a usar o namoro da filha Camila (Ísis Valverde), com o empresário Dario (Vitor Fasano), para tentar uma aproximação com Ramiro (Humberto Martins)”, conta.
Atitudes como esta fazem com que seu personagem seja considerado por muitos um vilão. “Ele tem os dois pés na vilania. Olha para as mulheres na rua, apoia o filho a bater nos outros na rua, ele é, de fato, extremamente errado.”
Como ator, Calloni enxerga a vantagem de fazer um papel diferente dos bonachões de sempre – ainda mais quando a repercussão nas ruas é tão grande. “É muito gostoso fazer um personagem que levanta discussão. Ele é a ausência de caráter em pessoa, o ótimo exemplo do mau exemplo. Nas ruas, eu estou colhendo os frutos desse trabalho. Embora alguns ainda fiquem em dúvida sobre os objetivos de Glória com essa família, todos entendem que os pais também são pessoas más. Outra dificuldade é de as pessoas me aceitarem como vilão, todo mundo está acostumado com um currículo muito correto de personagens meus”, conta o ator.
A tese de Ana Beatriz Nogueira é diferente: a intérprete de Ilana prefere defender que a personagem é, no fundo, ingênua. “A família não é errada, eles são felizes dentro da loucura deles”, explica. Para a atriz, Zeca abrir um extintor de incêndio no rosto de uma pessoa idosa é um ato que, aos olhos dos pais, é visto como heroico. “Eles acham o filho ‘o cara’, eles são inocentes. Ainda não caiu a ficha para eles que tudo o que o Zeca faz é algo ruim, que prejudica outras pessoas”, conta Ana.
Para Ana, Ilana é uma mulher interesseira, mas não vilã. “Ela não é dissimulada. Tudo o que a Ilana acha, faz de fato. Ela faz chantagem em aberto com o marido, expulsa a filha do marido descaradamente. Não tem medo.”
Claro que o resultado de tantos anos com olhos fechados não será nada bom para Ilana e César. Até prisão está prevista para os pais trambiqueiros de Zeca.