Depois de quatro anos afastada das novelas, Débora Bloch voltou à tela como uma personagem difícil de ser compreendida: esposa dedicada, enganada pela melhor amiga Silvia, de “Caminho das Índias”, parece mais uma típica boazinha de novela das seis. Débora assume: não está acostumada a esse tipo de papel e anda suando a camisa para buscar o equilíbrio e fazer uma Silvia inocente, e não boba. “Estou buscando defendê-la e fazê-la com humanidade sem cair nos truques e clichês”, conta a atriz. “Eu gostaria que o público parasse de se identificar com as vilãs sem caráter. Se conseguir isso, já será um grande serviço.”

Na trama de Glória Perez, sua personagem começou abandonando a vida de professora para dar atenção ao marido Raul (Alexandre Borges), mas não funcionou. Ele passou a ter um caso com Yvone (Letícia Sabatella), amiga de Silvia e simulou a própria morte para fugir com ela. Tudo isso ajudou Silvia a dar uma guinada. Tanto é verdade que engatou um romance com Murilo (Caco Ciocler) e planeja subir ao altar com ele. O casamento não vai sair, pois Raul voltará de Dubai e impedirá que esposa cometa bigamia.

A mudança deve diminuir o rótulo de “mulher traída” que a personagem alimentou até este ponto do enredo. “Eu tenho dificuldade, confesso, em fazer uma Silvia que não seja boba. Mas, aos poucos, ela se mostrou confiante, menos dependente e passiva.”

Para que esse resultado seja visto na telinha, Débora diz estar estudando e se dedicando muito à novela. A construção de Silvia contou ainda com o auxílio do depoimento de muitas mulheres que passaram pela mesma situação da ex-professora de “Caminho das Índias”. “Isso me ajudou a representar de forma mais clara essa classe de mulheres, que no geral demoraram, assim como a Silvia, para enxergar a verdade”, conta.

Débora conta que enxergar em Silvia uma mulher de verdade a ajudou a entender suas razões. “Nessa experiência, eu notei o quanto isso é comum hoje em dia. Todo mundo fala de traição. Fiquei impressionada com a quantidade de pessoas que vieram me contar que passaram por isso. Até um amigo gay me contou que foi traído pela amiga com o seu namorado”, fala a atriz.

Do comportamento e da história de vida de Débora Bloch, a personagem só leva a lealdade. “De resto mais nada. A história da Silvia é muito dura. Acho que a pior coisa na vida é ser traída, ao mesmo tempo, pelas duas pessoas em quem você mais confia”, diz.

Sem medo de “aparecer” menos do que a vilã feita por Letícia Sabatella, Débora acreditou no papel, mesmo sendo arredia quanto a fazer telenovelas – ela assume que, em suas escolhas, sempre priorizou o teatro ou trabalhos alternativos na televisão. Para fazer uma boa moça, fiou-se em grandes atrizes que passaram pelo mesmo desafio: fazer personagens aparentemente simples sem cair em clichês ou perder espaço para as vilãs. “Minha referência para compor a Silvia foram todas as atrizes que defenderam, brilhantemente, o papel da heroína. Glória Pires e Malu Mader são algumas das que posso citar.”