Formado pela Escola de Arte Dramática da USP, o ator Edson Celulari contabiliza em sua carreira, iniciada nos anos 70, participações em mais de 30 novelas – “Guerra dos Sexos” – e em nove filmes, entre eles “For All” e “Ópera do Malandro”. Em 2007, interpretou no teatro Don Quixote, baseado no livro de Miguel de Cervantes. Atualmente, faz parte do elenco da novela “Beleza Pura”, exibida pela Rede Globo.

Qual folhetim é capaz de sobreviver ao tempo?

EDSON CELULARI – Toda linguagem literária bem-feita resiste ao tempo, independentemente do seu estilo. O clássico folhetim tem suas exigências, seus ganchos para poder prender a atenção. No caso de telenovela, é preciso ter um bom texto, um bom elenco, uma boa direção.

Quais os piores clichês das novelas e quais são indispensáveis?

CELULARI – O pior clichê é aquele de repetir a história para aquele espectador que não acompanhou o capítulo de ontem.

Qual novela merece reprise?

CELULARI – Uma novela do Silvio de Abreu, chamada “Guerra dos Sexos”. Marcou muito e acho que ela poderia ser readaptada e atualizada, que faria sucesso novamente.

Você é mais Janete Claire ou Dias Gomes? Novela das 6, das 7 ou das 8? Novela de época ou contemporânea?

CELULARI – Sou Janete e sou Dias. São dois grandes autores de estilos diferentes que fazem parte da história da televisão no País. A telenovela absorve muitas escritas, muitos estilos diferentes, como no caso desses dois. Eu gosto, como espectador, de assistir à novela das 8, por ter um pouco mais de maturidade. Mas uma boa história, quando bem-feita, me prende em qualquer horário.

Cite um excelente ator que ainda não encontrou um papel à sua altura e um outro que sempre eleva o papel, seja ele qual for.

CELULARI – O Cacá Carvalho, que fez o Jamanta, conseguiu em duas novelas um grande espaço, mas gostaria de vê-lo atuando mais na televisão. Agora, atores que sempre conseguem enaltecer qualquer personagem, eu poderia citar uma lista enorme, como Lima Duarte, Fernanda Montenegro, Otávio Augusto, Antonio Fagundes…

Qual a primeira novela que você se lembra de ter acompanhado?

CELULARI – “Irmãos Coragem”, que para mim veio com a descoberta da televisão, já que meu pai tinha acabado de comprar um aparelho.

Qual a novela mais revolucionária de todos os tempos?

CELULARI – É difícil, mas teve uma novela que fez a cabeça de muita gente e que pessoas de várias gerações lembram com muito carinho: “Que Rei Sou Eu?”. Não sei se foi revolucionária, mas certamente é única na história. Uma comédia, uma novela de época, mas que ao mesmo tempo também trazia as questões políticas e sociais do País, numa comemoração dos 200 anos da Revolução Francesa.

Qual a cena que nunca saiu da sua memória?

CELULARI – Há duas cenas que eu me lembro muito. Uma inesquecível do João Coragem encontrando o diamante, que o Tarcísio Meira protagonizou. E outra, de “Pecado Capital”, que mostrava o Francisco Cuoco com a mala de dinheiro na mão, fazendo daquele dinheiro vendaval, como diz a música, na cena final em que ele é morto.

Se pudesse interpretar um personagem de época, qual figura escolheria?

CELULARI – São tantas partes da história do Brasil que ainda precisam ser contadas pela teledramaturgia, que personagens não faltam. Adoraria poder interpretar um poeta romântico brasileiro, nos seus últimos dias de vida, que a tuberculose estivesse levando. Também adoraria fazer, um dia, Castro Alves.

Qual o seu casal de mocinhos preferido?

– CELULARI – Tarcísio e Glória são um clássico da televisão brasileira e brilharam em muitas novelas juntos, como em “Irmãos Coragem”. Também acho que o Carlos Alberto e a Yoná Magalhães tiveram momentos bacanas. Atualmente, você tem ainda o Tony Ramos e a Glória Pires.

Qual o melhor vilão da história da TV?

CELULARI – Posso citar alguns vilões espetaculares, como o Baldaracci, interpretado por Paulo Autran, em “Pai Herói”; a Odete Roitman, de Beatriz Seagal, em “Vale Tudo”; a Ângela, da Cláudia Raia, em “Torre de Babel”, e a Nazaré, da Renata Sorrah, em “Senhora do Destino”.

Qual atriz faz a mocinha sofredora perfeita e também a vilã mais odiável?

CELULARI – A Glória Menezes fez a Lara de “Irmãos Coragem”, que tinha outras duas personalidades com características bem diferentes: a sedutora Diana e a equilibrada Márcia. Dois personagens na mesma novela, com um show de interpretação. Outro bom exemplo foi a Glória Pires, vivendo Ruth e Raquel em “Mulheres de Areia”.

Que filme você mais revê?

CELULARI – Toda filmografia do neo-realismo italiano. Adoro todos aqueles italianos doidos, que fizeram aquele cinema de grande referência para toda nossa cultura contemporânea. Aqueles “inis” todos, como o Fellini, o Rossellini, os irmãos Taviani, o Vittorio de Sica, Luchino Visconti, Pasolini.

Que filme revolucionou sua maneira de ver o mundo?

CELULARI – Rocco e Seus Irmãos, do Visconti, me marcou muito. Outro filme surpreendente foi um do Luis Buñuel, “O Anjo Exterminador”. A filmografia dele como um todo é muito bacana e tem também o último filme dele chamado “O Obscuro Objeto do Desejo”, que é muito bom. “Asas do Desejo”, do Wim Wenders, também é ótimo.

Qual o filme dos últimos dez anos que mais o marcou?

CELULARI – “Central do Brasil”, do Walter Salles, foi um marco na história do cinema brasileiro.

Qual ator ou atriz o leva ao cinema, seja qual for o filme?

CELULARI – Anthony Hopkins. Ele é maravilhoso e sempre me surpreende. O Al Pacino também é um ator que eu gosto muito.

Qual o primeiro filme que você viu no cinema?

CELULARI – Um filme de um herói brasileiro, o Mazzaropi, o Jeca Tatu, que inclusive tinha essa música, “A Tristeza do Jeca”, que a Cláudia está cantando com a Patrícia Pillar na novela do João Emanuel Carneiro. Foi um dos poucos filmes com um herói brasileiro.