SILAS MARTÍ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma fábrica de pinturas falsas de Jackson Pollock parece estar operando a todo vapor nos Estados Unidos. Nos últimos anos, pelo menos dez quadros do expressionista abstrato, famoso por suas telas de gestual errático, foram identificados como imitações grosseiras —todos eles vindos da mesma origem.
Essas obras, no caso, teriam pertencido a James Brennerman, um excêntrico colecionador alemão radicado em Chicago no século passado. Sem herdeiros, ele teria deixado um acervo de centenas de obras de grandes mestres a dois empregados que depois teriam vendido as telas.
De acordo com a International Foundation for Art Research, centro de estudos de Nova York que denunciou a fábrica de falsos, uma série de colecionadores desavisados acabou comprando as telas do dono de uma boate de striptease na Virgínia, Estado do sudeste americano.
O empresário, possível integrante da fraude, dizia às vítimas que as telas haviam pertencido a Brennerman, mas pesquisadores não conseguiram até o momento levantar qualquer prova de que o alemão tenha de fato existido.
Fotografias de sua suposta mansão em Chicago usadas para atestar a autenticidade dos quadros eram, na verdade, de uma igreja na Alemanha e do castelo dos Sforza, família da nobreza de Milão.
Mais alarmante, no entanto, é a falta de sofisticação dos falsos. Embora as telas suspeitas tenham a superfície alvejada por respingos de tinta, como fazia Pollock, as composições são simplórias, as cores não seguem as estratégias cromáticas das originais e os materiais usados também não condizem com as datas em que teriam sido criadas.
“Elas estão erradas em termos de estilo, a origem é de araque e os materiais também não conferem”, afirma Sharon Flescher, diretora da fundação que alertou para o esquema. “O papelão usado nas obras datadas dos anos 1940, por exemplo, era novo e flexível demais para ser da época.”
Outro dado que poderia levantar suspeita é o valor pago pelos quadros. Quatro colecionadores disseram ter comprado esses trabalhos por menos de US$ 100 mil, preço muito inferior ao praticado no mercado —uma tela de Pollock vendida há 11 anos por US$ 165,4 milhões, cerca de R$ 520 milhões, está entre as mais valiosas da história.
“Os valores pagos são, de fato, muito baixos e isso é suspeito, mas essas obras valem menos ainda, uma vez comprovado que são falsas”, diz Flescher. “Isso não é um fenômeno novo. Sempre houve tentativas de copiar Pollock, porque os falsários se enganam pensando que isso é fácil, mas não é.”