José de Abreu está agora bem distante dos chefões mal encarados que sempre interpreta na TV. Em “Caminho das Índias” ele é Pandit, um guru espiritual que “arranja” casamentos e orienta almas em dúvida. Aos 63 anos, Abreu vê sua carreira das alturas. Em março, esteve no cinema como o presidente JK no longa “Bela Noite para Voar” e como major Batista na refilmagem de “O Menino da Porteira”. De sua casa, por telefone, o ator conversou com a reportagem.
Será que o telespectador entendeu quem é o Pandit, de “Caminho das Índias”. Ele é um trambiqueiro?
JOSÉ DE ABREU – Não. Na Índia, eles misturam o sagrado com o profano. O Pandit vive de arranjar casamentos. Porém, os indianos não têm uma estrutura religiosa como tem a igreja protestante e a católica. Lá, cada mestre vive do que ganha das famílias que atende. Como o Manu (Osmar Prado) e o Opash (Tony Ramos) têm grana, ele aproveita para ganhar mais.
Qual foi sua impressão dos gurus espirituais reais na Índia?
JOSÉ DE ABREU – Eu consultei alguns e confesso que nem todos me convenceram. Alguns eram sérios, mas outros me deixaram desconfiados.
O Brasil abriga várias religiões, você segue alguma?
JOSÉ DE ABREU – Eu sou espírita não praticante, acredito em reencarnação. No passado, estudei muito a filosofia indiana, principalmente nos anos 70, quando morei em Londres e convivi com monges.
O que acha da Igreja Católica?
JOSÉ DE ABREU – Ficou muito presa no símbolo e na hierarquia. O catolicismo virou uma coisa retrógrada, que não acompanha o mundo moderno e, por isso, está perdendo fiéis. Pior que perde para igrejas muito vagabundas, que são essas evangélicas que roubam dinheiro do povo.
Qual a semelhança entre os indianos e os evangélicos?
JOSÉ DE ABREU – Os templos. Mas lá, cada templo é de um bairro ou de uma família.
É mais fácil fazer a novela tendo esse conhecimento de Índia?
JOSÉ DE ABREU – Sim. Eu posso dizer que voltei a mergulhar nos anos 70. Mas, naquele tempo eu era mais zen, mais ‘riponga locão’.
Qual o recado para os turistas que querem visitar a Índia?
JOSÉ DE ABREU – Que eles vão amar ou odiar a Índia. Não existe meio termo. Ou você admira a miséria ou odeia a ‘sujeira’, se assusta e volta no terceiro dia de viagem.
Você fez vários personagens autoritários na sua carreira, como é fazer o oposto de tudo isso?
JOSÉ DE ABREU – Eu tenho feito cenas em que o Pandit está enquadrando todo mundo. Ele é um brâmane, então não deixa de mandar. O Pandit é um coronel mais zen.
O que é um bom texto?
JOSÉ DE ABREU – Quando estudo um personagem e consigo decorar com facilidade é sinal que o texto é bom.
Você assiste à novela?
JOSÉ DE ABREU – Sim. Eu adoro ver o meu trabalho e eu acabei de comprar uma TV Full HD. Está sendo um escândalo ver a Índia com essa qualidade. Adoro a ideia de colocar uma janela dentro de uma outra janela.
E a mudança de visual para vivier Pandit?
JOSÉ DE ABREU – Causou espanto nos familiares e até na Globo. É um despudor meter o barrigão para fora, mas eu gosto disso. Tem gente que acha horrível, não ligo. Publicaram que eu não poderia ser brâmane porque estava gordo, mas é o contrário. O brâmane é mais gordão, eu até estufo a barriga em cena.
Para viver JK em “Bela Noite para Voar” você estudou muito?
JOSÉ DE ABREU – Eu sou um apaixonado por política, então não tive dificuldades. Eu já fiz trabalhos sobre o JK outras vezes, já sou um especialista, amigo da família.
Como foi a experiência de participar da regravação para o cinema de “Menino da Porteira”?
JOSÉ DE ABREU – Engraçado, é a primeira vez que vivo um caipira em cena. E como sou de Santa Rita de Passa Quatro, estava na hora. Na infância eu chorava com essa música.
Como é o cantor Daniel em cena?
JOSÉ DE ABREU – Muito melhor do que muitos atores que estão no mercado. Esse ano o cinema brasileiro parece investir em novos temas, fugir do “filme-favela”…
JOSÉ DE ABREU – O cinema brasileiro está buscando se firmar no mercado interno e, para isso, não pode ter apenas temáticas de favela, tem que ter um pouco de tudo. Quem pesquisa cinema já diz que o Brasil é o único país que tem de tudo.
Esse ano vão rodar a história de Jânio Quadros, já rodaram de Lula, e você viveu JK. Porque você acha que tem tantos filmes sobre a história da política brasileira rodando em 2009?
JOSÉ DE ABREU – Os cineastas gostam do tema história. E a nossa história tem muita guerrinha e fofoca. Isso é interessante em um cenário de crise.
Aliás, o que acha do Lula?
JOSÉ DE ABREU – O Lula é um sonho. Eu não podia morrer sem ver um operário como presidente da República. O Lula está se saindo melhor do que a encomenda.
E o seu blog? Como fica com tanto trabalho?
JOSÉ DE ABREU – Um pouco ‘paradão’. Blog desatualizado é relógio parado. Eu acho genial a ideia do blog, eu posso falar direto com os fãs, mas para 2010 tem novidade. Eu vou mudar de casa e preciso digitalizar muitas coisas.
Você vai mudar novamente?
JOSÉ DE ABREU – Já estou há quase quatro anos aqui, sempre fui contra a casa própria. Eu acho melhor pagar aluguel. Há uns três anos eu comprei um apartamento que eu alugava e agora resolvi mudar.