MAURÍCIO MEIRELES, ENVIADO ESPECIAL
PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – As relações de aproximação e embate entre ciência e fé foram o norte do debate que reuniu o jornalista Reinaldo José Lopes e Frederico Lourenço, linguista que divulga na Flip o primeiro volume de sua tradução da Bíblia, com os quatro Evangelhos.
O encontro dos dois aconteceu na Casa Folha, na tarde desta sexta-feira (28), com mediação de Francesca Angiolillo, editora-adjunta de Cultura da Folha de S.Paulo.
Lourenço começou explicando o tratamento sem viés religioso de sua tradução -mais atenta ao contexto histórico da bíblia grega.
“Como em Portugal existem excelentes bíblias católicas, sentia falta de um Novo Testamento com esse tipo de informação. A linguística, a ciência e a filologia podem ajudar a ter uma visão mais abrangente desses textos”, disse o tradutor.
O jornalista, que é católico, por sua vez, analisou o surgimento do monoteísmo com um viés científico.
“A ideia é que esse deus único emergiu quando saímos do nível de bando ou tribo e passamos a viver com dezenas de milhares [de outros]. Como não havia mais interação face a face e todo mundo é seu parente, é preciso criar mecanismos de monitoramento [social] que permita um controle”, disse ele.
Quando questionado, por uma bióloga na plateia, se não via contradição entre suas crenças religiosas e a ciência, Lopes afirmou que não.
O jornalista, que foi editor de ciência e saúde da Folha por três anos, lembrou que os relatos bíblicos sobre a origem do universo não são factuais.
Para ele, Deus não cria o universo do zero, mas, sim, suas “funções”. É como se houvesse uma matéria pré-existente a partir da qual o Todo-Poderoso estabelece as condições para que o mundo surja em sua “própria potencialidade”.
“Se Deus intervém ou não universo depois disso, aí é uma questão de fé”, afirmou.
Quando questionados para que dissessem seus trechos prediletos no texto bíblico, Lourenço destacou a história de Jonas.
“O livro de Jonas tem apenas três páginas e é um espelho de tudo o que a vida humana tem de frustrante. Ele é um ser humano condenado a fazer o seu melhor, mesmo sabendo que, ao fazê-lo, o resultado nunca vai ser o melhor”, afirmou o tradutor.
Já Lopes escolheu uma frase de Isaías, em que o profeta diz: “Tu crês em um só Deus? Bem fazes! Os demônio também acreditam e tremem de medo”.
“O cara que mais acredita em Deus é o capeta, que estava lá do lado Dele na criação! Ele sabe exatamente quem é Deus e o pé na bunda que vai tomar. Você crer em Deus não é o mais importante, mas fazer o que é certo com seus irmãos”, disse o jornalista, arrancando aplausos da plateia lotada.
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