Não se deve levar a sério a afirmação de Lula de que o presidente do Senado, Renan Calheiros, quarto homem da República, é inocente até prova em contrário. Se o brasileiro não se lembra, este é o presidente que, há menos de dois anos, afirmou que assinaria em branco um cheque para Roberto Jefferson – hoje devidamente defenestrado.
Essa, aliás, é uma ciranda impregnada no governo Lula desde que Waldomiro Diniz foi pego com Carlinhos Cachoeira na boca da botija (e esta não é uma expressão gratuita) negociando percentuais em causa própria. Primeiro se negaceia, depois abandona-se à própria sorte para que o escândalo não espirre em escalões superiores.
Mês sim, outro mês também, um homem público cai enredado em uma picaretagem e se vale das frestas da lei e da solidariedade de seus pares para sair de fininho com a “cauda” intacta. Ciranda, cirandinha.
Ontem foi a vez de Calheiros, ex-homem-forte do governo Collor, fazer discurso desmentindo denúncias e acusando invasão de privacidade em caso escabroso de pagamento de suas contas pessoais pelo lobista da Mendes Júnior, Cláudio Gontijo.
Foi fácil engolir o relacionamento extra-conjugal do senador com uma jornalista e o que ele produziu – um filho. Difícil foi empurrar goela abaixo dos espectadores a versão de que era Gontijo sim quem pagava, mas com o dinheiro de Calheiros. E por notória amizade. Ciranda, cirandinha.
Em que pesem as lacunas deixadas, Calheiros e Silas Rondeau (o ministro caído) foram devidamente preservados por Lula no programa de rádio “Conversa com o presidente” naquela lenga-lenga do inocente presumido. Melhor seria se Lula não falasse nada ou se declarasse incompetente no caso, como fazem os juízes. Soaria mais bonitinho e certamente menos ordinário. Ciranda, cirandinha.
De mais a mais, há um triste retrospecto de escândalos amontoados no governo Lula, que não são produto das trombetas oposicionistas como se insiste em afirmar, mas de investigação meticulosa da Polícia Federal, secundada pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário. Trata-se, portanto, de denúncia de lastro. Se tantos bagres vêm caindo na rede é porque há mesmo algo de podre no reino. E não é o da Dinamarca.
Harakiri 1
No Japão terra de haraquiri (ei bebuns, não confundir com daiquiri) não há novidade no suicídio de um ministro como Toshikatsu Matsuoka. No metrô japonês, é comum adolescentes se atirarem na linha porque foram reprovados nos exames finais ou executivos porque perderam o emprego.
Harakiri 2
De certa maneira, os asiáticos mantêm a tradição de aniquilar-se em nome da honra, da desgraça ou de um pouco das duas. No Brasil, longe vai o último suicídio de uma autoridade. Se não me falha a história, foi Getúlio Vargas lá no longínquo 54 do século passado.
Amnésia
Esperar que um ministro, deputado, senador enforque-se nas cordas do escândalo é querer demais. No máximo, vive-se um ostracismo temporário que lufa como a memória do brasileiro. Exemplos não faltam.
Zumbis
Quantos políticos não foram arrastados para o olho do furacão das denúncias para depois serem ressuscitados pelas urnas. Se o Japão prima pelo suicidas, portanto, o Brasil prima pelo zumbis. O morto de hoje é e sempre será o vivo de amanhã. Duvida? Ei Maluf, explica pra eles.
Pelas beiradas
A venda de anticoncepcionais com subsídio, aliada a campanhas de vasectomia, mostra que o governo federal (leia-se ministro da Saúde, José Gomes Temporão) decidiu por uma abordagem no entorno do aborto, antes de atacar o tema propriamente dito. Nada contra, diga-se.
Carimbado
Membro da comitiva de Requião no eixo Tóquio-Paris, o deputado Luiz Nishimori (PSDB) ganhou apelido supimpa entre os tucanos. É o Luiz Fujimori. O Fuji é de fujão.
Tunda tucana
Em Brasília para um seminário do PSDB, o prefeito Beto Richa mandou recado aos paroquianos. Diz que o “sucesso do projeto partidário depende do grau de sintonia de seus membros”. Até tucanos de alta plumagem vestiram a carapuça.
ARREMATE
Deu no Tutty: “A indústria farmacêutica decidiu comprar briga com o Vaticano: quer autorização do governo laico para lançar o genérico da pílula do Frei Galvão.” Quaquaquá.
OBLADI-OBLADÁ
Alteração na Escolinha de Requião que vai ao ar nesta terça-feira. Sai o presidente da Federação Paranaense de Futebol, Onaireves Moura, afastado da entidade para responder a acusações gravíssimas no tribunal da CBF e entra o presidente da Sanepar, Stênio Jacob, enredado em denúncias cabeludas de fraudes em apólice e aditivos contratuais. *** De longe diria-se que a diferença entre os dois é nenhuma.