A “democracia” de Lula

Marcus Vinicius Gomes - marcusvrgomes@uol.com.br - www.blogmarcusvinicius.com

Se você gostaria de entender o que se passa na cabeça do presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, eis uma chance. Anteontem, em uma
das raras entrevistas que concedeu – e falou somente sobre política
exterior –, Lula justificou a não renovação da concessão da RCTV, na
Venezuela, pelo viés constitucional.

Disse o presidente, na entrevista à Folha de S. Paulo que
reproduzo aqui: “O fato de ele (Chávez) não renovar a concessão é tão
democrático quanto dar [a concessão]. Não sei porque a diferença entre
dois atos democráticos. A diferença com o Brasil é que conseguimos
colocar na Constituição que isso passa pelo Congresso. Não é uma
decisão unilateral do presidente. Lá é. Faz parte da democracia deles.
O dado concreto é que ele utilizou a legislação que vigora no país e
tomou essa decisão. Por que eu, presidente do Brasil, vou ficar dizendo
se ele fez certo ou errado. Quem tem que julgar isso é o povo da
Venezuela, não sou eu”.

Então tá. Por esse raciocínio, o constitucional, é possível justificar
qualquer decisão absurda que seja tomada pelo mandatário de ocasião.
Inclusive o assassinato pelo Estado, sim senhor.

E não se trata de exagero. Deixe eu lembrar aqui àqueles que costumam
esquecer de 15 em 15 anos o que aconteceu nos últimos 15 anos. Os atos
institucionais um, dois, três, quatro e cinco foram promulgados durante
o regime militar no Brasil sob abrigo constitucional. São, portanto,
legítimos e democráticos. Assim como é legítima e democrática qualquer
ditadura que se instale na Venezuela ou numa república do confim do
mundo, desde que prevista na Constituição do país. Ou seja, este é o
argumento lulo-petista para justificar qualquer barbaridade. Da
cassação de um canal de TV à prisão de um cidadão sem acusação formal
desde que prevista na Carta Magna do país.

Perceba, o caro leitor, o precedente perigoso a que damos fôlego. Este
é o mesmo Lula que costuma fazer discursos inflamados apelando para o
“fim da fome no mundo” ou para o “fim da miséria”, o que dá no mesmo.
Ora, Lula já encontrou a solução. Basta incluir na Constituição e, num
passe de mágica (tá bom, dois), o problema estará resolvido. Se o
raciocínio parece absurdo (e é) atende o mesmo fio de lógica que reza
que todo preceito constitucional é, por definição, democrático.

Há 70 anos, a Constituição da Alemanha, gerada sob regime democrático,
só permitia o casamento de quem fosse comprovadamente de raça ariana.
Veja o leitor, portanto, em que tipo de mina explosiva Lula está
pisando.

Duplo sentido
Às voltas com a denúncia de aluguel de carros sem licitação, o
presidente da Cohapar, Rafael Greca, ofereceu jantar a funcionários e
convidados na quarta-feira, véspera de feriado. Prato principal: vaca
atolada. Bom, cala-te boca.

Escancarado
Quem não enxergou um tico de partidarismo no protesto envolvendo a
pracinha do Batel, em Curitiba, pode dar uma espiada no site do Fera 
(www.fera.pr.gov.br) da Secretaria Estadual de Educação.


Ô turminha
A enquete colocada no ar não deixa dúvida: “Você concorda que a
Prefeitura Municipal juntamente com os ricos comerciantes destruam
(sic) a pracinha do Batel para construção de mais um shopping?” Tá na
cara, né?

Mano Rec
Ah, o cabeça da patota é um tal de Maurício Requião – se é que você me entende.

De sol a sol
Impressionante o desempenho do deputado Ângelo Vanhoni (PT) na Câmara
Federal. Em quatro meses, ele acumulou 120 dias no cargo. É um trabalho
e tanto.

Azar nosso
Dono da revista de pornografia hard-core, Hustler, o norte-americano
Larry Flint ofereceu US$ 1 milhão por flagrantes sexuais de políticos.
Ai se fosse aqui.

É do bom
“Líder” do protesto na pracinha do Batel, Rafael Xavier Schuartz
(sobrinho de Cláudio Xavier), não esquentou banco na fila de
desempregados. Depois de ser exonerado em cargo no extinto Instituto de
Saúde do Paraná foi nomeado na Casa Civil – onde desagua todo e
qualquer barnabé na rua da amargura.

Para o bem
Schuartz foi candidato a deputado federal em 2006 pelo PRONA e obteve
míseros 212 votos. Mas pense pelo lado positivo. Fosse o rapaz
concorrente em São Paulo há cinco anos, ao lado de Enéas Carneiro (1,5
milhão de votos), e estaria eleito.


ARREMATE

Será preciso mais que um tapinha para tirar o deputado Stephanes Jr. do PMDB?



OBLADI-OBLADÁ

O líder da
oposição na Assembléia, Valdir Rossoni (PSDB) subiu nas tamancas e
decidiu entrar na Justiça para obter resposta sobre os requerimentos da
bancada aprovados na Assembléia. *** Mais óbvio que presidente fã de
Mahatma Ghandi – não confundir com Gautama – é miss leitora do Pequeno
Príncipe. Tudo a ver, né não? *** Que passivo que nada. A julgar pela
cartilha distribuída na Parada Gay de São Paulo a turma é bem ativa.
Fuma, bebe, cheira e dá. Ou, sei lá, empresta.