Teoria do autor no Brasil deu nisso. Uma câmera na mão e cloaca na cabeça. Influenciados pelo cinema que faz biquinho, a Cahiers deCinéma, a nouvelle vague e Jean-Luc Godard – não necessariamente nessaordem – fazedores de filmes destas plagas adotaram um gato chamadoMurnau e foram à caça do cinema de arte. Chato, em resumo. Deu emaforismo de Paulo Francis. “O filme é uma merda, mas o diretor égenial”. Ou vice-versa. Bem feito, quem mandou fingir entender osfilmes do Glauber Rocha?
Pior. Nada de adaptações literárias, nada de trabalho de pré-produção.Na barraca do mafuá cinematográfico o que valia era o improviso, desdea pré-produção até o figurino.
Aqui não cabia profissionalismo porque a coisa era revolucionária.Cinema de resistência, pois não. Assim, a história podia ser qualqueruma, desde que se pautasse no ideário socialista e na pestilênciasocial. Livros que poderiam resultar em bons filmes, ainda mais,continham o valor agregado do escritor burguês e da editoracapitalista. E nossos gênios da sétima arte eram durões. De GlauberRocha a Cacá Diegues e Arnaldo Jabor, só para ficar nos ícones daintelligentiza bielorussa-albanesa – ou sei lá qual seja o últimobastião socialista desse mundão sem fronteira. Li “O Perfume”, doalemão Patrick Süskind, há uns 20 anos, e apostei dez caraminguás, ou oequivalente a um apito e um espelhinho, que podia virar um bom filme.Por conta do preciosismo de Süskind, a produção só veio a engrenar hádois anos e o resultado, depois de pronto, diga-se, não é lá grandecoisa. Fazer o quê? No caso nacional, há duas histórias que podiamcolher bons resultados na tela, desde que não enveredem pelointelectualismo amarfanhado-chique de um Walter Salles. Uma é “FavelaHigh-Tec” de Marco Lacerda, escrita em 1993, que soube agora, entra empré-produção no ano que vem. Menos mal. A outra é um conto de IvanLessa, que deu nome ao seu primeiro e, talvez, único livro. “Garotos daFuzarca” tem a crueza de “Santuário” de William Faulkner e, vá lá, oesquindô de Copacabana na década de 50. Melhor, se levado às telas nãocarece de ator global, nem da pantomima, nem da tagarelice nordestinatão ao gosto da nova safra de movie-makers. É um soco no estômago porsi só. À guisa de aperitivo vale dizer que Euclides, um dospersonagens, é talhado e cuspido o Lenny de “Ratos e Homens”(Steinbeck). Mais não digo.
Tá bom, vai. O embalo nostálgico, para quem ama as panorâmicas da orlacarioca na novela das oito, casa direitinho com o clima. PadariaColombo, Cassino Atlântico, Globo Juvenil Mensal, Cornel Wilde e balasJuquinha (ou sei lá a droga açucarada que se vendia no traficante daesquina).
Quem, desencantado, acha que o novíssimo cinema brasileiro é sóadaptação literária da obra daquele boneco de Olinda, como é mesmo onome dele?, ah, Ariano Suassuna, que dê uma espiadela nesses livros.Vai comprovar que o Bananão é mais que caatinga, chapéu de couro,tapioca e Epitácio Cafeteira.
Nua e crua
Até quem não é especialista arrisca dizer que o Brasil só vai bem,muito obrigado, porque está surfando nas commodities. O dia em que oagro-negócio for para o brejo, caímos na real. Ou no real.
Saúde!
A alegoria, aliás, é essa. Basta a China espirrar e o país volta ao que era em 1990. Parece assustador, né não?
Olha só
Zuleido Veras e Zoraide Beltrão são prova irrefutável. O abecedário da corrupção no Brasil já deu na letra Z.
Apelou
A “festa junina” organizada pelo sobrinho X na Praça do Batel, nosábado, atraiu bandinha pífia de 10 manifestantes. Na hora H, o líderalegou que o protesto havia sido adiado por causa do frio. Engraçado,tava um sol de lascar.
Bateu, levou
Cientista social, e eles existem às pencas, radiografou o fracasso dasmanifestações estudantis nos últimos anos. Diz que elas setransformaram em “movimentos do não” feitos para reagir e não parapropor. Até que faz sentido.
ARREMATE
Parada do Orgulho Hétero reuniu 15 pessoas em São Paulo. Gente, quem é a minoria mesmo?
OBLADI-OBLADÁ
Há um sinal no horizonte apontando para o fracasso da caravana depolíticos paranaenses que acompanha Requião amanhã, em Brasília, parapedir o penico ao governo federal. *** Enquanto o Brasil sofre com opesadelo da Previdência Social, o Chile nada de braçada. A solução nopaís foi fácil: privatizou-se a dita.