Xô espírito de corpo
Assistindo o Congresso Nacional discutir uma “Lei da Mordaça” para
deter as investigações da Polícia Federal e proteger, assim, os
filhotistas que habitam sob o teto da política, me dou conta de quanto
o espírito de corpo – que alguns chamam muito apropriadamente de
espírito de porco – é maléfico para o país. É graça a esse espírito de
corpo que maus médicos se safam, mesmo que esqueçam tesouras dentro de
seus pacientes. Que advogados se safam, mesmo que compactuem com
bandidos e provoquem mortes de inocentes. Que jornalistas assassinos se
safam e, estranhamente, são exaltados por seus pares em longos
editoriais. Que juízes ganham foro especial mesmo quando cometem crimes
hediondos. Que políticos são absolvidos por colegas, mesmo contra todas
as evidências de culpa, seja lá qual for o escândalo da hora. Mensalão,
mesadão, pistolão, cuecão, navalhão.
Nunca o lema de George Orwell, em “A Revolução dos Bichos”, me pareceu
tão apropriado para o Brasil dos últimos tempos: “Todos são iguais, mas
alguns são mais iguais do que os outros.
Traduzo aqui o meu dissabor com a realidade que nos impingem. Eis o
lado cômico nisso tudo. Nesse país, a vida imitou a arte. Mas a arte
que nos coube imitar na vida foi o surrealismo. Chego a ponto de
imaginar que Salvador Dali, o pintor catalão que transpôs para os
quadros as imagens bizarras de seus sonhos, era um noviço se comparado
ao que os nossos políticos são capazes.
A cada escândalo que se precipita nos jornais, a cada cena de violência
que assistimos estarrecidos, há sempre um condimento de medo e
expectativa. O que virá por aí?
Com o passar do tempo fomos encadeando justificativas para as nossas
mazelas. A culpa é da democracia incipiente, a culpa é do regime de
exceção, a culpa é da oligarquia, a culpa é do liberalismo, a culpa é
do neoliberalismo, a culpa é dos privatistas, a culpa é dos estatistas,
a culpa é da direita, a culpa é da esquerda.
Na guerra ideológica, muleta do espírito fanfarrão e indolente, Millôr
Fernandes sintetizou o espírito do brasileiro diante da realidade que o
cerca – este sim factível. O que restou é um pessimista claudicante.
Otimistas são espécie em extinção.

Deixa pra lá
O presidente da Paraná Esporte, Ricardo Gomyde, e o deputado federal
Ratinho Jr. (PSC) encontraram-se dia desses no avião. Gomyde reclamou
da falta de espaço no PCdoB e insinuou uma mudança partidária. Quem
sabe o PSC. Ratinho Jr. fingiu que não era com ele.

Não é bem assim
Correu boataria na sexta-feira passada sobre a demissão do presidente
da Sanepar, Stênio Jacob. No rastro do rumor, a assessoria de imprensa
se apressou a desmenti-la.

Conversa
Comenta-se que o anunciado investimento de R$ 2,2 bilhões na ampliação
do sistema de água e esgoto de que se jactou Jacob, na Escolinha da
semana passada, teria mexido com as ações da Sanepar na Bovespa.

Encrenca
Mesmo que se bote panos quentes na questão, o fato é que a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM) enviou, por e-mail, pedido de explicações
detalhadas sobre a dinheirama anunciada. Pode dar bode.

Te cuida
Autor de carta-bomba que provocou a saída de Luiz Caron, ex-secretário
de Divisórias, Guilherme Caron, o filho, deve se manter a uma distância
conveniente do pai nas próximas semanas. A ordem é não melindrar as
hostes requianistas.

Fissura
Demorou, mas o presidente Lula finalmente reconheceu. As relações entre Brasil e Venezuela estão sensivelmente abaladas.

Ele não muda
Na esteira dos ataques ao Congresso Nacional, o falastrão Hugo Chávez
mandou um recado ao país-amigo: não quer conversa sobre o fim da RCTV.
Será que o pedido dele é uma ordem?



ARREMATE
O Clube dos Cafajestes foi ressuscitado no PMDB?

OBLADI-OBLADÁ
De volta à cena, a Lei do Mecenato Municipal está com inscrições
abertas até o dia 29 deste mês. O novo formato quer impedir que
“figurinhas carimbadas” da produção cultural saiam na frente na
avaliação dos projetos. *** O decreto-lei que centralizou nas mãos do
governador a autorização para a compra de remédios especiais no Paraná
continua repercutindo mal. *** Nem o anunciado reforço no caixa na
compra de medicamentos, comunicado pela procuradora-geral Jozélia
Broliani, arrefeceu os ânimos. É tempo quente.