Clóvis Rossi (sempre ele) escreve que batalhou por muito tempo contra o
estigma de que “todo político é ladrão”. Talvez por crer na definição
rousseauniana do bom selvagem. Pois até o estimado jornalista está
revendo seu conceito. Diz que a degradação do político é tanta que,
somada agora à Operação Navalha, fica difícil não ter preconceito
contra a categoria.
Tome-se outra coluna de Rossi, publicada em agosto de 2006, no rastro
de um assombroso caso de trambicagem pública denunciada em Rondônia.
Reproduzo: “Há um Honesto Desconhecido, doravante tratado por HD, à
solta por aí. Mais exatamente, em Rondônia. É o único dos 24 deputados
estaduais não acusado de trambiques. É tamanha a podridão no país
tropical que conseguiu violentar uma das regras fundadoras do
jornalismo. Jornalismo é, na essência, o relato da anomalia. Notícia é
avião que cai ou atrasa muito, não aviões que decolam e pousam mais ou
menos no horário, aliás a avassaladora maioria”. (Observe que este
artigo foi escrito antes do apagão aéreo que tomou conta do país).
Prossigo: “Em Rondônia, a avassaladora maioria dos deputados é
trambiqueira, mas, mesmo assim, os nomes dos 23 saíram no jornal. O da
anomalia, o honesto desconhecido, ficou no anonimato. Consta até que
está cadastrado no Ibama, como espécime ameaçada de extinção. Receberá,
quando seu nome for conhecido, pulseirinha com a inscrição ‘político
honesto 0001’”. (Consta que a empresa produtora da pulseirinha faliu
por falta de demanda).
Mais: “HD disfarça-se para freqüentar seu local de trabalho, a
Assembléia Legislativa. Um colega, outro dia, disse-lhe que não poderia
mais tratá-lo como ‘excelência’. Emendou: ‘Sua honestidade é uma
vergonha para a categoria’. HD pensa em pedir asilo. De cara, descartou
Brasília. Mas está difícil encontrar-se em qualquer ponto do Brasil. É
um aleijão. Agride a ‘normalidade’ da pátria.”
Para quem não leu, vale a reflexão. Para quem leu, fica o repeteco necessário.

Samurais
Tomado pelo capeta (ô novidade) o deputado Waldyr Pugliesi insinuou que
os peemedebistas viajantes Caíto Quintana e Nereu Moura andavam
invadindo terras improdutivas em seu reduto eleitoral. Pois vai levar o
troco. Quintana e Moura prometem tirar satisfações tão logo
desembarquem do “trem-bala da alegria”.

Cuméquié
Moura, aliás, quer mostrar que aprendeu um pouco de japonês na sua
passagem pela Ásia. Pelo telefone mandou um recado para Pugliesi. Vai
exigir que ele cometa um sashimi. Quer dizer, um harakiri. Ah, sei lá.

Viva a tecnologia
Ei Délcio Rasera, morra de inveja. Sacolas de fitas cassete, malas de
disquetes ou pacotes de CD. Tudo isso é coisa do passado. Jornais,
revistas e emissoras de rádio e TV estão recebendo agora os grampos de
“otoridades” em sofisticadíssimo pen-drive. É a tecnologia de ponta a
serviço da arapongagem.

Camaleão
Mutatis mutantis, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) acaba de
ser escolhido vice-líder do governo na Câmara. Nunca é demais lembrar,
até o ano passado Barros era um ferrenho crítico de Lula. O que mudou?
Ora, o vento.

Medalha, medalha
O vereador Jorge Bernardi (PDT) não conseguiu eleger Osmar Dias
governador do Paraná no ano passado e ficou sem a vaga no Senado. Mas
recentemente ganhou um prêmio de consolação do derrotado Dias: um “pin”
de senador. Que ele ostenta na lapela do paletó para impressionar os
eleitores.

Nem tanto
Novo blog na praça, o “Pratos Limpos” (plimpos.blogspot.com) achou de
fazer pilhéria com minha desgraça. Diz que meu “machismo” foi derrotado
pela Justiça ao impingir neste espaço propagandístico de membro (ops)
do Grupo Gay Dignidade por quatro semanas. Nem tudo é verdade. Digamos
que fiz uma concessão ao manual do hipócrita perfeito. Espero que o
“Pratos Limpos” nele não se inclua.

Translation
Com tanto estrangeiro presente no jogo de despedida de Paulo Rink na
Arena, alguém achou de traduzir o nome do goleiro do time de
convidados. “É Richard Dick”. Ou, para os íntimos, Ricardo Pinto.
Quaquaquá.

OBLADI-OBLADÁ
Atleticano de UTI, o deputado Waldyr Pugliesi (PMDB) conta história
hilária do tempo em que Antônio Lopes era o treinador da equipe. Lopes
costumava chegar aos treinos de chuteira e calção e fazer a corrida de
aquecimento ao lado dos jogadores. *** Na segunda volta no campo, um
repórter brincou: “Que forma hein, professor”. Lopes percorreu mais uns
20 metros e, com aquela voz característica, um tanto esganiçada,
devolveu: “Precisa ver eu f(*)”. Quaquaquá.

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