Sempre fui tiete do Ivan Lessa, – agora em prazer duplo na Playboy,
onde virou colunista – e de, basicamente, tudo (ou quase tudo) o que
ele escreveu. O conto “Garotos da Fuzarca” de livro homônimo editado
pela Companhia das Letras devia ter virado filme há muito tempo (ei
roteiristas da sétima arte tupiniquim), e há aforismos dele tão
incríveis que já ganharam o status de “adágio popular” do cancioneiro
populacho. O que me incomoda em Lessa, há sete décadas nesse mundão de
meu deus, é esse jeitão esnobe de ver o Brasil, assim, a uma distância
confortável.
Há 28 anos, Lessa foi para Londres e, a não ser em fugas nostálgicas ou
licenças poéticas, têm visitado pouco o país. Mas nem por isso furta-se
a deitar comentários a respeito da gentalha. Em entrevista à Folha de
S. Paulo, no fim de semana, a propósito do lançamento da Antologia 2 do
Pasquim – onde foi enfant terrible de rosa no rabo – eis que Lessa se
encheu de enfado tropical.
Ok, aqui tem Vavá, tem sim senhor. Aqui tem banana, tem sim senhor.
Aqui tem Pê Coelho, tem sim senhor. Mas é de doer esse papo que a
“grama do vizinho” é melhor. Um amigo escocês (e não é o uísque)
costuma dizer que a Europa é o paraíso da terra até você ir ao banheiro
para uma conversa com o Ary Barroso – se é que você me entende – e dar
de cara com o encanamento entupido, coisa corriqueira por lá.
E é isso que enche os balões. O ar débâcle e ressentido com que Lessa
encara a taba, como se não fosse ela a matéria-prima para tudo o que
produziu em 72 anos – inclusive o Barroso –, dá a impressão de que,
apesar do longo tempo cantando em outra freguesia, não se livrou da
craca. Ele continua umbilicalmente ligado ao Íbis do planeta. O que faz
agora é abastecer egos melequentos.
Lessa reclama de barriga cheia. Filho do escritor Orígenes Lessa girou
o mundo, bebeu e comeu do melhor (inclusive as empregadinhas). Na
entrevista publicada no sábado, contudo, se põe a driblar as perguntas
como se fôra atacante do Madureira (fiz que fui, não fui, acabei
fondo). É chover no molhado. E chato como o mundo que vos cerca.
Livre associação, me recuerda artigo garatujado esses dias por Ruy
Castro, em que ele, de “stent” novo”, apanhou-se no receituário de
palmilhar uma hora por dia no calçadão de Copacabana e constatar (olha
que zen!) que ele não era o único. Isso é que é minimalismo. Para essa
turma do pasca, e isso dói (no peito, sim senhor), o brasilzinho foi e
continua sendo uma foto rolleyflex do cantinho, do banquinho, do
violãozinho e daquela letrinha composta no jardinzinho da infância: “O
pato vinha cantando alegremente, quém quém…”
Esclareça-se
Do nada a lugar nenhum, a reportagem da “IstoÉ” desta semana sobre o
caso dos Caron traz pelo menos um viés cômico: a informação de que o
ex-secretário do governo Requião, Luiz Caron, ocupava o cargo de
assessor especial de obras (e não é do verbo “obrar”). Quaquaquá.
Falando nisso
Incrível a proeza da “IstoÉ” de enxergar uma ação política da PF para
incriminar o irmão menos famoso de Lula, Vavá. Nada não, do mesmo nicho
de reportagem saiu o grampo “passional” do casal Renan-Mônica.
DNA
Do colunista Jânio de Freitas, na Folha: “Mesmo com toda a onda feita a
propósito de Genival Inácio da Silva (o Vavá), a Polícia Federal diz
que esse irmão de Lula até recebia uns trocados, mas não cumpria as
promessas feitas. Ah, explicam-me, então não é crime: é genético”.
Sai azar
As investigações da PF vêm colocando os nomes de lideres e gurus
orientais na berlinda. Depois da Operação Navalha, que revelou a
picareta Gautama – segundo nome de Buda – eis que surge um tal de Gandi
Jamil envolvido na Operação Xeque-Mate. Haja incenso.
Tá na frente
Preta Gil não tem do que se envergonhar. Diz que lê um livro por ano. No máximo. Ô Preta, o Lula nem isso.
ARREMATE
Triste Brasil que já foi República de Alagoas e do Pão de Queijo e agora é a dos Compadres. Em todos os casos deu em compadrio.
OBLADI-OBLADÁ
Deu no Zé Simão.
Cartilha do Lula: “Estouro: boi que foi para a Parada Gay. Quaquaquá”.
*** Bestial a conclusão do presidente de que a corrupção no Brasil só
aparece porque há investigação. Pelo mesmo raciocínio, lembrou Clóvis
Rossi, ora, pois, pois, petróleo só brotaria com prospecção.