As habilidades comportamentais e emocionais, mais conhecidas como ‘soft skills’ estão ganhando cada vez mais relevância dentro de um processo de recrutamento e seleção. As empresas não analisam mais apenas os recursos técnicos, as chamadas hard skills, mas também as competências mais subjetivas que precisam em seus colaboradores. “Mas, apesar de saber e de conseguir desenhar um perfil alinhado com as demandas da vaga, os recrutadores têm poucos parâmetros capazes de avaliar e identificar essas competências nos profissionais”, afirma Marcelo Olivieri, headhunter da Trend Recruiment.
O LinkedIn, rede social para recolocação profissional, realizou uma pesquisa com 5 mil profissionais da área de talentos em 35 países, sendo o Brasil um deles. Nesse levantamento, 80% dos entrevistados consideram as soft skills importantes para o sucesso profissional. Fazendo um recorte para os profissionais brasileiros, esse número sobe para 95%. No entanto, na hora de recrutar, 57% dos headhunters admitem ter dificuldades para avaliar essas características, enquanto apenas 41% diz ter processos formais e estruturados para identificar habilidades comportamentais.
Para Olivieri, o grande desafio dos recrutadores é conseguir reconhecer as soft skills e apresentar para a empresa um perfil de profissional que esteja alinhado tanto em relação aos requisitos comportamentais quanto nos técnicos. Para avaliar as hard skills, o recrutador se atenta a questões como a formação e a experiência profissional. “Já para as soft, a questão é bem mais subjetiva. Decifrar comportamentos e intenções não depende de uma ciência exata. Não é matemática”, diz.
O executivo argumenta que muitas pessoas acreditam que o processo de recrutamento, a entrevista com candidatos e a percepção das competências se baseiam apenas no feeling do recrutador. O que pera ele é um equívoco. “O processo seletivo se baseia em técnica e processos formais – inclusive em entrevistas que são conduzidas de maneira informal e amigável”, diz. Ele ressalta que o feeling e a experiência do recrutador são sim muito importantes, mas é mais decisiva a forma como fazem determinadas perguntas do que a capacidade analítica dos candidatos para as respostas.
Uma maneira de fazer o candidato se soltar e revelar mais sobre seu comportamento e características emocionais é conduzir a entrevista como um bate papo, onde o recrutador faz perguntas mais profundas sobre as decisões que o profissional já teve que tomar, projetos que realizou, desafios que enfrentou, conquistas e fracassos que obteve entre outros.
“Uma das técnicas mais perspicazes em entrevistas é fazer perguntas cruzadas e, a partir daí, começar a conhecer verdadeiramente o profissional. Prestar atenção em como essa pessoa reúne as informações, em como constrói a história que está contando, como ela ressignifica os erros, como lida ou já lidou com situações adversas também são formas de colher dados importantes sobre as soft skills”, analisa.
O executivo aponta ainda a avaliação da linguagem corporal também como crucial. “ Ela pode negar ou afirmar aquilo que as palavras estão dizendo, uma vez que o corpo também fala”, diz. Para Olivieri não é preciso ser um exímio especialista. “Basta prestar atenção na postura, na energia da fala, em como a pessoa trata as pessoas que a recebem, no interesse que demonstra na conversa e até no aperto de mão que ela dá. Tudo isso dão indícios da conduta e dos valores pessoais”, revela.
Para Olivieri, um grande obstáculo nesse processo é que as pessoas têm pouca ou nenhuma noção de quais são suas maiores habilidades comportamentais. “O autoconhecimento está ganhando relevância, mas a verdade é que a maioria dos profissionais ainda dão pouca importância para desenvolver essa análise e percepção sobre si mesmos. Quando nem a pessoa tem consciência de quais são seus pontos fortes e seus pontos de melhoria, fica difícil para o recrutador colher essas informações”, diz.
“O fato é que cada vez mais as competências comportamentais ganham relevância. Em um mundo onde a inteligência artificial vai superar nossa capacidade técnica, desenvolver e saber reconhecer nossas habilidades é não só importante, mas sim muito urgente, uma vez que serão elas as maiores responsáveis por garantir nossa empregabilidade”, conclui.
Fique atento na entrevista
- Braços cruzados – Essa atitude revela descontentamento e falta de conexão com o outro. Em outras palavras, fecha o canal de comunicação entre você e o recrutador – e isso vale também para pernas e mãos.
- Segurar bolsa ou caneta – Qualquer objeto que você estiver segurando durante a entrevista estará servindo como um “amuleto da sorte”, o que, para o selecionador, irá demonstrar insegurança.
- Olhar para baixo – Não olhar nos olhos do entrevistador é o erro mais freqüente dos candidatos. Deixar de encará-lo pode revelar medo e falta de confiança.
- Sentar-se na beirada da cadeira – Indica desconforto e vontade de ir embora o mais rápido possível. Não é a impressão que você deseja passar para o empregador, certo?
- Mexer braços e pernas em demasia – É uma resposta natural do corpo quando se está nervoso e ansioso. Evite, também, “tiques” e “cacuetes”, como passar a mão a toda hora no cabelo. Por outro lado, ficar totalmente estático não é a melhor opção. Você é um produto que tem vida.
- Sente-se no encosto da cadeira e incline-se um pouco para frente – Você se sentirá automaticamente mais seguro e relaxado. Inclinar-se para frente irá demonstrar ao selecionador uma atitude positiva com o momento
- Repouse os braços no apoio da cadeira – Isso evitará que você cometa os erros descritos acima. Se a cadeira não possuir apoio, é só pousar as mãos sobre as pernas – sem cruzar os braços, claro.
- Olhe nos olhos do entrevistador – Ao encará-lo de frente, você transmitirá confiança e criará empatia. Outra dica é movimentar a cabeça e a sobrancelha de forma a mostrar que você está entusiasmado com a conversa.
- Sintonia de movimentos – Procure sincronizar seus gestos e movimentos com os do selecionador – esta técnica, denominada “rapport”, ajuda a criar maior sinergia e envolvimento com o outro.