O sistema financeiro fechou 1.864 postos de trabalho nos dois primeiros meses de 2014. Enquanto bancos privados lideraram cortes, a Caixa EconĂ´mica Federal abriu 826 vagas no mesmo perĂodo, o que impactou positivamente. A reduĂ§Ă£o de empregos nos bancos contraria o movimento da economia do paĂs, que gerou 302.190 postos de trabalho em janeiro e fevereiro. Os dados constam na Pesquisa de Emprego BancĂ¡rio (PEB) divulgada nesta terça-feira (25) pela ConfederaĂ§Ă£o Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), que faz o estudo em parceria com o Dieese, com base nos nĂºmeros do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do MinistĂ©rio do Trabalho e Emprego ( MTE).
Segundo o estudo, os bancos brasileiros contrataram 5.124 funcionĂ¡rios no primeiro bimestre do ano e desligaram 6.988. Um total de 18 estados apresentaram saldos negativos de emprego. Os maiores cortes ocorreram em SĂ£o Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, com 715, 262 e 222 vagas, respectivamente. O ParanĂ¡ Ă© o quinto com maior corte de vagas, 109 pessoas foram demitidas.
“Os bancos brasileiros, principalmente os privados, mesmo acumulando lucros bilionĂ¡rios, continuaram reduzindo postos de trabalho neste inĂcio do ano, a exemplo dos Ăºltimos meses de 2013, o que nĂ£o se justifica. Somando-se o lucro dos cinco bancos que jĂ¡ divulgaram os seus balanços (BB, ItaĂº, Bradesco, Santander e HSBC) chega-se a R$ 50 bilhões. Desta forma, eles andam na contramĂ£o da economia brasileira, pr ejudicam o emprego dos bancĂ¡rios e nĂ£o contribuem para o crescimento com distribuiĂ§Ă£o de renda”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
A pesquisa revela que as mulheres, ainda que representem metade da categoria, continuam sendo discriminadas pelos bancos na sua remuneraĂ§Ă£o, ganhando menos do que os homens nĂ£o somente na contrataĂ§Ă£o como tambĂ©m no desligamento.
Enquanto a mĂ©dia dos salĂ¡rios dos homens na admissĂ£o foi de R$ 3.678,54 nos dois primeiros meses do ano, a remuneraĂ§Ă£o das mulheres ficou em R$ 2.765,15, valor que representa 75,2% da remuneraĂ§Ă£o de contrataĂ§Ă£o dos homens.
JĂ¡ a mĂ©dia dos salĂ¡rios dos homens no desligamento foi de R$ 6.212,84, enquanto a remuneraĂ§Ă£o das mulheres foi de R$ 4.543,54. Isso significa que o salĂ¡rio mĂ©dio das mulheres no desligamento equivale a 73,1% da remuneraĂ§Ă£o dos homens.
Essa discriminaĂ§Ă£o reforça ainda mais a luta da categoria por igualdade de oportunidades na contrataĂ§Ă£o, na remuneraĂ§Ă£o e na ascensĂ£o profissional, destaca Cordeiro.
A pesquisa mostra tambĂ©m que o salĂ¡rio mĂ©dio dos admitidos pelos bancos no pr imeiro bimestre do ano foi de R$ 3.229,33 contra o salĂ¡rio mĂ©dio de R$ 5.407,33 dos desligados. Assim, os trabalhadores que entraram no sistema financeiro recebem valor mĂ©dio equivalente a 59,7% da remuneraĂ§Ă£o dos que saĂram.Â
A rotatividade no sistemafinanceiro contrasta fortemente com a do conjunto da economia brasileira, para a qual a remuneraĂ§Ă£o mĂ©dia dos trabalhadores desligados no perĂodo correspondeu a 94% da recebida pelos admitidos.
“Infelizmente, os bancos privados continuam praticando rotatividade, esse instrumento perverso usado para reduzir a massa salarial e turbinar ainda mais os lucros”, critica o presidente da Contraf-CUT. “Nos Ăºltimos dez anos, os bancĂ¡rios conquistaram aumentos reais consecutivos, mas esses ganhos foram corroĂdos pela rotatividade, reduzindo o crescimento da renda da categoria, denuncia.
Para Cordeiro, “os nĂºmeros da pesquisa fortalecem ainda mais a determinaĂ§Ă£o dos bancĂ¡rios de ampliar a luta contra as demissões e pelo fim da rotatividade, por mais contratações e contra o PL 4330 da terceirizaĂ§Ă£o, como forma de proteger e ampliar o emprego da categoria e da classe trabalhadora.
Maior concentraĂ§Ă£o de renda nos bancos
A pesquisa reforça ainda a luta dos bancĂ¡rios por distribuiĂ§Ă£o de renda. Enquanto no Brasil, os 10% mais ricos no paĂs, segundo estudo do Dieese com base no Censo de 2010, tĂªm renda mĂ©dia mensal 39 vezes maior que a dos 10% mais pobres, no sistema financeiro a concentraĂ§Ă£o de renda Ă© ainda maior.
No ItaĂº, cada diretor recebeu, em mĂ©dia, R$ 9,05 milhões em 2012, o que representa 191,8 vezes o que ganhou o bancĂ¡rio do piso salarial. No Santander, cada diretor embolsou, em mĂ©dia, R$ 5,62 milhões no mesmo perĂodo, o que significa 119,2 vezes o salĂ¡rio do caixa. E no Bradesco, que pagou, em mĂ©dia, R$ 5 milhões no ano para cada diretor, a diferença para o salĂ¡rio do caixa foi de 106 vezes.
Desta forma, para ganhar a remuneraĂ§Ă£o mensal de um executivo, o caixa do ItaĂº tem que trabalhar 16 anos, o caixa do Santander 10 anos e o do Bradesco 9 anos.
“Essa diferença que separa os ganhos dos altos executivos e os salĂ¡rios dos banc&aacu te;rios atenta contra a justiça social e contribui para a vergonhosa posiĂ§Ă£o do Brasil entre os 10 paĂses mais desiguais do mundo”, conclui o presidente da Contraf-CUT.