AL: quatro eleições e seus dilemas

Bem Paraná

O ciclo eleitoral deste 2009 se completa na América Latina com pleitos no Uruguai, Honduras, Bolívia e Chile, todos sem vencedores definidos, numa espécie de coquetel de entrada para os enfrentamentos mais aguardados que ficam para o ano que vem na Colômbia, no Brasil e no grande teste para a administração Obama que será a renovação do Legislativo norte-americano quase em meio de seu mandato. Os uruguaios terão um 1º turno em 25 de outubro e possivelmente um 2º em 29 de novembro, este coincidindo com a data das esperadas eleições hondurenhas. A Frente Ampla, há oito anos no poder com Tabaré Vasquez, joga um tudo ou nada lançando o ex-guerrilheiro tupamaro José Mujica como candidato. Figura folclórica com sua lambreta cruzando as ruas de Montevidéu, o velho militante de 74 anos quer instalar uma Comissão da Verdade para julgar crimes do período da ditadura de 1973 a 1985, o que depende da Justiça derrubar a Lei da Caducidade que protege os agentes da repressão. Para compensar, terá como vice o ex-Ministro da Economia Danilo Astori que sonha fazer um acordo comercial com os EUA, sem as amarras do Mercosul. A dupla tem 43% das intenções de voto, mas corre o risco de perder num segundo turno para o ex-presidente Luis Lacalle do Partido Nacional (34%) que em tal caso teria o apoio dos Colorados que hoje, com Pedro Bordaberry, outra família tradicional cisplatina, detém 12% das preferências do eleitorado e podem ser o fiel da balança. A plataforma de Lacalle prioriza a redução de impostos e a crítica área da segurança pública.
Em Honduras a escolha do novo presidente está marcada para a data prevista no calendário eleitoral, justos quatro anos após a última eleição vencida por Manuel Zelaya que foi removido do governo em junho por uma decisão (sem reconhecimento internacional) da Justiça e do Congresso. O costa-riquenho e mediador Oscar Arias reconhece que a realização do pleito dia 29 de novembro, como previsto pela Constituição do país, poderá ser a solução para os impasses atuais. São 2.897 cargos eletivos em disputa para o período 2010-2014, pois além do presidente estarão em aberto 128 cadeiras de deputados, 20 de representantes junto ao Parlamento Centro-Americano e quase trezentos cargos de prefeitos, além dos vereadores. Há seis candidatos, mas só dois com chances. De um lado, o engenheiro Elvin Santos (do Grupo Santos, empresa familiar de construção civil, com diversos contratos de obras com o governo, o que tem gerado acusações de protecionismo) do Partido Liberal, pelo qual foi vice-presidente de Zelaya até dezembro último quando renunciou para poder candidatar-se. Do outro lado, Pepe (José Porfírio) Lobo do Partido Conservador que tenta de novo após ter sido derrotado em 2005. Corre por fora, sem condições de vitória, o “pinuista” (pertence ao PINU, Partido Inovação e Unidade) Bernard Martínez.
Dia 6 de dezembro é a vez da Bolívia, onde qualquer discussão política parece anunciar uma guerra civil. Evo Morales e García Linera do MAS tentarão a reeleição, possível graças à mudança constitucional feita no começo do ano. Nada garante um pleito tranqüilo. Num país no qual à exceção do presidente todos os demais são “ex-alguma coisa”, a oposição luta para superar a própria desorganização, estando próxima de uma fórmula única agora que o ex-Prefecto (equivale a governador) de Cochabamba, Manfred Reyes Villa consolidou sua candidatura após escolher, numa jogada de alta tensão e talvez decisiva, ao ex-Prefecto de Pando, Leopoldo Fernández, como vice. Fernández foi acusado pelo MAS pelas 15 mortes nos conflitos de El Porvenir de setembro do ano passado e, embora sem julgamento nem investigação do caso, segue preso na penitenciária San Pedro, na capital. Seis outros pré-candidatos, incluindo o forte Victor Hugo Cárdenas, o ex-presidente Jorge Quiroga e Germán Antelo do MNR, acabam de desistir para apoiar Villa. Restam na disputa os tradicionais políticos de centro-direita Samuel Doria Medina e René Joaquino, mas a tendência é a polarização entre Evo e Villa, cuja base está nos estados da meia-lua (Santa Cruz, Tarija, Pando, Beni), em Cochabamba e em parte dos eleitores do altiplano graças ao engajamento na campanha de José Luis Paredes, ex-Alcalde de El Alto e ex-Prefecto de La Paz. O governo já avisou que Fernández não pode fazer campanha desde o cárcere.
O Chile encerra o ano em 11 de dezembro com uma disputa acirrada entre o milionário oposicionista Sebastián Piñera, favorito para 37% dos eleitores, e Eduardo Frei (28%) da situacionista Concertación. Um fenômeno novo na política chilena é o galã e diretor de cinema e TV Marco Enríquez-Ominami, de família japonesa com muita tradição política no país, que já tem 17% das preferências segundo a última pesquisa do Centro de Estudos Públicos. Com socialistas ou conservadores, o Chile deve manter inalteradas suas bases econômicas de primeiro mundo.              


 


Vitor Gomes Pinto
Escritor, analista internacional