Nem todos os países latino-americanos vivem crises permanentes. No momento, cinco deles estão na berlinda: Bolívia, Equador, Venezuela, Paraguai e Haiti. Há outros, como Chile, Peru, Uruguai, que andam tranqüilos. Nos demais, alternam-se períodos de ventos alísios e de furacões. A situação mais crítica continua sendo a do Haiti, onde as forças de paz brasileiras têm de trabalhar duro para conter as multidões de desesperados que não podem pagar os novos preços de gêneros de primeira necessidade e também os arruaceiros que aproveitam para uma vez mais saquear o que encontram pela frente.
O MAS (Movimiento Al Socialismo) e Evo Morales têm cada vez maiores dificuldades para manter a ordem na Bolívia. O feitiço virou contra o feiticeiro e os bloqueios de ruas e estradas que eram marca registrada do MAS, levando-o ao poder, agora são armas brandidas por todos contra todos. Camponeses do Sindicato Agrário da localidade de Parotani, com estilingues, pedras e porretes atacam caminhoneiros que querem derrubar a proibição de exportar o óleo de girassol e soja que produzem e há 25 dias bloqueiam as vias entre Cochabamba, Oruro e La Paz. No município de Cuevo, índios guaranis impedem a entrada de fiscais do governo porque temem que outros índios tomem suas terras. Moradores de Sucre deram um ultimatum a Evo para que despeça o prefeito e exigem que peça perdão à cidade antes de lá voltar. O Referendo para aprovar a nova Constituição não mais será realizado dia 4 de maio devido à hipótese de derrota. Três milhões de trabalhadores (75% do total) protestam porque não têm direito a aposentadoria. Todos concordam que hoje o governo não tem credibilidade sequer para organizar um diálogo. A oposição redescobriu sua força e Evo, ao não conseguir governar, resolveu concordar com uma mediação da Igreja Católica.
No Equador, país acostumado a derrubar presidentes, o vice-ministro da Defesa teve de declarar que está descartada uma sublevação militar contra Rafael Correa, depois dele declarar que a cúpula castrense estava infiltrada por agentes da CIA e demitir o ministro, ao que se seguiram os pedidos de demissão dos comandantes do Exército, da Aeronáutica e do Comando Militar Conjunto. Correa é acusado de ter recebido dinheiro das Farc para sua campanha.
Enquanto isso, a crise do desabastecimento de alimentos se aprofunda na Venezuela e chega aos restaurantes populares que não conseguem comprar massas, arroz, leite, açúcar, óleo, margarina, carne e frango. Ovos e grãos só são encontrados na última semana de cada mês. Falta até farinha de milho para a arepa, o mais tradicional componente da dieta popular. No país do petróleo, taxistas fazem filas imensas e enfrentam a polícia que protege os postos de gasolina em Táchira, estado governado pelo pai de Hugo Chávez, devido à proibição de comprar mais de 3 bolívares fortes, cerca de 2,40 reais, de gasolina. Na 6ª. feira, para lembrar as vítimas do 11 de abril de 2002 quando 19 morreram fuzilados pela polícia nos protestos contra o governo, manifestantes marcharam em pelo menos dez países com cartazes de “No más Chávez”. O presidente, surdo aos protestos, segue viajando ou discursando incansavelmente.
No Paraguai o problema são as eleições do domingo 20 de abril. Após seis décadas no poder o Partido Colorado pode perder, pois sua candidata, a ex-Ministra da Educação Blanca Ovelar, permanece com cerca de 27% das intenções de voto, atrás do ex-bispo Fernando Lugo, figura controversa, que tem 37%. Seu pedido de abandonar a batina não foi aceito pelo Vaticano que o suspendeu “a divinis”, proibindo-o de exercer funções clericais e de ser candidato, mas a igreja paraguaia não sabe o que fazer e está dividida. É acusado de encobrir seqüestros, ter pelo menos uma filha, apoiar as Farc, não ter ideologia clara. O governo de Nicanor Duarte acusa-o de ter a campanha financiada por Hugo Chávez e pelo governador do Paraná, Roberto Requião. Pelo visto os paraguaios, cansados dos colorados, caso não se arrependam à última hora preferirão dar um salto no escuro, rezando para que o ex-bispo redima o país de seus pecados.