Neste primeiro domingo de outubro começou um ciclo eleitoral que ao longo do restante trimestre, em plena primavera, envolverá algumas das maiores nações do mundo ao lado de outras que, embora minúsculas, exercem relevantes papeis estratégicos. A ordem internacional não sofrerá alterações profundas, mas certamente correções de rumo serão exigidas em função dos núcleos de poder que se instalarão em 2013. Entre grandes e pequenos, a onda eleitoral abrange, além do Brasil e da Venezuela que iniciaram as refregas, países como a Ucrânia, os Estados Unidos, o Nepal, a Coréia do Sul e a China.
O primeiro impulso já foi dado na Geórgia, onde o regime pró-ocidental de Mickeil Saakashvili perdeu as eleições parlamentares para o bilionário Bidzina Ivanishvili (fortuna de 4 bilhões de euros segundo a Forbes) que, sendo o próximo primeiro-ministro, de imediato pediu a renúncia do presidente embora tenha um ano de mandato pela frente. A Geórgia ocupa uma posição chave entre o ocidente e o oriente graças às suas fronteiras com Rússia, Armênia e Turquia. Independente desde 1992, submeteu-se por onze anos ao governo corrupto do ex-primeiro ministro soviético Edward Shevardnadze, num período em que o crime e a pobreza cresceram assustadoramente. Putin nunca aceitou Saakashvili (ele priorizou o ensino do idioma inglês nas escolas e importou gás do Azerbaijão para livrar-se do domínio da estatal russa Gazpron)  e invadiu o país em 2008. Forçado pela pressão internacional a retirar-se, manteve o domínio das duas principais províncias georgianas, a Abkhasia e a Ossétia do Sul que tiveram suas independências unilateralmente declaradas.
A Ucrânia é outro país forçado a voltar à órbita de Moscou desde a contestada eleição do presidente Viktor Yanukowitch em 2010 e a prisão de sua principal opositora, a ex-primeira ministra Yulia Tymoschenko, politicamente condenada a sete anos de prisão. As eleições parlamentares estão marcadas para 28 de outubro e Yulia, da cadeia, denuncia o regime como uma ditadura que sobrevive com o apoio de Putin.
Ainda que tenha perdido o primeiro debate pela TV, Barack Obama mantém uma vantagem que parece decisiva sobre o republicano Mitt Romney, impedindo, ao menos nos próximos quatro anos, que os Estados Unidos retroajam ao ultraconservador domínio republicano.
No outro lado do mundo o minúsculo Nepal (32 milhões de habitantes, 1/10 da população dos EUA) votará para eleger uma nova Assembleia Constituinte em 22 de novembro. Desde a deposição do rei Gyanendra quatro anos atrás, o poder ficou nas mãos do Partido Comunista de tendência maoista que não foi capaz de aprovar a nova carta magna do país. Agora deve disputar a liderança com o Partido Comunista Unificado que se considera o legítimo depositário da fé marxista-leninista, com o partido do Congresso e com a Frente Madhesi, oposicionista. Ocupando uma posição geográfica crítica, entre o Tibete chinês e a Índia, os políticos e revolucionários nepaleses discutem a divisão do país em doze (é o número de etnias predominantes no país) ou quatorze províncias, mantendo um instável equilíbrio que não deve evitar o reatamento do conflito armado sob inspiração dos maoistas.
A Coréia do Sul escolherá novo presidente em dezembro. Nem Park Geunhye, a filha de Park Chung-hee (presidente de 1963 a 1979), pela situação, nem o independente Ahn Cheol-soo, o professor que comanda a poderosa rede de laboratórios Lab.Ahn, devem alterar as bases da economia nacional que elevaram o país à condição de um dos principais sustentáculos do capitalismo moderno.
O 18º Congresso do Partido Comunista da China, um processo que se estenderá até fevereiro do próximo ano, mudará quase tudo no primeiro escalão governamental devido às restrições que condicionam o pleito: mandato máximo de duas gestões ou dez anos e idade limite de 65 anos (ou 67 no caso do Comitê Central). Quatorze dos vinte e cinco membros do politburo que governa a China terão de sair em função da idade, o que inclui o presidente Hu JIntao e o 1º Ministro Wen Jiabao. Um Xi e dois Lis são os mais prováveis substitutos: Xi Jinping (presidente), Li Kekiang (1º Ministro) e Li Yuanchao (Secretário Geral do PC), são os prováveis escolhidos por critérios que privilegiam a classificação hierárquica, a consanguinidade (o pai de Xi foi vice premier) e a quem pertence à elite nacional.
A gradativa perda de relevância do Partido dos Trabalhadores no Brasil em função do desgaste causado por dez anos no poder e dos devastadores efeitos das denúncias de corrupção no governo Lula comprovadas pelo julgamento do Mensalão, assim como as crescentes dificuldades encontradas por Hugo Chávez em conservar o poder absoluto na Venezuela, apesar da derrota imposta a Capriles, devem contribuir para a atualização política da América Latina, superando pouco a pouco o longo período de refluxo ao domínio dos caudilhos. 

Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional