A crise econômica internacional, a mais séria desde 1929, realmente não
está perdoando ninguém. Nem os mais ricos do planeta escapam e talvez
François Pinault, para compensar os prejuízos, seja obrigado a vender a
Château Latur no Médoc francês.
A revista nova-iorquina Forbes acaba de divulgar sua lista de
bilionários, descobrindo que só restaram 793, ou 332 a menos em relação
ao ano anterior. Em conjunto, eles perderam 2 trilhões de dólares em
2008, mas ainda restaram US$ 2,4 trilhões. Em média cada um tem nos
bolsos ou em ativos U$ 3 bilhões, sendo liderados pelo magnata das
telecomunicações Bill Gates (U$ 40 bi), pelo filantropo da indústria
têxtil Warren Buffett (U$ 37 bi ganhos, em parte, especulando com a
valorização do real) e pelo mexicano Carlos Slim Helú que no Brasil é
dono da Claro e da Embratel (U$ 35 bi). O grupo, sempre orgulhoso de
figurar na lista anual do afamado magazine, desta feita reclama da
companhia do megatraficante El Chapo (O Breve, Calado) Joaquín Guzmán,
líder mexicano do Cartel de Sinaloa que já acumulou seu primeiro bilhão
graças à cocaína colombiana.
O número de brasileiros caiu de 22 para 13 e os mais ricos continuam
sendo Elke Batista (U$ 7,5 bi), Joseph Safra e Jorge Paulo Lemann da
Ambev. Entre os que desta vez ficaram de fora estão os quatro
Constantinos da GOL Linhas Aéreas.
Pelo menos sete bilionários devem aos vinhos parte de suas fortunas. O
francês Bernard Arnault (60 anos – 16,5 bi e 15º no ranking), um dos
donos da rede Carrefour e da grife Christian Dior, uniu-se ao belga
Albert Frère ((U$ 2,4 bi em 285º lugar) para adquirir em 1966 o Château
D’Yquem de Sauternes que na célebre classificação oficial dos vinhos de
Bordeaux de 1855 foi o único a receber a denominação máxima de Premier
Cru Supérieur. A dupla ainda adquiriu o extraodinário Château Cheval
Blanc que no recente filme Sideways era (safra de 1961) a jóia da coroa
da adega pessoal de Myles Raymond, o enófilo que só criticava as uvas
merlot e cabernet franc, exatamente as componentes deste vinho.
Os irmãos Alain e Gerard Wertheimer (U$ 8 bi – 55º posto), donos da
Chanel, entraram para o ramo vinícola na segunda metade dos anos
noventa quando adquiriram a Rauzan-Segla em Margaux e o Château Canon
em Saint Emilion. Enquanto isso, em 1993, o 60º da lista da Forbes,
François Pinault (70 anos e U$ 7,2 bi), dono da Gucci, Saint-Laurent,
Puma e até da casa de leilões Christie’s, ia à região do Medoc para
comprar por 150 milhões de dólares o Château Latour cuja história vem
do século XIV. Uma caixa de doze garrafas da safra de 1961 foi vendida
pelo preço recorde de U$ 170 mil num leilão realizado em Hong Kong
pouco antes do último Natal. Agora, apesar dos desmentidos, uma onda de
boatos dá conta da possível venda da Latour por parte de Pinault que
perdeu mais da metade da sua fortuna no ano passado. O preço pedido
seria de 270 milhões de dólares, 80% superior ao da aquisição, tendo
como provável comprador a Bernard Magrez (dono do Château Latour) em
sociedade com o astro do cinema francês Gerard Dépardieu.
Em Geyserville, Califórnia, vive Jess Jackson (U$ 1,8 bi – 397º lugar),
um dos mais destacados fabricantes de vinho do vale de Sonoma onde, sob
a marca Kendall-Jackson, vende a preços populares grandes volumes de
cabernet-sauvignons, syrahs e chardonnays de prestígio no mercado
norte-americano. Por último há o maior produtor de prosecco do mundo, o
italiano Mario Moretti Polegato (U$ 1,5 bi – em 468º, mesma posição do
brasileiro Abílio Diniz da rede Pão de Açúcar) com a Villa Sandi, cuja
sede no Veneto italiano é uma construção de quase quatro séculos que
chama a atenção pelas imponentes quatro colunas romanas na entrada. A
empresa hoje é dirigida pelo filho, pois Polegato se dedica à indústria
calçadista. Sua grife Geox, já atuando no Brasil, produz sapatos com um
inovador sistema de refrigeração junto ao solado que tem conseguido
aumentar os lucros em 35% ao ano. São dele dois dos maiores ícones da
viticultura italiana, o Chianti e o Montelpuciano D’Abruzzo, mas o
grande sucesso de vendas é o Prosecco Dolce Sandi feito com a uva
moscato que lhe dá doçura e costuma agradar ao delicado paladar
feminino.
De acordo com recente publicação do New York Times citando o Índice
Liv-ex de Vinhos Finos, os consumidores estão preferindo ofertas mais
baratas, mas comprando mais garrafas. Já os fundos especializados em
vinhos de alta qualidade afirmam que sofreram um desgaste bem menor que
os demais investimentos alternativos de risco no último semestre de
2008 e que agora estão maduros para retomar os rendimentos positivos
que os caracterizaram nos dois anos anteriores. Para o comum dos
mortais, como nós todos, estes são bons tempos para valorizar os vinhos
da casa.